quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 

                             
                                                                O PLANO DE DEUS

 

 

Ladeira de S. Luís -Ma

 

Mês de novembro, a expectativa ainda maior para os festejos desse fim de ano, debelada a pandemia, com a vacinação em massa. Clara, Sofia e Valdete são moradoras do mesmo Condomínio, e juntas compartilham um curso de decoração para o Natal, oferecido pelo shopping da Barra.  É o último dia de aula, a confraternização acontecendo em um dos 16 Cafés existentes no local. As moradoras da zona Norte já se despediram, com votos de boas festas e feliz entrada de ano, iam pegar o metrô. A três continuam sentadas, Sofia dando início ao assunto que acha ser importante abordar no momento:

— Às vésperas dos 80, constato o quanto mudou o mundo e mudamos nós. E se há o que comemorar, até abençoar, o caso do feito heroico dos cientistas contra o covid19, também há muita coisa que desmerece esse ser racional. O homem parece que endoidou de vez ao imaginar que pode tudo, e chego a pensar que essas maravilhas tecnológicas podem acelerar o caos em que se vive. E se não cuidarmos enquanto há tempo, esse nosso tempo de vida terrena logo chegará aos estertores. Vocês, o que acham?

Pega de surpresa, Clara não diz nada, Valdete se adianta:

            — Como seres humanos, possuímos o livre arbítrio, sendo da competência de cada um fazer suas escolhas, e o quanto de erros a gente comete hoje em dia, como também cometeram nossos antepassados. Estive pensando sobre o motivo pelo qual as pessoas particularmente optam pelo plano B, e outros planos mais, em detrimento do plano A, que é o plano de Deus, e viria em primeiro lugar, no que acredito. Estamos chegando às últimas letras do alfabeto.

             Clara está com a sensibilidade aguçada, passa por um momento delicado, duas mortes na família pelo covid19. Dá seu aparte:

            — Fatalidades acontecem, e ficamos, às vezes, sem escolha, não sendo incomum deixar que escolham por nós. Até mesmo nos deixamos levar pelos planos dos outros, em detrimento dos nossos, acontece consciente ou inconscientemente. Tem o que nos atropela, tem o que nos escapa...

Valdete responde de pronto:

— Sim, o tanto que nos escapa das mãos, o que nos foge das vistas! Ainda nos iludimos ao pensar que a escolha é nossa!... Às vezes é melhor assim, deixar irem pessoas e muita coisa. Mas que fique o melhor de nós mesmas. Complica quando a gente se arvora em querer resolver tudo, até mesmo ser o que não é. O homem atingiu o auge da incompetência para viver. Desaprendeu de pensar, e tudo lhe chega mastigado, através dos aparelhos, que hoje são extensão de si. Informação que não nos serve para nada.

Clara já havia pedido outro cafezinho, e antes de falar oferece às demais, que vão também degustar nova rodada da preciosa bebida  acompanhada de salgadinhos.

— Queremos harmonia e encontramos o caos; buscamos coerência e o que nos chega é essa atual visão de vida desagregadora; almejamos o pertencimento e não encontramos lugar que nos caiba por inteiro. O que não falta são as vozes contraditórias, que tentam apagar a chama da fé e fazer brilhar as trevas.

Há uma pausa, até que Sofia, a mais velha, sempre coerente, conclui:

— Temos que valorizar quem  somos de verdade, e não dar muita atenção ao que está fora de nós. Ainda temos tempo. E vocês, que estão com cinquenta e sessenta anos, têm muito tempo. Natal, marco da nossa civilização, preparemos a melhor celebração, mesmo que 2021 tenha sido um ano difícil merece ser celebrado. Certo que, além do que planeja o homem, há o plano de Deus. Dá para iniciar o novo ano tendo em mente a frase: “Ir em frente, e, mais ainda, resistir”. 

Hora da despedida, combinam então outro  encontro para as compras, e mais um  papinho como esse, ainda naquele ano.

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