quarta-feira, 19 de outubro de 2016





  O CANTOR NOBEL DE LITERATURA-2016




        

Robert Allen Zimmeman, ou Bob Dylan, é o homenageado pela Academia Sueca com o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. O cantor e compositor americano já havia abocanhado todos os prêmios no seu campo, como 12 Grammy, o Globo de Ouro e até um Oscar. Mas os nostálgicos acadêmicos acharam por bem aumentar o número de honrarias ao roqueiro, por ele haver “criado novas expressões poéticas dentro da grande canção americana“, palavras da secretária Sara Danius, que ainda se justificou citando Homero e Safo, poetas gregos, ao anunciar o nome do premiado. Se era para causar impacto não deu outra coisa. Foram aplicados critérios radicais para a premiação do autor de Blowin´in the Wind, provocando críticas à vetusta academia, que deixou de fora, entre outros concorrentes da elite literária, o americano Philip Roth e o japonês Huruki  Murakami, cotados já ha alguns anos ao prêmio.
       A láurea concedida a Dylan causou certo constrangimento àqueles que trabalham seus textos dentro do rigor literário e publicam obras de reconhecido valor. Protestam por achar que escrever um livro, seja poesia, romance, conto, é uma forma específica de expressão criativa, sem possível comparar as letras do talentoso roqueiro americano, por exemplo, com a poesia do inglês John Keats (1795-1821). O escritor e jornalista Ednei Silvestre considerou um absurdo, um descaso dado à palavra escrita, à literatura, o Nobel de 2016. Diogo Maynard falou em disparate tal premiação. Acusaram o músico de “escrever balada movido a LSD”. Dylan é um letrista que se pode dizer mutante e desconcertante, em seus conceitos, mas tem a virtude de saber o que quer. No seu passado contestador, o roqueiro dizia querer apenas sustentar a família, e em constante mutação, e ficou de fora quando alguns se arregimentavam para a revolução, o caso da ex-namorada de Dylan, Joan Baez.
      Até agora o entendimento é que as letras das músicas são feitas para acompanhar o som, e quando transcritas para a página silenciosa de um livro, perde em qualidade literária, mesmo que as letras de algumas canções tenham algo mais que suas costumeiras ligeirezas. Jerônimo Teixeira, comentarista da Veja falou que o culto a Bob Dylan, a partir do Nobel, transcende a área musical para ir em direção ao culto da palavra, em qualquer área de aplicação, um vale tudo. Não há dúvida que o público ouvinte do Rock é mais afeito ao som musical que às palavras, cantar e pular é sua praia. No passado a boa música não devia ter letra, o caso da música clássica, pelo encantamento que provoca, e não comporta som algum além do que está na pauta musical. É o tal purismo a ser preservado na música, assim como na literatura. Mas agora é o que atualmente se pretende abolir, ao que parece. São os novos tempos.
A premiação do músico americano pode, inclusive, acalentar o sonho dos músicos brasileiros, pois o que não falta é talento nem engajamento em Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil. E por que não o romântico Roberto Carlos? Vozes brasileiras, que ainda ninguém ousou comparar com a voz do poeta Castro Alves, que em versos magistrais defendeu os escravos e expressou a ambição maior do homem pela liberdade. E como cabia bem o Nobel de Literatura para esse baiano porreta. Bem como ao poeta maranhense, Antônio Gonçalves Dias, no seu oportuno indianismo. Criada em 1864 por Alfred Nobel, químico e inventor da dinamite, nascido em Estocolmo em 21 de outubro de 1833 ele  destinou sua fortuna à premiação. Os  citados gênios da música brasileira já receberam muitas honrarias, faltam-lhes um prêmio da Academia Sueca, que pode ser, inclusive, o Nobel da Paz,  que neste ano de 2016 também causou estranheza, mas essa é uma outra história. 


Nota: Bob Dylan ainda não se manifestou sobre o prêmio, e a Academia Sueca não sabe até hoje se o cantor tem intenção de  comparecer à cerimônia de premiação e fazer o discurso de agradecimento, como de praxe. 



                    JOHN KEATS

“Desolado! As palavras ressoam
A levar-me de ti à minha solidão!
Adeus! A fantasia não ilude
Como dizem ela, a falsa ninfa.
Adeus! Adeus! Teu queixoso hino finda
Além das campinas, além dos riachos,
Além das colinas, já sepulto
Nas clareiras do vale próximo;
Foi uma ilusão, ou um devaneio?
Foi-se a melodia – acordei, ou durmo?”

Última estrofe do poema ODE À MELANCOLIA


                   
                       BOB DYLAN

Quantas estradas um homem precisa andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisa voar
Antes que ela possa descansar na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisam voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento.”
        (Estrofe do poema BLOWIN´ON THE WIND)


 
Tire este distintivo de mim
 Eu não posso mais usá-lo
Está ficando escuro,
Escuro demais para enxergar
Sinto como se eu estivesse batendo à porta do paraíso
Bate, bate, bate à porta do paraíso”.
           (Dylan escreveu em seus versos a última súplica de um xerife.)

  


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