terça-feira, 29 de março de 2022

 


                                                     DO TRABALHO

 

S. LUÍS - MA


A modernidade adota o trabalho como arma contra a pobreza, pondo fim ao desprezo pelos ofícios, consoante a ética protestante. As mulheres por longo tempo desvalorizadas em seu trabalho doméstico, como donas de casa e dedicadas à atividades consideradas inferiores. Na realidade, em seu trabalho no lar transmitiam dignidade pessoal, em especial, por sua especial dedicação à família. O valor moral do trabalho dessas pessoas de todo abnegadas, que ainda angariavam recursos em trabalhos realizados em casa, como doceiras, costureiras, e etc.

ethos do trabalho que valoriza a pessoa, e as mulheres saíram em massa para trabalhar fora, consoante determina a sociedade moderna. Sair de casa torna-se questão de honra para as mulheres, que hoje competem com os homens no mercado valorizado do trabalho, dito masculino. Certo que o bom trabalho é aquele que promove, que faz a pessoa se sentir valorizada, pelo trabalho bem feito, pela boa remuneração. 


domingo, 27 de março de 2022

 


                                                  A FAXINA



S. Luís - Ma.



 Arrumar a casa é a melhor forma de adaptar o físico para o dia que começa, estar preparado. Segundo o monge Keisuke Matsumoto a tarefa da faxina beneficia não apenas o físico, mas o espírito, algumas dicas do seu livro Manual de Limpeza:

1-Não deixe a casa desarrumada antes de ir para a cama, guardar as coisas em seus lugares é um bom exercício para antes de dormir. Tudo feito sem estresse.

2 - Começar a faxina cedo, nas primeiras horas da manhã.

3-Ter as janelas abertas para o ar entrar com vontade enquanto trabalha na limpeza e arrumação da casa. O ar precisa circular.

4- A mulher deve solicitar ajuda, a depender de cada pessoa.

4- Tirar o pó e passar o pano úmido em tudo.  

E mais:

5- Não acumular objetos

6 - Desfazer-se de imediato das coisas quebradas ou que perderam a utilidade.

7- Mudar os travesseiros a cada ano, no mínimo.

8- Trocar a roupa de cama toda semana

9 - Mudar as toalhas de banho de três em três dias.

10- Evitar o mofo, manter os cômodos ventilados e secos. A umidade é prejudicial, ainda mais para a pessoa alérgica.


sábado, 19 de março de 2022

 


                              COMER E VIVER

 

Chuva em S. Luís - Ma.



Minha avó Carmem costumava dizer aos glutões de plantão que o certo era “comer para viver” e não “viver para comer”. Matriarca da  tradição além-mar, seu pai vindo do Porto para o Brasil como investidor, casou e estabeleceu-se em S. Luís. Morreu ainda moço. A capital maranhense fundada pelos franceses, cuja influência cultural foi preponderante em boa parte do mundo civilizado, indo do século IX até meados do século XX. A culinária maranhense é produto de três etnias: a branca, dos conquistadores portugueses, a indígena, dos primeiros habitantes do continente americano, e a dos negras vindos da África.

Tradição lusitana é comer por necessidade vital, não por prazer, a boa mesa restrita a poucos. Em geral come-se bem em S. Luís, inclusive, porque a população tem o mar a oferecer variedades de peixe e o camarão. Prato a ressaltar é o filé de pescada acompanhado do vatapá de camarão. Lendas enriquecem a culinária maranhense, e tem o prato de língua, inspirada na lenda do Boi. A morte de um Boi muito especial, que lhe tiraram a língua para satisfazer o desejo da dona da fazenda, mas que retorna à vida. As representações do Bumba-Meu-Boi, como festejo popular no Maranhão, propiciou a um chef maranhense criar o prato de língua de boi à milanesa acompanhada com o tradicionalíssimo arroz de cuchá, que ganhou prêmio nacional.    

