sábado, 8 de abril de 2023

  FELIZ PÁSCOA



                       SIMPLESMENTE MÁQUINAS

 

S. LUÍS MA


Lá estão elas para darem início ao agradável costume do encontro às quintas-feiras. Semana Santa, ocasião  para renovar os votos de fé em Cristo e augurar felicidade para as comemorações do domingo de Páscoa. Já escolherem no cardápio os acompanhamentos para o café. Na faixa dos sessenta, Maria e Mirtes beiram os setenta anos, enquanto Aurora acaba de dar início à  sua velhice. Que velhice? Ela pergunta antes de dar início a sua fala. 

— Como hoje é feriado, já pedalei, o que faço costumeiramente nos fins de semana, também aos domingos. Aprendi a andar de bicicleta na infância, mas só depois de adulta fiquei assídua no esporte que me faz “sair por aí”, depois de uma semana dentro de uma sala em frente à mesa de trabalho. Já o Antônio, meu marido, a essa altura está voltando de uma competição na Argentina. De minha parte me faz simplesmente bem andar de bicicleta, o que é muito saudável, embora seja hoje meio de transporte para alguns, como acontece em alguns países europeus.

Maria gosta de pesquisar sobre tudo, fala a seguir:

— A bicicleta foi designada de início para o lazer, brinquedo infantil. Sofreu modificações, evoluções, e até mesmo participou de revoluções, o caso da revolução industrial. Mas o meu maior prazer é andar de carro, fruto do sedentarismo. E se compararmos o carro com a bicicleta, ela ganha em termos de saúde, embora perca no quesito conforto e rapidez, o que vale para esse nosso tempo, em que se passa a maior parte do tempo apressada. Ambos suprem bem as diferentes necessidades de locomoção.

Mirtes tem algo a dizer sobre andar de bicicleta, ou ter um carro para locomover-se, o que não é mais um luxo, como acontecia no tempo de sua mãe:

— A cultura da direção é recente, hoje temos as regras de trânsito, universais, a serem aplicada aos condutores de veículos motorizados no mundo todo, com algumas diferenças, no Reino Unido, por exemplo, a direção é do lado direito do motorista, e por aí vai. Mas o certo é que aprender a dirigir é para todo mundo como um passaporte para a vida adulta. Aprender a dirigir, tirar a carteira de motorista, o potencial que essa conquista representa. O carro torna-se um castelo, a estrada uma geografia a ser explorada numa velocidade, nunca dantes imaginada. A atividade de dirigir pode levar a um estado de transporte quase mágico. Simplesmente máquinas, e  muito amadas, que ninguém nos tire o direito de ir e vir em nosso carro, ou numa bicicleta, se for o caso.

Aurora pensa na vantagem em ter a idade que tem, e sorrindo rebate:

— Pelo menos uma vantagem nos é dada a partir dos 60 anos, quando podemos estacionar em local reservado aos “idosos”. E se chegamos à velhice temos mais que aproveitar dessa maturidade que conquistamos ao longo do caminho. Shakespeare diz em seu verso que “a maturidade é tudo”. Dignidade se dê aos mais velhos. E nas derradeiras décadas possamos usufruir dos dividendos que ganhamos das reservas de virtudes acumuladas. E ao chegando aos portões do céu nos sentirmos acolhidos.

Por algum minutos as três amigas ficaram caladas, como a digerir as   palavras de Aurora. Foram-se os últimos petiscos dos pratos, e quando voltaram a falar foi sobre coisas triviais, como as chuvas que caem com intensidade ainda em Abril, empurrando a seca de Brasília para mais adiante. Verificam que a tarde passou com rapidez, e se despedem, cada uma levando para casa uma lembrança de Páscoa, com que se ofertaram mutuamente. Até o próximo encontro.

 


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