domingo, 26 de maio de 2024

 


                                                                      MÃOS


Por do sol da minha janela em Brasília



Costumamos dizer que “os olhos são espelho da alma”,  palavras que  expressam nosso ver e sentir.  Eles têm correspondência com as mãos, que realizam o trabalho, e também podem exprimir amor,  devoção, e por aí vai. Lembro-me das mãos da minha mãe escrevendo cartas com sua bela caligrafia, as mesmas mãos que nos seus últimos dias as tive entre as minhas, como a dizer-lhe que não partisse, mas ela já estava fraca, com mais de cem anos, mas suas mãos eram as mesmas macias das doces caricias de sempre. Já as mãos da minha avó  recordo delas  cuidando  do seu jardim, assim como cuidava com esmero dos docinhos para festas, além dos demais labores que realizava,  e não eram poucos, sendo admirável  crocheteira .

Devota do silêncio, minha tia era muito linda, mas tinha desgosto das mãos magras, e mantinha suas unhas  sempre pintadas no vermelho vivo da moda, mãos que também  vejo acenando nas partidas, por mais perto que a gente fosse, e que apertavam calorosamente nossas mãos nas chegadas.  As envelhecidas mãos da madrinha  parece que tinham sido feitas para se juntarem em oração. Da prima Aurora via suas mãos sempre segurando um cigarro, mãos calejadas, que também falavam do trabalho na roça. Já as mão da menina cega que tocava piano na casa em frente a nossa, na Rua das Hortas, eram como mãos de um anjo.


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