segunda-feira, 29 de junho de 2020

domingo, 28 de junho de 2020



PESQUISA


            ECUMENISMO1

       


  

      Jesus passava deste mundo para o Pai, quando falou àqueles que iam ficar responsáveis por seu legado espiritual: “Sereis reconhecidos por todos como meus discípulos pelo amor que tiverdes uns com os outros”( Jo.13,35). E dirigiu-se ao Pai: ”É por eles que peço, por todos aqueles que pela palavra hão de crer em mim...Que sejam um, como tu, Pai, és em mim e eu em ti! Que eles também sejam um em nós!”( Jo17,20.24). Uma exigência de unidade, que os cristãos tinham por obrigação cumprir. No Santo Sepulcro dão um triste espetáculo de falta de união, há rivalidades entre latinos, gregos, ortodoxos, armênios jacobinos da Síria e coptas, que disputam pequenos metros quadrados dos Lugares Santos.
        
        Ecumênico, universal, que aceita todas as religiões (comuns as atuais reuniões ecumênicas promovidas pelos papas). A origem comum das religiões faz com que ao longo dos tempos se busque a união das manifestações comuns de religiosidade. Os vários caminhos da espiritualidade, e sendo assim que, pelo menos, se respeitem e deixem de brigar entre si. Os cristãos, em especial, por compartilharem a mesma fé no Deus único, o Pai, e Jesus Cristo, o Filho. O mundo ocidental, que se proclama cristão, mas o que se sabe é de uma fé em lutas fraticidas. Já em meados do século passado, depois de dois milênios de evangelização, em cada três homens haver apenas um cristão. Desolador esse rebanho  de cristãos divididos em igrejas, em denominações, em seitas, que se ignorem e até se odeiem, o que é muito grave.
         
       O nome de ecumenismo é dado ao movimento que prega a unificação das crenças cristãs. Os cismas e dissidências constantes, quando se sabe qual é a verdade do cristianismo, em que bases a fé cristã se sustenta. Diz Paulo aos seus discípulos em Corinto: “Vós fazeis Cristo em pedaços.” (Cor 1,13 ). Uns se dizem de Paulo, outros de Pedro, enquanto há os que pretendem ser os únicos a falar em nome de Jesus. Conquanto permaneça a nostalgia da unidade. Já nos primeiros séculos a Igreja foi dilacerada  por tendência diversas, sem nunca faltar quem alertasse os espíritos sobre o absurdo das divergências, consideradas  heresias, que aqui e ali espocavam. Foram realizados Concílios, para serem discutidas as dúvidas, e serem sanadas as divergências.
          
       Em Tertulião, por volta do ano de 210, no seu tratado contra Marcião, surgiu a célebre imagem da túnica sem costura, utilizada desde então pela Igreja. Uma tessitura única da túnica vestida por Jesus em sua passagem no mundo, que depois da morte na Cruz, foi herdada pelos verdugos, que não quiseram dividi-la. Também o lençol que envolveu o corpo morto do Mestre da Galileia, veste sobrenatural, encontrado no túmulo vazio, deixada pelo ressuscitado como lembrança, aos seus seguidores. Madalena quem esteve primeiro no local para logo em seguida ir ao encontro dos apóstolos dar-lhes a notícia. A pergunta que se faz. A túnica rasgada de Jesus várias vezes rasgada? Em 1054 houve o Cisma entre Bizâncio e Roma, dando origem a duas Igrejas, e consequentemente Concílios para que as partes se sentassem lado a lado e discutissem sus diferenças, e mantivessem a unidade. No século XVI ocorre a ruptura causada pela Reforma de Lutero, causa de “grande aflição”, nas palavras de...
        
Aceita a separação entre a Igrejas Ortodoxa e a Igreja Romana. Mas a ideia de reconciliação, ou de ecumenismo,  sempre esteve em pauta. A Túnica inconsútil teve e tem grandes defensores da sua integridade. Em 1583, a propósito da reforma da calendário, seu promotor, o papa Gregório XIII, manteve correspondência com o patriarca Jeremias II.  Em 1630 O patriarca Cirilo de Beréia tentou reatar as relações  com Roma, mas em três anos era deposto por um concílio do Oriente. O papa João XXIII utilizou oficialmente a imagem da Túnica. Os Concílios Vaticano I de Pio IX e Vaticano II de João XXIII trataram do ecumenismo.
         
