terça-feira, 20 de dezembro de 2022

 


 

 

                                         NADA É PARA SEMPRE

 

S. LUÍS -MA

 

A s narrativas de Galvão Bueno com seus bordões nas Copas e  demais eventos esportivos transmitidos pela TV.

               O rosto perfeito de Dina Sfat na capa  de uma revista.

As crônicas de Raquel de Queiroz na última página da revista O Cruzeiro.

A elegância do casal Charles Chaplin e Paulette Goddard fotografados quando eram casados.

O recém-nascido em seu primeiro banho na bacia de alumínio com a crianças em  volta.

As figuras impróprias  desenhadas a carvão nos muros e calçadas de S. Luís.

As declamações do poeta nas reuniões em família.

O ite missa est  no fim das missas.

As tranças nos cabelos feitas pela tia, e também seus beliscões.

O comportamento pouco ortodoxo de algumas meninas, que não nos passava pela cabeça imitar.

A brincadeira de quebrar o osso do peito da galhinha e a madrinha como juíza para os irmãos não trapacearem.

O assustador isolamento na pandemia.

Palavras e mais palavras a nós dirigidas, ou que dizem por aí.

 

 

 


sábado, 17 de dezembro de 2022

 



 

                                  RECORDAR É VIVER




 

 Maria fica comovida com as palavras da coleguinha naquele novembro de 1950. “Nunca vou te esquecer” disse Socorro. O sino havia tocado no recreio para voltarem à sala de aula no último dia do segundo semestre do quarto ano primário. Encerrava-se um ciclo escolar, início das férias. Décadas se passaram, Maria lê no Facebook: “Lembra de mim?” E  dias depois: “Eu estou aqui!”. As mensagens vinham acompanhadas de fotos da mensageira com o marido comemorando bodas de ouro, também das viagens do casal pela Europa.

Cinco décadas e muitas foram mudanças pessoais e no mundo, a novidade da internet com suas redes sociais dando oportunidade para encontro e reencontros. Maria está encantada com a mocidade e alegria daquele senhora que se comunicava com ela, e procura pelo rosto que havia ficado perdido no tempo. Vasculha a mente, até que encontra a frase antiga e sua dona. E surpreendida com o enredo das suas vidas, que eram bem parecidos, Maria indaga a sorrir: “Quem copiou quem?” Vivem em diferentes cidades, e ainda se comunicam pela internet.  

 

Não ia ser fácil a caminhada, nem tão difícil, disso ela tinha certeza. Recém-casada, antes de partir com o marido Maria quis passar na Igreja para acender uma vela para a avó e rezar para a Mãe do céu, além de dar explicação a são Judas Tadeu sobre sua confiança nos dias que viriam pela frente. Do pouco que vivenciara até aquele momento e sem grande  experiência de vida era provável que mais adiante suas expectativas fossem superadas. Estava segura do que queria, assim como a pessoa que estava ao seu lado comungando o mesmo sonho. Quando ele chegou depois de algum tempo sem se verem dissiparam-se as dúvidas quanto a se unirem em casamento. Ela ficou surpresa ao saber que seu sentimento havia mudado, e para melhor, assim como acreditava que acontecia com o futuro companheiro de todo sua vida. 

 

Dezembro, e o terceiro casamento que Maria assistia naquele ano, os noivos já com algum tempo de convivência, como de praxe. Era a vez de ver seu neto conduzir a noiva ao altar para que a união deles recebesse a bênção de Deus. Após a cerimônia religiosa aquela linda festa em comemoração com os familiares e amigos dando início a uma nova etapa em suas vidas. O baile era uma novidade para os avós da noiva que observaram os recém-casados em feliz entrosamento, enquanto dançaram lindamente no salão. No passado casava-se ainda muito jovem, a união matrimonial como um ato de mais seriedade que felicidade. Dançar não fazia parte das bodas, que o casal devia com passos firmes cumprir o dever matrimonial da procriação. Sem esse doce bailar e alegre saltitar dos nubentes de hoje, que provoca inveja dos mais velhos presentes ao evento.  Maria na convicção que a felicidade tem um preço, sim, e não sai barato, ela mesma saudara com o marido todas as prestações.

 

 

 

 


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

 



 

 

                                                         DEUS  EM NÓS!
 
