quarta-feira, 2 de março de 2022

 

COMENTÁRIO DE LIVRO

    

ORGULHO E PRECONCEITO

 

                                       

                                         Murilo Moreira Veras

 

Em nosso encontro de 28.02.22 no Clube do Livro foi escolhido para a apreciação Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (1777-1817). É o primeiro romance da autora, publicado em 1813, em Londres, com o título Pride and Prejudice.

Confesso que tinha o livro na estante de casa, mas não o havia lido, sempre tive a inglesa como autora para moças, e só um pouco mais que isso. Comecei a ler Austen com má vontade, mas o texto belamente escrito acabou por surpreender-me, o conteúdo indo muito além de uma simples novela de costumes, como também pensava que fosse. Agudeza e escrutínio psicológico a desvelar a sociedade inglesa, anterior à Revolução Industrial. As elites familiares na retranca, e pouco dispostas a ceder espaço à nova era que se aproxima.

Narrativa é sobre a família Bennet, formada pelo marido Mr.Bennet, sua esposa, Mrs. Bennet, e as cinco filhas do casal: Jane, a mais velha, Elizabeth, a segunda, Katherine ou Kitty, a terceira, e as duas mais novas Mary e Lydia. Cada uma das moças tem um caráter próprio, responsável pelo desenvolvimento da linha da ação do romance. A doce Jane é muito bonita, está na idade de casar. Elizabeth é menos bonita e tem um temperamento forte.  E, ao contrário das  irmãs mais velhas, as duas mais novas comporta-se mal socialmente, as futuras periguetes, assim como Elizabeth camba para o feminismo, não esse feminismo desvirtuado de agora. Intriga a atualidade da narrativa.

Os bens de Mr. Bennet constituíam-se da  casa própria e da pequena propriedade de onde tira sua renda. Mrs. Bennet quer ver as filhas casadas, se possível alcem a um nível social digno delas, e para tanto participam das festas da elite, e sejam apresentadas a bons pretendentes,  normal para uma mãe em qualquer época. Essa, em especial, está demais ansiosa, afinal, são cinco filhas para encaminhar. Enquanto isso o pai  não se preocupa tanto, sequer concedeu  às filhas os devidos dotes, mas flexível aos anseios da mulher.

Eis que chega à cidade Mr. Bingley, herdeiro de grande fortuna, acompanhado do seu amigo, Mr. Darcy, também muito rico.  Conforme o costume da época é promovido um grande baile para comemorar a chegada dos dois afortunados repazes. Mrs. Bennet sente que havia chegado a oportunidade para suas encantadoras filhos, o que realmente acontece. Mr. Bingley vê-se seduzido pela bela e doce de Jane. Já Elizabeth é alvo de atenção de Mr. Darcy.  Contratempos  ocorrem, as famílias dos rapazes não aceitam de bom grado as eleitas, mas acabam por ceder, diante dos encantos das jovens. O snob Mr. Darcy a princípio se desentende com a perspicaz Elizabeth, até acertarem os ponteiros.  

A certa altura da trama, Lydia, com apenas dezesseis anos, foge com Mr. Wickham, de passagem com seu regimento, rapaz de má fama, consternando toda a família, o que causa constrangimento à família, que resolve a situação da melhor maneira, casando a moça. Jane Austen não se casou e morre aos 44 anos, o que singulariza sua escritura, realizada ainda bem jovem, a competência com que soube armar seus romances. Os homens, herdeiros das fortunas das famílias, o que fazem? Caçam, bebem, vivem o bom e o melhor, enquanto as mulheres correrem atrás deles. Cheios de si eles às vezes se equivocam, a exemplo de Mr. Collins, um jovem clérigo, ridículo em sua disposição para casar, que escolhe Elizabeth, mas é rejeitado, cai na real, e acaba por encantar-se da amigável Mr. Wickham, os dois feitos um para o outro.

No cap. LVI há o diálogo vulcânico entre Lady Catherine de Bourgh, tia de Mr. Darcy, com Elizabeth. Enquanto a ricaça é pura arrogância, Elizabeth demonstra  equilíbrio e brilho pessoal.  Falas,  diálogos, observações, típicas de uma autora educada na religião puritana, sendo ela filha de clérigo com o qual teria recebido lições de vida e com uma boa biblioteca particular, nem colégio, nem faculdade. Alguns anos depois, em 1832, surgiria Louisa May Alcott , autora de Mulherzinhas , também mundialmente famosa. A americana Alcott e a inglesa Austen em contextos sociais bem diferentes.

 

                                                                         Bsb, 12.02.22

 

 

 


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