terça-feira, 27 de agosto de 2013




           

                                    BERÇO DE PEDRAS
           
            
                       



           A vida pode ser como aquela visão carismática de um rio que corre suave e límpido sobre pedras. Pedras que representam não só as dores, os sacrifícios, mas as alegrias, os prazeres, que tiverem consistência, e vão pavimentar a estrada, essa corredeira de águas límpidas, como deve ser a vida. No conto medieval de João e Maria, por duas vezes eles tiveram de partir da casa dos pais em dificuldade para sustentá-los. Da primeira vez levaram pão seco para marcar o caminho, migalhas que sumiram devoradas pelos pássaros. Da segunda fizeram um caminho de pedras. Não havia destino certo naquela floresta medieval para onde se dirigiram, tornaram-se prisioneiros da bruxa má e sua casa de doces.
          Foi com pedras que os lenhadores forraram a barriga do lobo, após matar o animal astuto, que habita a floresta, sempre à espreita de uma presa, e que aborda Chapeuzinho com sua sesta de doces para a avó. Doçuras maternas, diferentes das guloseimas dada por estranhos para seduzir os incautos. A menina devia seguir pelo rio, caminho mais seguro que a mãe lhe indicou, aberto por doces águas. Mas ela escolhe atravessar a densa floresta, habitada por aquele animal, o que há de selvagem na natureza. Um rio caudaloso representa na modernidade os avanços tecnológicos e científicos, do conhecimento, bem verdade que de águas poluídas. O consumo que embala a vida moderna, hoje uma floresta da insensatez, alguns perdidos nessa floresta.
           Há os abandonam o caminho do rio para seguir a estrada enlameada do vício, que leva ao delito, à destruição, e as pedras hoje são de craque, consumidas como se fossem doces regalos para alma.  Não esqueçamos que sólidos castelos são erguidos com pedras resistentes às intempéries. Pedras de verdade, que representam sacrifícios e dores, com que se constroem os mais belos exemplos de vida.
                                                      
                                “De pedras foi o meu berço.
                                  De pedras têm sido meus caminhos
                                  Meus versos pedras quebradas no rolar
                                  E no bater de tantas pedras.”
                                
                                           Cora Coralina


          
          

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