quinta-feira, 4 de abril de 2019






CONTO


              MARIA ESCUTA A MÃE






A mãe de Maria e seu pai escolheram aquela casa para comprar, pois podiam bem imaginar que iam viver nela a vida inteira. O imóvel em péssimo estado de conservação, mas eram bem  localizado, de acordo com seus interesses. E nem pensavam no trabalho que iam ter para a reforma, só viam um sonho que realizavam, e ainda podiam imaginar as perspectivas que tinham, e ia mantê-los ocupados daí para frente. Ocupação, regra nº 1 da vida.  Não ter tempo para lamúrias. E pode ainda sobrar tempo para fazer piada, herança de família, que a mãe de Maria cultivava, além de outros bens herdados.

Planejar e agir para que as coisas aconteçam como se quer, e sem preocupação, ou medo, que não deem certo. Não querer acertar sempre, nem ser feliz a qualquer custo. Maria escutava sua mãe psicóloga falar coisas que calavam fundo na alma. Como era bom saber que os dons nascem com a pessoa, aliás, todos têm; uns mais, outros menos. Mas, além da hereditariedade e da educação familiar, há a criação própria de cada um. Enraizado na alma o dom de ser feliz, basta que se tire de dentro a paz e alegria almejadas. Por fim, a filha devia entender que um estado de alma feliz não seria consequência do ter e do poder. E não perder a esperança.

— Vale até esperar ganhar na loteria? Brincou Maria.

— Esperar resultado do estudo, do trabalho, e contar ainda com sua sorte.

Maria perdera o nome da memória, mas um colega de serviço contava que havia chegado à Capital Federal numa boleia de caminhão, e ali estava ele ainda jovem como funcionário concursado do TCU, o que não é nada fácil. E continuava seus estudos para subir na carreira.  Mas tem gente que não para de se lastimar, acha que trabalha demais e não tem tempo de ser feliz. Pelo contrário, ser feliz começa pelo trabalho e termina com mais trabalho. Não tem como ignorar essa realidade. Se você é capaz, sonho e realidade se encaixam perfeitamente.

O mau humor faz muita gente sofrer, disso Maria não padecia, mas entendia tal estado, como falta de ocupação, além da má educação. A lição recebida é, seja qual for o trabalho, que ele lhe dê ânimo de viver. E não se zangar pelo arroz que queimou, pela taça que se partiu, pelo prato quebrado, pelo carro que envelheceu, esquece de levar para a revisão e deu prego. São  oportunidades de testar a paciência, ou de aprender a se sair das enrascadas. Os melhores amigos conhecemos quando estamos em perigo, também os bons colaboradores e as pessoas que estão perto e ajudam nas horas difíceis, assim como compartilham as alegrias.

— Existe felicidade maior que estar vivo e com saúde, mesmo que aconteçam imprevistos?

Perguntou a psicóloga à sua única filha, que atravessava um momento difícil. E ainda profetizou que a humanidade já tinha tudo para aliviar todas suas dores, sanar os grandes sofrimentos do mundo, até mesmo conseguir curar todas as doenças. E concluiu:

— Esse será nosso futuro, se assim o desejarmos. Ou então será o fim.
               

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