quarta-feira, 28 de agosto de 2019






conto


                      AINDA ONTEM






Aquele olhar, o que queria dizer? Eulália a se perguntar sobre aquele marido que mirava sua mulher com se a estranhasse, foi o que lhe ocorreu na ocasião. No fundo dava para simpatizar com eles, pareciam recém-casados, estavam sentados  a sua frente. Afinal, o quanto se sabe sobre essa ou aquela pessoa, mesmo aquelas com quem convivemos? Pensando assim, Eulália enche-se de esperança, que tudo ia sair bem para aqueles dois. Passaram-se os anos e ela continuava  a pensar na moça sorridente e feliz ao lado do rapaz, ele talvez a se questionar se ambos tinham ao seu lado a pessoa certa. Estavam numa festa, e pelo que Eulália percebeu, a jovem esposa, por intuição e até mesmo por sua credulidade feminina, acreditava que os dois foram feitos um para o outro. Seu marido é que parecia estar menos confiante na vida que ora iniciavam, o futuro em aberto para ele e suas conquistas. Já a realização da mulher ficava por conta da felicidade familiar, então vigente.

Firme o chão que então se pisava, tanto para o casal, quanto para  Eulália,  que já chegava aos trinta anos e ainda solteira, mesmo assim cheia de esperança no futuro, plena de fé no casamento. E sendo assim, naquele dia viu a sua frente uma futura mãe corajosa, que acreditava no passo que dava, sem qualquer imposição pessoal ou de fora. Tudo haveria de correr como devia ser, sem qualquer ressentimento da parte da mulher para com o homem e seu machismo, contra o que as feministas começavam a protestar, não aquela ali. Só estava intrigada com aquele olhar de medo, quase sádico, do marido em direção a sua tranquila e segura mulher. Mas eleó sabia que ela não era nem uma Poliana nem uma Malévola

Eram dois jovens indefesos, predestinados, que inconscientemente pressentiam de forma diferente a salvação, ou a perdição, vinda do futuro. E Eulália não podia adivinhar o que ia realmente acontecer, seria o mesmo que prever um final  para história ainda não escrita. Eles não estavam terminando alguma coisa, mas no começo de suas vidas, inteiramente novas, o que é bem diferente. É o modo correto de expressar a situação. Só mais tarde é que se pode ver tudo com nitidez. De repente o culpado pode se transformar em inocente e o inocente em culpado.  Às vezes nunca se fica sabendo se há culpado ou o inocente.

O certo é que o inocente não deve sofrer. O quanto é grave deixar de levar em consideração as questões ou implicações que podem minar, ou destruir as relação familiares. Mas o que não se deve  é  antecipar o que pode acontecer. É temerário querer especular. As coisas mudam de um momento para outro, o que pode ser alarmante. Muitos segredos  há para serem revelados, quase  uma trama policial.  É terrível que ninguém saiba identificar o erro, para evitar, emendar, corrigi-lo. Os olhares trocados,  os silêncios, a suspeita corroendo as relações familiares, levando à destruição do amor e da confiança. Parece exagero falar assim, mas não é.

Eulália não podia julgar aqueles dois naquele momento. Até podia imaginar o casal no futuro confessando um ao outro: ele suas dúvidas passadas, ela suas certezas. O sucesso daquela relação, ou fracasso, naquele momento. Mas a preocupação do homem e a confiança da mulher resultou no fiel da balança. De repente a paz, o o que eles  mais queriam, e gozar o futuro que ainda lhes restava, depois do dever cumprido traz. Os filhos criados e bem encaminhados. Confortavelmente instalados, se estivessem em outro lugar, o sentimento seria o mesmo, basta que tenham sido corajosos parceiros no amor e em muitas conquistas.

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