Anda-se pelo mundo para conhecer o que há lá fora de bom e belo, e se possível comer bem. Depende das finanças, o dinheiro estrangeiro mais valorizado que o real brasileiro, a libra sempre nas alturas. Restaurantes caros nem pensar, os turistas s ccontarem com as famosas comidas de rua. E tem os deliciosas creps em Paris e o fish and chips  em Londres.  Cada país com sua especial culinária. Falam os entendidos que os ingleses não tratam a comida como prioridade, como nos demais nações. Franceses, espanhóis, italianos, com sua paixão por comida. 

Estou feliz com o sucesso da paella que fiz para meu aniversário, agora em março, apreciadíssima. Pensava naquela comida deliciosa que eu havia comido em Sevilha, quando fui fazer minha paella, deu certo. A facilidade de obter os mariscos congelados da Swift que vêm com um envelope de temperos para o referido prato. Cozinhei o arroz  agulha à  parte, fiz o ensopado dos mariscos, depois  juntei um ao outro, fácil, e ficou como eu queria, sem ficar empapado e com aquele caldinho.


domingo, 6 de março de 2022

 


HOMENAGEM 

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 8 DE MARÇO                       

 

                           DIALOGO BARROCO

 

 

S. LUÍS -MA

 

        

 Domingo à tarde, como de costume as irmãs têm um encontro, estão na praça perto de suas casas, já não usam máscara, final de pandemia do covid19. A preocupação mundial agora é com a guerra na Ucrânia invadida pela Rússia. A bendita paz que parece não existir para o ser humano. Mariza tem uma filha com dezoito anos que acaba de sair de casa  para estudar fora. A temporã de Inez está com ela, a saltitar de um brinquedo para  outro. Maria chegou quando não mais havia esperança da mãe engravidar.

Inez pergunta para a irmã que tomava algumas notas no caderno que tem sempre consigo:

 — Ontem sonhei com Berta, te lembras dela?

 — Como não lembrar, amiga da avó Josefina, era professora aposentada, teve um noivo que sumiu dois dias antes do casamento. A vida toda ela a desculpar o cara: ”Coitado do Alfredinho!

  — E da Apolônia, lembras?

  — Sim, suas feições já sem rastro algum da beleza que tivera quando jovem. Outra saudosa do noivo, piloto de avião, que se espatifou sob seu comando. Ele quis  exibir-se no ar, coisa dos princípios da aviação. Pulu sentia remorso, como se tivesse matado o desafortunado homem, a consciência da morte, reverso da medalha, tão complexa e imprevisível é a vida. Mulheres que guardaram de seus amores  o melhor de si.

  Mariza fecha o caderno de apontamentos para melhor conversar com sua  irmã, afinal estão ali para isso A outra continua:

  — Quantas pessoas por aí vítimas da fatalidade e dos equívocos. O amor, o prazer, como um enigma para não ser de todo desvelado por essas mulheres intocáveis, amoráveis, inabaláveis, que foram educadas na rigidez da religião do amor eterno. Pior são as vítimas do machismo, que se perpetua no mundo. Os homens no passado “mexiam” com as moças e ficava por isso mesmo. Hoje elas têm a lei que as protege da violência, os homens punidos com a força da lei.  Inveterados ainda existem, que o mundo não deixou de ser machista.

E como boa católica dá exemplo de uma santa:

   — As mulheres hoje também estão no comando, mas não é de agora, Inez. Santa Genoveva, de grande coragem, conseguiu com heroísmo afastar a horda dos ferozes e supersticiosos hunos, enfrentando inclusive o pânico dos homens. Firme em sua disposição conclamou suas companheiras para a resistência à invasão da cidade de Paris, da qual ela se tornou padroeira. Na entrada do batistério de São João-de-Rond o seguinte pensamento dela: “Podem os homens fugir; nós mulheres pediremos a Deus, e ele acabará ouvindo as nossas súplicas.”