       Outra hora penosa para a fé cristã foi a Reforma de Lutero. Desde os primórdios, sempre  houve quem visse possibilidade de reconciliação entre católicos e protestantes.  Erasmo injustamente julgado pelos católicos, e acabou punido com a morte. São Vicente de Lérins (sec. V) é quem nos fala: “ A fé é aquilo que foi criado, sempre, em toda parte e por todos.” Os reformadores sendo convidados para participarem do  Concílio de Trento, quando esperou-se a presença dos luteranos, pelo menos. O caminho para o ecumenismo que se intensificou no século XIX. O universo alargou-se. Tendeu-se para o cosmopolitismo. Pio IX certo dia recebeu a visita do pe. Inácio  Spencer para suplicar-lhe que tirasse a palavra herege para designar os anglicanos, e com essa intervenção foi adotado o termo acatholici  (não-católico).

Schleiermacher, um dos mestre do pensamento protestante, declarou formalmente ter como “noção da verdadeira Igreja a união pacífica e cosmopolita de todas as comunhões existentes, sendo cada uma delas tão perfeita quanto possível no seu gênero”. O humanismo ateu, sob todas as suas atuais formas, é que seria a maior ameaça contra fé cristã em todas as suas manifestações.  A unidade como um movimento  que se esboça, pela simples desejo de obediência aos princípios cristãos de compreender o irmão, o próximo. O certo é que entre católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos acha-se presente o desejo de união. A importância do movimento missionário tanto para católicos e protestantes. Em Kierkegard tem essa frase lapidar: ”O catolicismo  e o protestantismo estão ligados um ao outro como duas partes de um edifício que não se pode manter em pé e ser bem sólido sem que as duas partes se apoiem uma à outra”. E se possa dizer que são como duas almas gêmeas.


quarta-feira, 24 de junho de 2020






                   MADRINHA GALANTE






Era com admiração que Maria olhava para as figuras respeitáveis da suas professoras, entre elas sua madrinha de batismo, Galante, como o tio chamava a prima Eglantine. Professora e anjo da guarda de Maria nos seus primeiros anos de estudo,  aconselhou a comadre Diva a colocar sua afilhada no conceituado colégio Santa Teresa, com excelente nível educacional. Ainda com vantagem financeira de Maria aproveitar os livros da prima um ano à sua frente nos estudos, costume na época.

Em determinados momentos o que mais importa é fazer a coisa certa. Tem pessoas com o dom de saber o que deliberar, o conselho a dar, quando sua interferência se faz necessária. Tempos atrás era normal que assim ocorresse, as pessoas com as “antenas” ligadas para detectar quando agir em benefício do próximo. Dom que se perdeu ao longo do tempo, o que parece. As pessoas hoje ligadas em outras ondas, tão mais contundentes quanto inúteis, servem simplesmente para distrair, quando não afastam as pessoas do bom caminho, o caso da TV.

A família tomava café quando a madrinha Galante chegou com as papeis para a matrícula de Maria, que a partir dai ia ser aluna  das freiras, receber o melhor ensino escolar, até mesmo educação para a vida toda. Falou a madrinha Galante para Maria: “Uma grande oportunidade em tua vida, faças tudo por merecê-la.” E diante da perplexidade de Maria, acrescentou com autoridade: “Mais emoção, menina!”

Maria baixou a  cabeça, sem tempo de sentir algo que não fosse expectativa, medo. Afinal nessa idade, qualquer gesto de rejeição, e pronto, os olhos enchiam-se de lágrimas, no caso, deviam ser lágrimas de felicidade, ter uma madrinha tão boa que se preocupava com ela. A educação que era levada a sério, as pessoas não fugiam das suas responsabilidades. Imagina um ministro da Educação fugir para Miami! Fazer igual ao oponente, aquele político de esquerda. A educação numa fase ruim, como se vê na atualidade brasileira. Quando é do conhecimento de todos que só um povo educado, gente honesta e verdadeira pode fazer o país avançar.

Maria lembra quando mais tarde a madrinha Galante veio à  sua casa naquela tarde, o olhar sempre o mesmo, de carinho e atenção às pessoas. Acomodou-se na "cadeira de avião", que fazia par com a outra a seu lado, onde a afilhada estava sentada. Pelo rádio sabia-se do fim da Segunda Guerra, e o irmão de Maria falou sobre o ditador morto: “Aquele lá era uma besta quadrada”. Cheio de esperança, o garoto não podia então imaginar que mundo continuaria o mesmo, com ditaduras e mais ditaduras sanguinárias. O mundo se libertara de um poder maligno, festejava  Galante com os parentes.

