sexta-feira, 7 de agosto de 2020


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                   MARIA EM SEU PROPÓSITO





Ah, minha irmã, desejo que não faça mais previsões, tudo que você diz acaba acontecendo. E por favor, não tente arrumar a vida de mais ninguém, suas interferências, se não são desastrosas, causam embaraço, inclusive, a você mesma. Já pensou sobre isso?

Palavras de Teresa para sua irmã de Maria, após ela tentar fazer o casamento de uma amiga e o rapaz acabou apaixonado por outra pessoa não tão próxima, mais por quem caiu de amores desde o primeiro encontro, acontece. Decepcionada, mas não querendo entregar os pontos, Maria continuava com seus planos de unir os casais que ela achava compatíveis. Às vezes, tentada a desfazer os incompatíveis, na sua opinião, lógico. Estava perto de completar 30 trinta anos, ainda sem pressa de casar. Respondeu:

– Meu propósito é fazer o melhor em benefício do próximo. Além de ser um divertimento para mim, que gosto de ajudar as pessoas. Como não torcer pela união de duas pessoas que pareciam tão afins como Paulo e Joana? Paciência se nada acontece. Bom interceder para que tudo dê certo, para que aconteçam mais uniões felizes. Quase sempre tem que haver uma mãozinha secreta para impulsionar. Aceitar o que der e vier não é bom, melhor ajudar a sorte, ter quem mova as pedras do tabuleiro, você não acha? Planejei o encontro entre Rodrigo e uma outra amiga, Laura, e obtive sucesso.

— Não entendo o que você quer dizer com “sucesso’— comentou Aníbal, que sempre aparecia para dar uma espiada nas amigas. Era a única pessoa que ousava contradizer Maria nas suas elucubrações, sem que ela achasse ruim, considerada perfeita para outra.

Aníbal passou a conviver com aquela família a convite da tia Cândida, sua professora de francês, irmã da mãe das moças, e era considera alcoviteira, achou que Maria precisava conhecer seu talentoso aluno, que tinha belos olhos verdes. Ele continuou a falar:
  
—Sabe-se que para alcançar o sucesso é preciso esforço, dedicação, bem verdade que é bom estar atento aos sinais, e nem sempre a gente enxerga, ou quer enxergar. Há os teimosos, que querem resolver tudo ao seu modo. Se bem que esses vão aceitar melhor uma união diferente do esperado. Nunca é um paraíso, mas que não seja um inferno.

Maria era firme em seu propósito:

— Sempre há algum talento nato, ou adquirido, para captar no ar os sentimentos, até mesmo prever os acontecimentos. E não se dependa de um simples palpite, o que é pouco inteligente. E entre não fazer nada e fazer algo o que você acha melhor, Teresa?

Teresa estava de casamento marcado para dali a dois meses, conhecera o futuro marido quando começou a trabalhar, ele estava sentado na mesa ao lado. Esperou para dar o lance certo, e ganhar a partida, assim como ela esperou para dar sua breve, mas importante opinião na questão levantada:

—Duas pessoas inteligentes podem   seguir seu coração e traçar seu destino sem interferências. E que haja honestidade. Convidemos Aníbal para almoçar conosco, Maria, tem bobó de camarão e cuchá. E deixemos que nosso amigo escolha sua própria esposa.

Foi feito o convite, prontamente aceito:

—Com todo o prazer, adivinhei que tinha hoje aquele cuchá,  que Maria sabe fazer como ninguém.

Depois da refeição o assunto casamento voltou à baila, afinal tinha acontecido as bodas do príncipe inglês com uma plebeia, americana e mestiça. Aníbal cutucou outra vez Maria:

—Um casamento por amor, e amor à primeira vista, o de Henry e Megan. Mas está claro que não foi apenas atração física. Encontro memorável quando os dois estavam na África numa missão de ajuda humanitária, conversa vai, conversa vem, vão para a cozinha. Surpresa maior, a moça é capaz de agradar o rapaz não apenas pela suave beleza física, por tudo o mais. Perfeito.

Quanto a Aníbal e Maria, ele tornou-se presença constante naquela casa, amigo dileto daquela família, onde deixou-se prender pela inteligência e coração da sua futura esposa, além do seu pendor culinário. Casaram algum tempo depois, que o amor, às vezes, requer tempo de amadurecer. 






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