 Maria aproxima-se para a mãe ajeitar-lhe o cabelo. E enquanto Inez refaz a trança da filha Mariza, continua o assunto focado no machismo:

— Mesmo depois das lutas feministas, os homens continuam a fazer  suas maldades, e há os pedófilos com sua doentia concupiscência. O poeta Virgílio, na decadente Roma, fazia versos sobre as meninas que desabrochavam — poeta que gostava mesmo era dos rapazes. Petrarca platonicamente apaixonado pela quase criança Laura.  Estaria hoje sujeito à Leis da Infância e Juventude,  implantada na terceira década do século XX na Inglaterra, e só mais tarde adotadas no nosso país do carnaval e da permissividade. Lewis Carroll foi um célebre ninfomaníaco e acabou nos tribunais, por conta da denúncia de uma mãe que descobriu cartas libidinosas endereçadas a sua filha, vindas do escritor, que teria se inspirado na menina para escrever o célebre livro Alice No País das Maravilhas.

Mariza fala como escritora.  Inez dá suas pinceladas, estuda a arte barroca, e como a maioria dos racionais está preocupada com o mundo, que avança a passos largos. Como pintora aproveita para falar de uma arte representativa do século onde se formou a mentalidade atual:

— Às portas da modernidade Vermeer, de consciência calvinista e jesuítica, pintou suas figuras como se estivessem representando no palco, e os espectadores percebessem os atos humanos e sua moral. Como artista barroco  com o dever moral de instruir através da sua obra. Época em que surge o interesse financeiro, como se conhece hoje, mas há uma moral a ser considerada. O pintor de Delft não despreza o interesse financeiro, e conscientemente faz propaganda de objetos para o  consumo, do vestuário ao consumo intelectual dos livros. Suas figuras femininas são trabalhadoras e consumistas,  focadas na produção e no consumo, sendo ao mesmo tempo alertadas para que sigam a temperança.

— Como no passado, persiste essa preocupação, Inez. E nunca se sabe onde o mundo vai parar. Temos filhas que vão ter de enfrentar o assédio, inclusive, no trabalho, não é mesmo? Neste momento muitas esposas estão perdendo seus maridos em mais uma guerra. E tem as moças violentadas pelos soldados inimigos. Mulheres e crianças fugindo dos seus lares na Ucrânia por conta de uma guerra insana provocada pelo ditador russo. Não vale mais a diplomacia. Trovoadas anunciam tempestade.

A pintora dá seu último aparte:

— Os interesses que permeiam os atos humanos  devem ser bem avaliados. Intriga-me que ainda haja entre os poderosos interesses de conquista territoriais. Tantas conquistas realizadas para o bem da humanidade, que ficam apagadas com o avanço da insensatez. O quanto somos contraditórios. Penso quando tudo possa estar no seu devido lugar. O que fazer no momento senão pintar a guerra, que vejo à cores pela TV, no momento em que os fatos acontecem.

Maria atende o sinal da mãe e aproxima-se, hora de voltarem para casa. 

  

 


quarta-feira, 2 de março de 2022

 

COMENTÁRIO DE LIVRO

    

ORGULHO E PRECONCEITO

 

                                       

                                         Murilo Moreira Veras

 

Em nosso encontro de 28.02.22 no Clube do Livro foi escolhido para a apreciação Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (1777-1817). É o primeiro romance da autora, publicado em 1813, em Londres, com o título Pride and Prejudice.

Confesso que tinha o livro na estante de casa, mas não o havia lido, sempre tive a inglesa como autora para moças, e só um pouco mais que isso. Comecei a ler Austen com má vontade, mas o texto belamente escrito acabou por surpreender-me, o conteúdo indo muito além de uma simples novela de costumes, como também pensava que fosse. Agudeza e escrutínio psicológico a desvelar a sociedade inglesa, anterior à Revolução Industrial. As elites familiares na retranca, e pouco dispostas a ceder espaço à nova era que se aproxima.