           

        


                    Tempo de antes, quando as mulheres pleitearam o direito de direcionar suas vidas conforme quisessem, sabendo de antemão que ninguém é dono da própria vida de forma absoluta. E nunca a mulher foi contra o homem, ao contrário lutou, e ainda luta, para  para estar ao lado dele, em igualdade de condições. Faz parte dos direitos adquiridos a liberdade sexual, igual para ambos os sexos, em que a pílula foi de especial ajuda. A ciência coadjuvante da mulher na conquista por liberdade.
                    
                   No passado não havia esse medo de extinção da humanidade, o que hoje parece iminente, por conta dos excessos cometidos, contra natureza, e tudo o mais. As mudanças aconteciam passo a passo, sem pressa, ninguém pensava em atropelar o presente em busca do futuro incerto. Era até louvável atrasar certas coisas, e as novidades recebidas sem deslumbramento, nem angústia, chegavam em tempo e hora certa, aguardadas as mudanças. Uma confortável liberdade individual era experimentada sem alarde. Até as coisas se precipitarem numa corrida, quase igual à corrida armamentista entre a URSS e USA. E desde a invasão do Kuwait pelo ditador Saddam Hussein que a terceira guerra mundial é anunciada.
                   
                 Há perdas vantajosas, e ganho real é o saber, quando então nos libertamos do erro. E por esse saber é que sonhamos desde sempre.  À geração de Maria não causou espanto quando meninos e meninas passassem a conviver desde o maternal. E ninguém se deu ao trabalho de lastimar quando elas abandonaram os uniformes de saias abaixo do joelho, e passaram a também usar calça, até adotarem os confortáveis shorts. As novas gerações em dúvidas sobre as coisas do passado, que do nada teriam surgido, sem sua jovem e batuta presença. Tudo devia mudar. Nenhum entendimento, nada de acordos, por tudo abaixo é o que queriam os rebeldes sem causa que surgiram. E logo em seguida aparecerem os ativistas de toda sorte de causas, culminando no radicalismo de alguns desses ditos contestadores.  
                     
                 A vida hoje rebaixada a patamar inimaginável,  e todas as gerações a se sentirem mal acomodadas. No passado a vida era considerada o bem maior, ponto final. A meta era viver em paz e fazer do mundo um lugar confortável para todos. E já era tempo de terem acabado a fome e as guerras, mas são presenças constantes no tempo atual. Os poderosos chegaram a proclamar suas intervenções cirúrgicas, para a cura rápida dos conflitos. Mas a tecnologia não faz milagre, o que compete ao homem com sua milagrosa boa vontade e sabedoria. Deus em nós.

                  

 


sábado, 10 de dezembro de 2022

 


 

 

                   

                                     MEMÓRIA 

 

O POVO FELIZ NA RUA GRANDE EM S. LUÍS - MA

 

Palavras esquecidas pelo tempo chegam de repente á lembrança. Falas familiares ditas um dia, sentenças com alguma erudição, o que sobrou do passado. E aquele significativa metáfora como a cereja do bolo da memória. 

A eternidade na memória, e um dia Maria vai querer contar sua história com palavras cativantes, e de forma comovente. Ou seria melhor  não dizer coisa alguma? Aguardar que na hora da morte as pessoas falem só coisas boas sobre ela, como o padre no velório do pai, que falou sobre o homem honesto e trabalhador, que nunca havia feito mal a ninguém, e estava certo. 

 O pai de Maria nunca quis alcançar as coisas na marra. Só exigia respeito, o que nunca lhe faltou. Companheiro de uma excelente mulher, a melhor das pessoas, não só para o marido. Sorte dele e nossa por essa mãe, que viveu até não poder mais, plena de amor pela vida. Confortava os filhos que moravam longe, com suas longas cartas, sábias palavras, escritas com uma letra caprichada, de professora, de mestra. Aos demais prestava a devida atenção.


Os preciosos cadernos pautados de Maria candidata ao exame de admissão, continham farto número de problemas de matemática, assim como  dissertações e composições. E tinha ainda um caderno de capa dura com as letras de música, que nada tinham a ver com a jovem, mas eram palavras, e com elas se encantava: “coqueiro velho abatido pelo vento, ninguém sabe os desenganos dessas folhas abatidas pelo vento”...

“Olha a lua, Maria, veja como está cheia d`água”, o aviso poético da tia, sinal de chuva.

