quarta-feira, 18 de outubro de 2023

 



                                O SILÊNCIO  II

 


               

              É incontestável o valor do silêncio no mundo barulhento de hoje. Antes silenciosas, as coisas hoje fazem barulho como nunca, assim como as pessoas, que são por demais barulhentas. O silêncio ganha cada vez mais significado, o que se perde quando se trata da ausência da palavra. E falar é a forma do ser humano transmitir seus pensamentos, comunicar-se com os demais.

               Há muito deixou o homem de ser aquele selvagem, que se comunicava por sons guturais, ou através de sinais. O significado que ainda têm os sinais, mas é com a palavra falada e escrita que se aprende a  comunicar-nos uns com os outros, em primeiro lugar. Diz o ditado que “Para o bom entendedor meia palavra basta”. Ou até palavra nenhuma, pois quando a gente vê, ou toca uma pessoa alguma coisa é dita. E que bom André ter chegado, mesmo que estivesse ali ao lado dela em silêncio, a quietude dele em consonância com tudo em volta.

              A comunicação através das palavras, o que realiza o homem civilizado no seu dia a dia. Marta podia arriscar a pergunta ao seu noivo silencioso: “O que você está pensando?” Tinha, todavia, receio de ser atrevida, de querer invadir o pensamento do outro, e ele mesmo podia não estar pensando em nada, tem pessoas assim. Não era assustador, parecia natural aquele silêncio, como se não houvesse nada a fazer senão ficarem os dois calados um ao lado do outro. Falar não ia ter nenhuma consequência, tudo ia acontecer do mesmo jeito, já havia sido decidido anteriormente, predeterminado a ser assim.

                  O noivo silencioso e a noiva evitando o atrevimento em falar-lhe. Próximos, mas nunca  íntimos antes das núpcias, quando ficariam mais próximos. No dia das bodas ele ficou ao lado dela silencioso como sempre. À noite ela simplesmente ficou parada olhando para ele, até que o vê abre uma folha de papel e começar a declamar palavras de amor e fé.  Ela pensou: Um construtor de poemas é sempre confiável. 

                E por tudo aquilo que já foi e continua sendo, gratidão.


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