Narrativa é sobre a família Bennet, formada pelo marido Mr.Bennet, sua esposa, Mrs. Bennet, e as cinco filhas do casal: Jane, a mais velha, Elizabeth, a segunda, Katherine ou Kitty, a terceira, e as duas mais novas Mary e Lydia. Cada uma das moças tem um caráter próprio, responsável pelo desenvolvimento da linha da ação do romance. A doce Jane é muito bonita, está na idade de casar. Elizabeth é menos bonita e tem um temperamento forte.  E, ao contrário das  irmãs mais velhas, as duas mais novas comporta-se mal socialmente, as futuras periguetes, assim como Elizabeth camba para o feminismo, não esse feminismo desvirtuado de agora. Intriga a atualidade da narrativa.

Os bens de Mr. Bennet constituíam-se da  casa própria e da pequena propriedade de onde tira sua renda. Mrs. Bennet quer ver as filhas casadas, se possível alcem a um nível social digno delas, e para tanto participam das festas da elite, e sejam apresentadas a bons pretendentes,  normal para uma mãe em qualquer época. Essa, em especial, está demais ansiosa, afinal, são cinco filhas para encaminhar. Enquanto isso o pai  não se preocupa tanto, sequer concedeu  às filhas os devidos dotes, mas flexível aos anseios da mulher.

Eis que chega à cidade Mr. Bingley, herdeiro de grande fortuna, acompanhado do seu amigo, Mr. Darcy, também muito rico.  Conforme o costume da época é promovido um grande baile para comemorar a chegada dos dois afortunados repazes. Mrs. Bennet sente que havia chegado a oportunidade para suas encantadoras filhos, o que realmente acontece. Mr. Bingley vê-se seduzido pela bela e doce de Jane. Já Elizabeth é alvo de atenção de Mr. Darcy.  Contratempos  ocorrem, as famílias dos rapazes não aceitam de bom grado as eleitas, mas acabam por ceder, diante dos encantos das jovens. O snob Mr. Darcy a princípio se desentende com a perspicaz Elizabeth, até acertarem os ponteiros.  

A certa altura da trama, Lydia, com apenas dezesseis anos, foge com Mr. Wickham, de passagem com seu regimento, rapaz de má fama, consternando toda a família, o que causa constrangimento à família, que resolve a situação da melhor maneira, casando a moça. Jane Austen não se casou e morre aos 44 anos, o que singulariza sua escritura, realizada ainda bem jovem, a competência com que soube armar seus romances. Os homens, herdeiros das fortunas das famílias, o que fazem? Caçam, bebem, vivem o bom e o melhor, enquanto as mulheres correrem atrás deles. Cheios de si eles às vezes se equivocam, a exemplo de Mr. Collins, um jovem clérigo, ridículo em sua disposição para casar, que escolhe Elizabeth, mas é rejeitado, cai na real, e acaba por encantar-se da amigável Mr. Wickham, os dois feitos um para o outro.

No cap. LVI há o diálogo vulcânico entre Lady Catherine de Bourgh, tia de Mr. Darcy, com Elizabeth. Enquanto a ricaça é pura arrogância, Elizabeth demonstra  equilíbrio e brilho pessoal.  Falas,  diálogos, observações, típicas de uma autora educada na religião puritana, sendo ela filha de clérigo com o qual teria recebido lições de vida e com uma boa biblioteca particular, nem colégio, nem faculdade. Alguns anos depois, em 1832, surgiria Louisa May Alcott , autora de Mulherzinhas , também mundialmente famosa. A americana Alcott e a inglesa Austen em contextos sociais bem diferentes.

 

                                                                         Bsb, 12.02.22

 

 

 


terça-feira, 1 de março de 2022

 



S. Luís - Ma


“ESCREVER É COMO CASAR.

NUNCA PODEMOS NOS COMPROMETER

ENQUANTO NÃO NOS ENCANTARMOS

COM NOSSA FELICIDADE.”

                  Iris Murdoch - filósofa