Anos 40, o trem parado no fim do mundo apita que vai partir, e lá longe vem uma mulher atravessando o areal com compras na mão, pela janela as crianças gritam para ela apressar o passo: “Mais depressa, mamãe.”

No filme Marcelino está compadecido do Cristo na Cruz, e  fala: ”Você tem cara de fome.”  Um adorável menininho que vive no convento com os frades, seus bons amigos. As palavras que ele diz ao crucificado reflete a mais triste consequência do abandono, que é a fome, entendida não apenas pela falta de comida no prato, que castiga no corpo. Fome de amor, que dói na alma.

 Ser feliz é uma espécie de vocação pessoal, até mesmo predestinação. Tem gente que ama  a vida, mesmo em dificuldade. Pode fazer parte da genética essa inclinação, essa índole, quando há pessoas simplesmente felizes, enquanto seja difícil para outras, que estão sempre descontentes com tudo, mesmo que consigam o que querem, ou justamente por isso mesmo. O sentimento de pertencimento, de bem estar, desde o berço - o  que o amor promove e faz feliz.   










COM MODERAÇÃO!
 

domingo, 4 de dezembro de 2022

 


 

 

       

                                                  DE AMOR E PAIXÃO 




 

— Quem somos nós para afirmar o que é e o que não é uma boa vida.  

Palavras ditas por uma parenta a Maria, que de imediato pensou na mãe e sua afirmação de que a pior vida era melhor que vida nenhuma, ou a morte. E no entendimento de quem fora a mãe,  e ela própria décadas atrás, quando não havia como querer outra vida senão casar e em contrapartida ter uma casa com marido e filhos para cuidar. O homem com seu próprio planejamento a cumprir, conquanto seu destino fosse encontrar sua companheira em algum ponto do caminho.

Pena que a avó de Maria nunca tenha obtido o perdão da filha, desde que  posicionou-se contra sua paixão e casamento. Não há como julgar pessoas que legaram grandes ensinamentos aos descendentes. Tem gente que goza da paixão pelo dinheiro e por tudo o que ele propicia. As mais sábias preferem viver de outra forma, sem essa questão de querer boa vida, ou ser feliz a qualquer custo. Depois de uma conversa nesse sentido Maria aos quinze anos recebeu um ultimato de Mário nos seus dezoito, que antes de partir  para estudar fora, despediu-se com um olhar, mais de compaixão que de paixão, e as míseras palavras:

— Temos um longo caminho a percorrer. Que eu possa mais adiante alcançar você, e você a mim. Não nos percamos de vista.

Maria deixou a vida fluir, cientes que qualquer caminho não ia servir para ela chegar a autossuficiência e vida plena, sua pretensão. Logo percebeu que o universo está pronto para cuidar das pessoas que sabem para onde quer ir. Importa ter meta a cumprir, sem deixar de dar espaço para as surpresas. Ter cuidado, que há as boas surpresas e as ruins. 

  Por descuido Maria havia perdido a oportunidade de um bom emprego, mas não ia perder a esperança, sempre viva dentro dela. Simplesmente recomeçava, no que ia se tornar mestra. Até alcançar a maturidade, inclusive, no amor. Maria agora observava sua própria vida, e a vida em sua volta, e verificou o quanto uma paixão pode ser decepcionante a longo prazo. Certo  que a vida pede atenção, cuidado, e que se desconfie dos aplausos e julgamentos apaixonados.

Ano de 2022, da Copa de futebol no Catar, e lá está o antigo casal, desfrutando o feliz reencontro de décadas atrás, e como todo o Brasil na torcida pela seleção de Tite. Sobre a paixão do torcedor pelo futebol o neurologista Conrad Estol aponta para as emoções despertadas pelo fanático ao assistir um jogo, que se semelham a "um coquetel de condutas anormais" no qual se mistura a paixão, similar a de Cristo que compreende a aceitação e sofrimento como essenciais  à vida. Maria, todavia, pensa na diferença entre a sensação vinda do instinto de competição, primitivo, o caso do futebol, enquanto nos eleva a nível de compaixão a outra sensação, ambas necessária para o equilíbrio das emoções. 

 Diferente da paixão do futebol, a  paixão de Cristo serve para despertar a compaixão, que se segue à sua paixão.  


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 


 

 

                                          DOR

 

                                                      “O dia não é hora por hora.

                                                        É dor por dor.”

