terça-feira, 2 de agosto de 2022

 

                             ASSUNTO PARTICULAR

 

S. LUÍS - MA

Embora o assunto seja particular, mesmo assim, Maria resolveu contar aqui as surpresas em série, que teve no passado. Reconhece que há boas surpresas, como também existem aquelas que em nada acrescentam, e são até desagradáveis. E quando a surpresa faz parte da cadeia improdutiva da ignorância e do atraso, configura-se uma tragédia. Avisa a sabedoria popular que “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”. Para melhores esclarecimentos, continuo.

Maria ganha uma bolsa de estudo e vai estudar em S. Paulo, o que não é bem uma surpresa,  mas consequência da sua dedicação aos estudos. E quando recebeu a notícia vinda da melhor amiga  em S. Luís, que  ela acaba de noivar no interior da Bahia, logo após o carnaval, essa sim, foi uma surpresa das mais impactantes. O casamento marcado para as férias, sendo imprescindível seu comparecimento à cerimônia, foi avisada por carta.  E de rebote mais surpresas, que a os noivos já haviam comprado as passagens de avião dela. e uma pessoa estaria a sua espera no aeroporto. 

E lá se foi Maria conhecer o interior baiano, e quem sabe ganhar amigos para sempre. Com ajuda financeira dos tios levava na bagagem uma caixa de pequenas lembranças para os nubentes e demais familiares, que ainda não conhecia. Um primo do noivo esperava por Maria para acompanhá-la a seu destino. Tratava-se de uma pessoa  surpreendentemente chata, que desde o desembarque não tirava o olho da amiga da noiva, que começou a desconfiar de armação...  Pensou na mãe que se estivesse a seu lado lhe diria: "Quem manda sair de S. Luís em busca de um futuro melhor." 

Três dias de festa na rica fazenda de cacau dos pais do noivo de Alice, com bebida e comida a fartar, coisa de gente que só pensa em se exibir. "E ninguém saia reclamando", explicaram. Ocasião da pessoa testar sua paciência, e Maria ainda escuta uma parenta do noivo criticá-la: "Moça mais sem graça essa amiga da  Alice". Além dos comentários velados sobre a vivaz noiva que ia casar com um homem rico, salva da miséria. Difícil livrar-se do estigma de ser uma "pobrezinha" digna de pena. Maria pensou na situação feminina, a mulher sem direitos iguais ao homem, considerada gênero inferior. Sendo que a maior conquista da mulher é sua independência financeira, através do estudo e trabalho.

No começo do mundo Eva foi seduzida pela serpente no Paraíso, no bem-bom comeu a maçã proibida junto com Adão, afastaram-se de Deus. Culpa da mulher que passou a sofrer as dores do parto, enquanto o homem devia ganhar o pão com o suor do rosto. Ambos castigados de forma merecida, justa. As seduções aumentaram à medida do desejo do homem e seu poder criativo, igua serpente venenosa, que cada vez mais distancia o ser humano de sua essência, numa penosa conquistar do poder pelo poder. Surge o dinheiro, que toma o lugar de Deus na cabeça do homem atual e ateu, enquanto a mulher passa a sofrer cada vez mais o domínio do poder masculino.  

A mulher dita moderna fala em independência, pensa Maria, que vê a mulher numa dependência crônica para com  todos ao seu redor. A mesma e antiga Eva, que em vez de manter uma relação construtiva para com seu parceiro, quer tomar-lhe o papel, ser dominadora.  E onde está a nova Eva para pisar na cabeça da serpente? Mudando de pau pra cacete, conto que a miga da noiva já estava de  volta das bodas, trazendo na bagagem uma garrafa de “cachaça da cabeça” vinda do alambique do esposo do agora marido da sua amiga. Presente para ser ofertado ao tio paulistano, que nos seus oitenta anos, detestava a bebida, não por preconceito, mas devido alcoolismo na família. Maria pensou em duas opções:

Primeira opção: Ainda no aeroporto de volta,  depois de se livrar da companhia do chato ao  lado, dar a garrafa de cachaça ao carregador das bagagens, que certamente ficaria contente com a lembrança  da sua terra natal.  

Segunda opção: Entregar a garrafa da "infame" bebida para o tio, e arriscar até mesmo perder o convívio de pessoas tão boas e amigas. E nunca esquecer aquele tio-avô, que vendo a dificuldade da sobrinha com uma matéria, foi pesquisar nas livrarias e chegou com um livro providencial. 

Adivinhem qual opção que Maria escolheu!!!...



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