terça-feira, 28 de maio de 2024

 


 

 

                                                             NO JOGO DA VIDA




 

Maria tem observado que a vida pode ser comparada com um jogo, onde as pessoas fazem suas apostas, com possibilidade de ganhar ou perder. Os relacionamentos são grandes jogadas, onde às vezes apostamos tudo, com o risco ainda maior. Temos que aceitar, e pagar para ver, consciente que perdendo ou ganhando a gente está vivendo. Bom reconhecer que fizemos o nosso melhor. Ruim é não saber como podeia ter sido. Mas dá para imaginar...

Ela não ia voltar para o Norte, mas assumia o emprego no Rio,  deixando de depender financeiramente da família numerosa, sendo a filha mais velha. Não ia retornar à casa dos pais para esperar um marido e ter, no mínimo, uma dúzia de filhos. Ainda correndo o risco de ficar solteira, como duas conterrâneas da geração anterior, que noivaram por anos, e os pretendentes as  deixaram por outras. Não desistir do seu sonho de  melhorar seu status social no mundo, como mulher, dona do seu destino, com dinheiro no bolso, o que até então só acontecia com os homens e as beneficiadas com heranças.  Além do mais, se voltasse de mãos abanando, iriam achar que ela era uma perdedora, e ainda escutar a irmã mais nova cantar em debique: “Se subiu, ninguém sabe ninguém viu”.  

As lembranças lhe vinham como em uma folha em branco para ela rever o passado. Aos dezoito anos estava no Rio, tendo uma boa oportunidade de ser contratada para trabalhar na “holerite” do BB. A demora em ser chamada era comum, mesmo aos concursados. Não ia voltar correndo para casa dos pais, com medo de perder um ano de estudo. Época em que tinha sido vetado às mulheres o concurso para ser funcionária efetiva da renomada instituição bancária. Mas havia sido avisada que as coisas iam mudar, e em breve ia ser efetivada, com a mudança das normas da instituição, que devia se adequar aos novos tempos.

 Maria estava feliz, pelo trabalho e também porque seu irmão mais velho havia chegado a S. Paulo, onde sempre sonhou em morar, na cidade mais rica do país, um outro mundo. E acabara de decidir também não retornar ao interior de Pernambuco. A noiva, que deixara lá, ao assumir o emprego no banco, não queria sair da cidade natal, conforme anteriormente combinado. E foi esse irmão quem deu a notícia para Maria que seu colega do Liceu Maranhense, antiga paquera da irmã, estava em S. Paulo, também no BB. Ela completando um ano de trabalho, já funcionária efetivada.  

Novembro, Maria ia tirar férias e aproveitar para visitar o irmão, além de conhecer sua nova namorada. Ainda podia ter um encontro com o tal paquera. A prima carioca de Maria ficou animada, e de pronto ofereceu-lhe companhia, também estava de férias do trabalho no IBGE, ansiosa por  conhecer a “terra da garoa”. Combinaram a viagem para dali uma semana. Malas prontas e lá se foram as duas primas, que já eram grandes amigas, desde que Maria chegou no Rio.

Já há dois dias em S. Paulo, Maria ia finalmente encontrar-se com o amigo do irmão, certa de que o reconheceria.  Mas ao vê-lo descer a escadaria do Masp, local do encontro, teve de imediato a certeza: ali estava o homem de sua vida. Fazia frio e ele vestia um elegante casaco preto, os olhos verdes-azulados a brilharem em sua direção, e que  dali para frente, sempre haveriam de brilhar para ela. A prima naquele mesmo ano conheceu Antenor, colega de trabalho, com quem se casaria no ano seguinte, quando também ocorreram os outros dois enlaces.

“O que é o bom para nós, — se ainda não chegou—, está a caminho”, diz sempre Maria.


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