                                                                                              Pablo Neruda


O recém-nascido chora quando recebe o primeiro sopro de ar em seu pulmão. Dor e vida. Não há vida sem dor, e os dias futuros do ser humano serão vividos “dor por dor”, segundo o poeta. O Choro como característica do ser racional, também o riso. Mas só alguns dias depois de nascido é que o primeiro sorriso se esboça no humano rosto. Muitas as alegrias por viver, mas inúmeras serão as dores.

Maria se lembra de ter dito a uma pessoa zangada que ameaçou largar sua mão em um momento crucial: “Cuidado, não largue minha mão, você pode precisar da mim no futuro.” A cruel dor do abandono, e tantas outras dores, algumas necessárias, que servem de alerta para os males a serem evitados. O espinho, a pedra no caminho, coisas que vão num crescendo, até males maiores. Difícil especificar todas as dores.

Marcas no corpo e feridas na alma. Amenizarmos nossos males é o que nos resta, o que somos capazes de fazer com nossa inteligência e racionalidade. E não são poucas as coisas ruins que criamos, ou provocamos com nossa renitente irracionalidade. Típico dos humanos o poder e  liberdade para pensar e agir, conquanto nem sempre se adquira discernimento e autoridade, e vamos pagar por isso.

Dores há que nos atingem de um jeito tosco, difícil de evitar, e há as dores que podem e devem ser evitadas. Mas, às vezes, somos imprudentes, inconsequentes, o que acontece na mesma proporção do nosso querer, nem sempre racional.  Uma mente mal formada não atenta para seus limites.

Ter ou não ter razã ---  eis a questão.

A consciência racional faz com que se acerte em autenticidade, respeito, amor próprio, humildade, e mais. É o saber viver que resulta numa vida plena, sem que a dor impeça  acontecer a plenitude, mas até propicia, se me amo, e confio em Deus. Certo é que não vale a pena sofrer por tudo o que quer essa nossa alma, às vezes, tão pequena. 


  


terça-feira, 15 de novembro de 2022

 




 

À sombra de Simone Weil

 

                                      ENCONTRO DE RAIZ






Elas voltam a se encontrar depois dos dois últimos meses em que se desenrolou a campanha para o comando do país, numa eleição atípica, com um ex-presidente ainda com pendência na justiça, mas liberado pelo STF para concorrer à presidência com o outro candidato, que pretendia sua reeleição. Insultos de ambos as partes na TV, pareciam dois bandidos a se acusarem mutuamente — comentavam pelo whatsApp as três amigas, Maria, Sofia e Marta.  Agora elas só tinham a lastimar a volta do petista, quando a vitória do outro candidato seria para elas um mal menor.

“A vida continua e bola para frente”, disseram em uníssono, logo que se viram. Encontravam-se sempre em uma cafeteria, excelentes locais em Brasília para as pessoas passarem uma tarde prazerosa. Aquela, em especial, onde Maria inicia a conversa, em um quase discurso, como a ocasião pedia:

 — A compaixão pela família e pela pátria é um sentimento que os brasileiros devem adotar neste momento em que há decepção com o resultado nas urnas. Não perder para esse cruel infortúnio, mas levantar a cabeça e ter esperança na grandeza da alma brasileira, o brilho com que está envolta. E que  os cidadãos dessa pátria amada não deixem de acreditar no futuro.

— Belas palavras, minha amiga — replicou Sofia. Que assim seja, e mesmo acreditando no futuro do Brasil, imagino o que pode advir doravante . Mau maior é esquecer o passado, e as pessoas irem em busca do que lhes possa ofertar em compensação quanto a um novo governo que retorna com  malignas artimanhas. Certo que a corrupção vai continuar.

È a vez de Marta interagir:

— O ser humano tem fome de grandeza, não essa grandeza ofertada aos desafortunados, submetidos a uma condição adversa. Nem o horror do nazismo, nem o calvário do comunismo.  Ambas as ideologias indo contra a racionalidade humana e ferem suas raízes espirituais. Chegamos a um país do absurdo.

Maria voltou a falar:

— Mesmo nas ocasiões mais desafortunadas, como essa em que se encontram os brasileiros no momento, que procurem vivenciar a fraternidade, gerada pela compaixão. Temos uma democracia, mesmo essa nossa, quase anarquia, mas que possa barrar as outras duas malignas opções, o nazismo e o comunismo. O mundo precisa da paz para sobreviver, e não se afogar no caos. Seja na prosperidade, seja no infortúnio, que se adote o sentimento da fraternidade duradoura.  