Passam os anos, Maria via pouco sua madrinha, e sentia por nunca lhe ter dito da sua gratidão, nem haver presenteado essa pessoa tão especial, o que não pode mais fazer.  Certo que o melhor presente de uma afilhada para sua madrinha, ou de um aluno a sua professora, é que seja um pessoa humana verdadeira.


terça-feira, 23 de junho de 2020

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      O PRIMEIRO NEGÓCIO NINGUÉM ESQUECE





Ter sucesso nos negócios, como em tudo na vida, depende de vários fatores a serem avaliados, o produto seja vendável, atingir o alvo, ou seja, o freguês, o que ensina um bom manual de economia. Maria lembrou dos primos, quando se arriscaram pela primeira vez como empreendedores. Há risco, sim, mas tudo aconteceu por acaso, quando os três passavam por uma rua próxima de casa, e avistaram de longe alguns garotos na rua lutando em vão para empinar algo, e não era uma pipa, zangados por não obterem sucesso. Ao chegarem perto viram uma tosca “curica”, feita com um quadrado de jornal, armado com duas talas em cruz.

A cidade antiga, as ruas muito estreitas, e aqueles lá tentavam o impossível. Mesmo que houvesse vento bom para a empreitada. De lamentar o que viam diante dos olhos, o mais novo dos primos de imediato tendo uma ideia, justo ser ele, que jurava para si mesmo um dia  ficar rico, ia ser inventor. Não era o caso agora de inventar nada, já existia o pipa, até a “jamanta”, que via homens já velhos dedicados à diversão no campo do Ourique. Coisa de moleques, dizia-lhes mãe e tia. Miguel vendo à sua frente uma boa oportunidade para dar início ao acalentado sonho de ganharem dinheiro. Falou aos demais que podiam fazer pipas para vender, aqueles seriam seus primeiros fregueses.

Aceita a empreitada, ao chegarem em casa deram tratos à bola, como havia de comprar o necessário para dar andamento ao projeto. Lembraram da venda na esquina da rua, tinha tudo o que precisavam: papel de seda colorido, varetas, goma, linha e algodão. Será que dona Maroca ia vender fiado para eles?  Iam arriscar. Foram recebidos com um sorriso no rosto, eram filhos de sua amiga Doralice, iam fazer pipas para brincarem nas férias que iniciava naquele mesmo dia. De imediato a vendedora colocou tudo a disposição dos garotos, que saíram dali satisfeitos.  “A mãe tinha razão “ pensou Miguel, “mais vale amigo na praça que dinheiro na caixa”.

Não foi tão fácil a confecção das pipas. A certa altura entrou em ação a irmã mais velha de Miguel, artesã famosa, que lhes deu dicas preciosas. O segredo era medirem bem para dar equilíbrio aos dois lados do papagaio e não ficasse penso, pois jamais subiria.  Tudo pronto, lá se foram eles ao encontro dos fregueses, que já haviam desistido de empinar suas curicas. Ao verem os objetos ambicionados nas mãos dos vizinhos, não hesitaram em comprar uma delas. Escolheram a maior e mais bonita, opinião unânime.Jà tinha linha boa e suficiente para que o papagaio subisse às alturas.

Os primos felizes pelo sucesso daquele primeiro negócio, sócios em empreendimento futuros, não iam parar ali. A caramboleira do quintal estava cheia de frutos... Ainda contavam as moedas recebidas, quando escutaram os gritos vindo do corredor da meia-morada. As pipas não subiram, os compradores descontentes reclamavam em alto e bom som, estavam ali para devolver o produto e receber o dinheiro de volta. Os vendedores escondidos atrás dos móveis, enquanto os novos moradores do bairro, renomados brigões, a ameaçá-los: “E se nós quebrarmos tudo aqui?” Diziam sem o menor respeito para com o pequeno santuário,  erguido logo na entrada. Invasores bárbaros, que não se davam conta das ameaças que faziam.

Diante das ameaças os vendedores acabaram por apresentaram-se para resolver tudo, o dinheiro devolvido, tostão por tostão, sem que dona Diva tivesse seus santos profanados. Mas nada havia de errado com o produto, os dois lá é que não sabiam empina pipas, o que requer perícia, como tudo na vida. Maria lastimou o acontecido: “Hereges, o que certamente eles são”. A irmã de Miguel prontificou-se a vender os pipas na feirinha da praça da Alegria, da qual participava todos os domingos com seu artesanato. Não restou nenhuma pipa. E a que estivera nas mãos dos piores fregueses do mundo, ficou como troféu na mesa de cabeceira de Miguel, colocado ali pela mãe, inclusive, para alertá-lo de possíveis e evitáveis encrencas futuras.