sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016





                                     QUARESMA

 
 



Entramos no tempo da Quaresma, para o catolicismo, os quarenta dias que precede a Páscoa. Finda a folia do carnaval, bom fazer um balanço dos acontecimentos, as Escolas de Samba do Rio e São Paulo deslumbrando a plateia com seus luxuosos desfiles de reis, rainhas, deuses, demônios, palhaços, bichos de espécie variadas, celebridades e anônimos de todas as camadas sociais. A Mangueira ganhou o título de campeã carioca, merecidamente. A verde e rosa esteve impecável, e com respeito apresentou um inédito sincretismo: santa Maria católica ao lado da deusa do candomblé, Oiá. Abandonada a nudez, característica dessas apresentações de uns tempos para cá, o que só merece elogio e mais palmas. Em todo o território nacional, o povo brasileiro - no papel de super-homem em saúde e animação - brincou sem parar, ninguém preocupado com os problemas financeiros, nem com medo do mosquito Aedes aegypti. Mas chegou a hora de retornar ao comedimento, ao pão nosso de cada dia, ao trabalho, cada um com sua fé. Com tal espírito dou continuidade ao meu blog.

Nem tudo que aumenta o prazer está isento de perigo, ao contrário, são coisas perigosas, na maioria das vezes. O que é normal, ou anormal, dependendo da cultura, do conceito que se tem da natureza humana. A fé cristã e sua concepção de santidade, diferente do assolamento eufórico que pode levar a pessoa, no mínimo, a uma ressaca, igual um ébrio depois da bebedeira. Nos Evangelhos, exemplar a santa e sóbria ceia, com o pão distribuído irmãmente entre os apóstolos, que iriam continuar a missão do Mestre. Pão e vinho que alimentam o corpo, como a fé piedosa alimenta a alma cristã. A espiritualidade como meio de elevar a alma, não adoecê-la, nem rebaixá-la. Não querer banquetear-se, os desejos atiçados e as possibilidades intelectuais e psíquicas exploradas sem comedimento. Há crenças que faz apologia da morte, um crime grave. Até mesmo a prática de simples transgressões, meras travessuras, mas de péssimas consequências para a vida pessoal e social.

A Bíblia, livro sagrado do judaísmo, conta a história de alguns homens de espírito superior, José, por exemplo, personificação da supremacia moral, não a racial. O filho de Jacó obediente ao seu Deus. Diferente do super-homem idealizado por Nietzsche, que bendiz o eterno retorno, com a afirmação dionisíaca: ”Eu te amo ó eternidade!” Teria o autor de Assim Falava Zaratustra dado força a Hitler e sua ideologia racista. Mas é pela boca do demônio que fala o visionário niilista Kirilov: “E então surgirá um novo homem e tudo se renovará”, no livro Os Demônios do ortodoxo  Dostoievski. Para o escritor russo o eterno retorno é “tédio obsceno”. Modos díspares de sentir a vida, o religioso e profano. E antes que vençam as trevas e morra a espiritualidade, sejam as almas tratadas das alteração do espírito, ou doença saúde mental e psicológica.  

Comedimento, sobriedade, do que o mundo atual precisa, tão cheio de apelos, de coisas, no mínimo, badulaques. Deixamos de amar as pessoas como elas são de verdade, de apreciar nossa casa e a beleza do lugar em que vivemos. Perdemos até o amor pela vida, e passamos a esconder nossa própria natureza humana. Temos que reaprender a amar, a distinguir o que é bom, daquilo que nos assola, e desse modo possamos ter paz na terra como no céu, e consequente felicidade.  Nem retornar, nem avançar, sem antes fazer um balanço de tudo, ver a situação do nosso tempo. No momento atual, em constantes guerras. O extraordinário avanço tecnológico, todo o progresso, nada foi capaz de promover a concórdia entre os povos, a paz mundial. Um sério exame de consciência é o que de melhor pode ser feito para seguir em frente. Individualmente refletir, confessar os pecados ao padre antes da comunhão é um bom começo. Fazer contrição de fé em Deus, cultivar nossa humanidade.

     

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