Sofia vai adiante:

— Que os jovens não percam o direito de levar no coração o sonho do futuro que bem entendam. Que cada um em particular tenha chance de se realizar, mesmo que parcialmente, já que as ambições juvenis, às vezes, sem limites das próprias aptidões, diferentes em cada pessoa. Cumpram-se as melhores expectativas, e a todos se ofereçam possibilidades de ascensão social.  Os vegetais têm as raízes debaixo da terra, os irracionais patinam sobre a terra, mas é superior o enraizamento do homem.

Foi-se a tarde neste encontro de raiz, e elas partiram para suas casas e respectivas famílias, bem mais esperançosas, afinal, para que servem as amizades senão para isso mesmo, dar esperança?




 

 


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

 



 

 

Texto Inspirado em Machado de Assis e Simone Weil

 

                                            

                       TEMPO, TEMPO, TEMPO!


BELEZA E ABANDONO  -  S. LUÍS - MA


Um após outro passam-se os dias, nunca iguais - e ninguém é o mesmo que foi. Maria observa o rosto no espelho, bem diferente de tempos atrás, sem ter como restaurar o semblante sereno daquela moça de antanho. Evidente o desejo que tem de se recompor. E sem medo do eco dessa atual linguagem virtual, criou uma personagem, mais ou menos fictícia, para suas impressões de um tempo sem maiores percalços, como a vida era pensada no passado, difícil que fosse. As pessoas com a estranha mania de serem severas umas com os outras, e nunca "passarem panos quentes", em seja quem for,  até mesmo optar pela santidade, para não se perder. 

Inspiração como oração, intuitiva e de discernimento, pacífica, em vez do discurso sombrio,  criado no vazio das mentes em desesperança. A vida como trama, que costuma deixar fios soltos.  O que importa é perceber,  compreender, ter noção da materialidade das coisas e sua mecânica, também da espiritualidade ter essencial vivência. E o mais importante , não se deixar coagir, nem mesmo ser persuadido por medo, e se  perca em essência. Certo que tudo mudo com o tempo até as pessoas, o que foram e não são mais. A força propulsora que é o tempo, do  qual temos pouco, ou nenhum controle. Mas o que se intui é que o tempo leva a pessoa para onde pretende ir. A inspiração idem. 

Tempo, tempo, tempo, muito tempo, e Maria está naquela idade de rememorar o passado, o que ela faz com certa frequência, a inspiração fluindo no deleite das horas. Lembra da primeira casa própria, que acabou ficando para trás, restando a frustração de não ter realizado com o marido aquele plano  para expandirem a parte lateral  e assim torná-la a casa mais bonita da rua. Classe média, seu capricho  com as residências, as mulheres cuidando com exclusividade da família, satisfeitas em fazer brilhar não apenas a casa, mas, em especial, o marido e os filhos. 

O pioneirismo das jovens como Maria,  em meados do século passado, impulsionadas pelo sonho da realização profissional, que tiveram a influência dos colégios religiosos. As freiras  eram mulheres de fé e avançadas, sim, mas diferente dos avanços atuais. "Casada ou puta", o que diziam à época, o que não era assim. As mulheres solteiras dedicadas ao ensino, e demais trabalhos realizados no interior do lar, mesmo casadas, contribuindo para o sustento da família. Havia ainda a vocação religiosa, como ainda hoje, quando as . mulheres já gozam da liberdade, para serem o que quiserem. Mas têm as que vão para o convento ter um compromisso superior com Deus.  Quem sabe a melhor opção no mundo de hoje?

 Os "testes psicológicos" eram pouco conhecido nos Brasil nos anos 50, e vale ressaltar o pioneirismo da Escola de Serviço Social na capital maranhense, onde as alunas foram submetidas a essa especial técnica, aplicada pela  pela chiquérrima psicóloga Odila Soares, recém-chegada da Sorbonne. Foram ocupadas várias salas  do belo casarão no Centro Histórico, onde funcionava a Escola. O resultado não seria revelado às alunas, certamente para evitar constrangimento, devido aos diferentes níveis intelectuais. Os testes tornaram comuns, conquanto mais ágeis e funcionais, hoje exigido até para a carteira de motorista.

Vejam só, não dá para esquecer, aquela vizinha que mantinha a casa impecável, onde os filhos,  entre dois a sete anos, só entravam para dormir, ficavam o dia todo em outra construção no terreno atrás. Fácil deduzir que a bela casa da frente devia permanecer intocável. Inesquecível a visita dessas três crianças na casa ao lado, onde livres e soltas portaram-se como selvagens, derrubando as coisas, a começar pelo vaso no centro da mesa cujas flores acabaram em frangalhos.  A jovem e inexperiente Maria  ficou chocada com o  vandalismo, fora  prejuízo, Uma experiência que levou-a a   concluir que educar não  é, em tempo algum,  simplesmente reprimir.  


 






terça-feira, 1 de novembro de 2022

 


  

    TEXTO INSPIRADO EM CORA CORALINA

 


S. LUÍS - MA  - CALHAU - 2022


A tua casa é teu mundo particular, faz que seja um lugar onde  estejas confortável e em paz. Decora tua casa de modo que te sintas realmente em casa, com tua família. Foge daquela decoração da moda, mas que te é estranha, pareça exposição de loja. Tenha tua casa um espaço para ler, e também reservar um cantinho para orar e meditar.

A alegria seja a presença constante em teu lar, e não em outro  lugar qualquer. Na mesa da tua casa que sejam servidas refeições elogiadas,    melhores que a dos restaurantes, por mais famoso que seja. Vais ficar ainda mais feliz se foste tu que fizeste a comida, criaste a receita. A roupa de cama e mesa merecem cuidado especial, e que possas mudar o enxoval em pequenos espaços de tempo. Doa o que for reposto, ainda em bom estado.

Renova os estofados, compra móveis novos, se for o caso, ou deixa tudo como está. Mas de vez em quando é bom mudar as coisas, nem que seja de lugar. Na natureza mudam as estações, nós também mudamos, não somos sempre os mesmos. E como é bom mudar de casa, de cidade, refazer planos, conquanto permaneça o melhor de nós!


 




 

                                  UNIÃO PELO DEVER


S. LUÍS - MA  - 1930


 

Os deveres unem os homens de boa vontade, na prestação de serviço à sociedade a que pertencem. Regra básica da vida é a união pelos deveres, enquanto algumas prerrogativas dividem as pessoas.  E no exercício do livre-arbítrio tenha o homem bom senso nas decisões e aja com autoridade. 

Eximir-se dos deveres é para quem não tem consciência. Quando houver incompatibilidade resolver a questão com mais deveres e obrigações. Submissão sem servilismo; obediência sem estar subjugado; razão sem omissão. 

 Tenha o homem esforço a doar, opinião a dar, e saiba o valor que tem. Esteja satisfeito com o que é, e representa. Seja verdadeiro, e não um embusteiro; agradecido, e não um reles ingrato.

Estejam os homens unidos pelo dever, e não se odeiem mutuamente em seus foros. Uma sociedade admirável faculta o respeito e a atenção entre seus cidadãos, que interagem positivamente no  cumprimento do dever.

A vida, mais que nunca, requer comunhão.


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

CINEMA PARADISO - Ennio Morricone (Cover Benedetta Caretta)

 



 

                                              SONHO ARQUÉTIPO

S. LUÍS - MA


 

O sonho da noite anterior permanecia vivo em sua memória., Inicia quando ela escuta vozes em discussão acalorada, vinham da escada à esquerda do local onde estava, parecia um esconderijo. Logo surge um rapaz, era seu filho, que entra de abrupto naquele espaço exíguo, espécie de água furtada, que então  se dá conta da larga janela existente ali, mas que está fechada por um muro de tijolo aparente, a visão bloqueada. O outro oponente aparece  no topo da escada, ele tem uma densa barba negra, fica parado a olhar na direção da agente do sonho.   

Desperta, sente necessidade de interpretar aquele sonho, que considera arquétipo. Dias antes ela tinha ido passear com o filho na cidade vizinha a Brasília. Ele quase todo o tempo absorto na leitura do livro Submissão de Michel Houellebecq, um romance sobre a possibilidade da França ser dominada pelos mulçumanos, o domínio de uma cultura, que trata a mulher de forma inferior, o perigo que corria a política e educação europeia. A mãe então chama atenção do filho para que aproveitasse aqueles dias de férias em Goiás, para relaxar, em vez de ficar preso naquela leitura polêmica, a lhe causar medo e tristeza, como cristão. Já em casa, à noite, ela tem o sonho, que certamente tem a ver com livro do francês.

 Em resumo, o livro de Houellebcq em apenas algumas páginas de leitura, mas numa escalada perigosa, aborda o conflitante problema da imigração mulçumana, vista como  invasão. No sonho o espaço  onde o conflito se desenrola é do inconsciente, invadido por aquela leitura. Quando o ideal é a pessoa manter a mente aberta, sem entraves ao conhecimento, que deve ser abordado de forma mais consciente, ampla. A boa visão de quem foge do radicalismo, do preconceito. O mundo oriental em radial repressão contra a mulher, que ainda são obrigadas a se cobrirem com véu. Enquanto as ocidentais estão liberadas para se vestir e  estar onde quiserem, o que seria muito bem vindo, mas o que se vê é uma afronta à moral cristã, sem precedente.  À guisa de maiores explicações, eis um conselho a seguir, quanto às leituras e tudo o mais:

Sejam as nossas incertezas suavizadas na esperança, e as tristezas  filtradas na fé e caridade.


sábado, 22 de outubro de 2022

 



 

 

                                        O SIM E O NÃO

 

BUSTOS DOS MARANHENSES ILUSTRES NA PRAÇA DEODORO - S. LUÍS MA
  


Ela guarda lembranças de imagens doridas, e ao mesmo tempo fugazes, sem se ver tomada pela tristeza, ou pulando de alegria, como  a moçada vive, ou quer viver hoje. Faz tanto tempo, mas ainda se vê na casa da avó, que estava sempre atarefada administrando o momento presente no trabalho e confiança. A neta orgulhosa por testemunhar essa vida exemplar, um referencial para toda a família. Mundo sem ruptura, um querer bem moldado, e o  instrumental para as boas realizações futuras, é o que se tinha. A vida um campo de sonhos, que merecia por ela lutar.  As mulheres no bom combate para serem reconhecidas como cidadãs atuantes na sociedade, e não discriminadas por serem mulheres. Tenham direito sobre seu corpo, exceto de ferir o direito do outro. Digam sim à vida, e não ao aborto, reivindicação das feministas. 

 

A eleição para presidente já está no segundo turno, e no último debate o que se viu na televisão foi um balé aterrador dos dois candidatos, um frente ao outro a se insultarem mutuamente de “ladrão”, “mentiroso”, e por aí vai. Estão praticamente empatados nas pesquisas. E não seria melhor escolher o vencedor jogando o dado no tabuleiro? Uma eleição desanimadora, com uma esquerda mal intencionada, enquanto a direita, bem intencionada na defesa da moral, falha ao querer liberar as armas para os cidadãos, e fazer a vida na cidade virar um farwest. Dizer sim à democracia e um redondo não às ditaduras, quer de direita ou esquerda.

 

Maria não se acha velha, embora esteja na oitava década da vida. Parece muito, quando o futuro se encurta a cada dia, tempo que ela passa na agradável vivência consigo mesma. Prima por ser condescendente com o mundo de hoje, e se esforça para dizer sim a certas coisas, que merecem um não. Os jovens de hoje menos arrogantes, que os nascidos décadas atrás, no baby boom. Cresceram os chamados boomers, muitos ateus, de meia idade e na  crença de achar que podem mudar o mundo em um magistral golpe. Gente boa, mas de gosto duvidoso. 


Haja paciência!

 

 


terça-feira, 18 de outubro de 2022

 



TEXTO REFEITO 

 

                                           DO GOSTO

 


 

          O gosto depende da cultura de cada um, e nesse sentido não há bom nem mau gosto, mas gostos diferentes, e que não firam os sentimentos dos outros. Diz quem é a pessoa, o que representa culturalmente. 

             Para a avó de Maria, o bom gosto é inerente aos princípios, e o mau gosto vem da sua falta.  Naquele tempo as inovações eram vistas com reserva, e havia a perigo dos modismos causarem estrago no gosto. Para ter valor tem que durar, causar respeito e admiração, dar boa impressão. Sem preconceito. 

            Uma produção artística, por exemplo, deve revelar valores culturais, em essência. O artista de bom gosto tem sua arte reconhecida. Conquanto a beleza e a perfeição estão além do que se vê, verdade universal. 

            A cultura aliada à fé se perpetuara no tempo, eterna, representa o máximo do bom gosto.


  Quando te vi, amei-te já muito antes,

Tornei a achar-te quando te encontrei

      Nasci para ti antes de haver o mundo.

      Não há coisa feliz ou hora alegre

      Que eu tenha tido pela vida fora,

      Que não o fosse porque te previa,

      Porque dormias nela tu futuro,

      E como essas alegrias e esse prazer

      Eu viria depois a amar-te.

                               Fernando Pessoa


sábado, 15 de outubro de 2022

 



 

 

        AINDA HÁ SALVAÇÃO

S. LUÍS - MA

 

 

             Ortega y Gasset,  um dos mais conceituados filósofos do século XX, fala da salvação nos seguintes termos: ” Eu sou eu e as circunstâncias; se não salvo as circunstâncias, não salvo a mim mesmo.” Palavras que nos faz refletir sobre a humanidade, que se realiza num longo processo de salvação. Temos, continuamente, que nos salvar, o que significa, em princípio, nos livrar da ignorância e da descrença, pois salvação significa, educação e fé. Há sempre esperança de salvação para o homem. Não faltam meios para conduzir o homem até sua salvação, para tanto colaboram a genética, a família, o ambiente, a cultura, mas que pode falhar, quando então o esforço tem que ser maior. E a salvação individual de algum modo resulta na salvação de todos.

             “A alma que se eleva, eleva o mundo”, lema católico de santa sabedoria, que as irmãs do colégio Santa Teresa costumavam falar para as alunas, estimulando-as a se salvarem. Que almejassem a santidade, em vez da perdição. Eram firmes nos seus propósitos educacionais. Santas mulheres, guardo delas boas excelentes recordações, apenas um acidente de percurso narrado em texto anterior. Hoje os educadores são as redes sociais, onde se exibe um saber equivocado, e todos correm perigo com isso. Um modo perigoso de comunicação dos jovens que seguem como carneirinhos os lemas ditados irresponsavelmente para eles, como se fossem máximas de sabedoria. Se não houver discernimento, em vez da salvação as pessoas perigam se perder de vez.

              Há urgência em nos salvarmos como seres humanos, assim como devemos salvar a natureza da destruição. A salvação dos planeta é a grande preocupação na atualidade. Salvar a terra, a família, a escola, a sociedade,  em suma, tudo que periga desaparecer, sufocado pela poluição, não apenas do ar, mas de muita coisa ruim. Forma destrutiva de proceder devem ser corrigidas com urgência, a começar pela firmeza dos pais na educação dos filhos. Quanto ao Estado, seu dever é a promoção do bem estar de todos, principalmente, punir os infratores que prejudicam a sociedade com sua incompetência e corrupção.

           No passado os pais surravam os filhos o que, hoje em dia, constitui crime, mas teve gente que aprendeu por esse meio. Dar tapa na cara era meio de educar.  A linguagem da bofetada, Deus nos livre! Tempo em que não se pensava na salvação pelo diálogo; era a mão na cara, e temos conversado. Maria tinha testemunhado mas dava graças a Deus ter escapado dessa crueldade, mas ninguém se queixava. Hoje continua a falta diálogo entre pais e filhos, entre adultos e jovens. Na Internet são corriqueiras as conversas que correm soltas, a moçada livre para trocar experiências, nem sempre boas de compartilhar. Adultos e crianças com celular na mão, uma verdadeira perdição. Poderoso meio de comunicação utilizados sem critério.

           Há protestos, e tem os dos peitos e bundas de fora, para assustar, e os piores ataques à fé católica. São as feministas reivindicando direito sobre o próprio corpo, direito ao aborto, o que é um contrassenso tratando-se da vida de um ser humano em gestação, e tantos são os meios de evitar a gravidez. O maior respeito que se deve ter pela vida, que inclui o planeta, irresponsavelmente devastado por nós, seres racionais, mas que agem como irracionais, ou pior. E o almejado é que as pessoas sejam mais responsáveis, ajam efetivamente para o bem comum no cotidiano dentro da sua casa, da sua comunidade, da sua empresa. Em todas as realizações pensar em preservar a vida, em especial a vida humana, que se degrada junto com a natureza.

        O momento é de clamar, sim, por sustentabilidade, principalmente moral e ética.