quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

 9 DE MAIO - DIA DAS MÃES

FALAM AS FILHAS SOBRE SUAS MÃES

 

 



 Véspera do dia das mães, boa ocasião para ir às compras, o comércio aberto devido à vacinação, mesmo em ritmo lento, mas eficaz, com os picos de infectados do Covid19 em baixa. Aos poucos volta a vida ao normal, diferente de antes, um novo normal. Maria, Juliana e Ana Rosa combinam saírem de casa, guardando a devida cautela, distanciamento e as obrigatórias máscaras, ninguém que se arrisque à contaminação, nem transmita vírus para os outros. O número de mortes ainda alto, algumas pessoas bem próximas, o que lastimam as três amigas, mas felizes pela imunização, consideradas na “faixa de risco”. Idosas aos sessenta anos? No caso específico, vale o título.

Com os presentes escolhidos para ofertarem às suas mamães encontram-se as três para tomar um cafezinho, e já servidas, passam a revelar como veem suas mães. Filha e também mãe, como as demais ali presente, Maria é a primeira que fala, com uma ponta de emoção:

— Outro dia falei com minhas duas filhas sobre a avó delas às vésperas dos noventa anos, o rosto conservado sem ajuda de cosméticos, onde não lembro de ter visto estampado o riso solto, ou banhado em lágrimas - alegria e dor contidas. Chego a imaginar minha mãe dando uma risada, como na música de Caetano Veloso: “Irene ri, Irene ri, Irene ri!...Quero ver Irene dar sua risada!...” Penso que, inconscientemente, ela quer evitar expor dores e alegrias, coisas passageiras, e não se altere o ritmo da vida. E por quê haveria de dar demonstração do seu sentir? Teve dificuldades, e enfrentou a vida no peito e na raça. Os sentimentos registradas lá no fundo da alma, sem deixar escapar, e lhe venha atrapalhar a vida, a relação com os demais. Diferente de muita gente que parece para-raio, deixa-se afetar pelo meio, sofrimento mais que a felicidade, a ponto de adoecer, inclusive, pela política. Já o lema da minha mãe é amar a vida, ter esperança, sem se deixar levar pelo prazer do riso, nem desabar no choro. Ao me ver chorar quando criança, dizia: “Deixa tuas lágrimas para quando eu morrer.”

Ana Rosa perdeu a mãe ainda criança, mas sempre afirma que tem uma “boadrasta”, para quem comprou o presente de um colar, com intenção de insuflar-lhe mais ainda a vaidade, que não é pouca, dessas pessoas que nasceram para comemorar a vida. Após Maria dar seu lindo depoimento, Ana emenda a conversa, a essa altura rindo e chorando ao mesmo tempo:

— Perdi minha mãe muito cedo, era linda e poeta, adorada pelo marido, mas faleceu em consequência do quarto parto, na virada do ano. O médico demorou a atendê-la, e quando deu as caras a mãe já estava sem vida, com a criança morta em seu ventre alguns dias antes. Já no fim da gravidez sentira algo estranho, mas com os preparativos para as festas, deixou pra lá... Meu pai  inconformado com uma perda tão grande, e por não ter fé, esbravejou contra Deus, conquanto Ele tenha seus desígnios. Continuo na minha fé, e tenho sido feliz nesse sentido. Restou a todos nós, seus filhos, honrarem a memória dessa pessoa especial. Meu presente é para a também especial mãe substituta, que criou-me no amor e na fé em Deus, no que lhe sou imensamente grata. A vida e a morte, que andam de mãos dadas, como acha essa sua filha do coração.

Juliana era filha única, e estava quase sem palavras para falar de dona Clotilde, que tinha um contingente de filhos do coração.

— Dizem que quem ama todo mundo não ama ninguém em particular, e isso pode ser até verdade. Desde criança minha mãe praticamente me arrastava para suas visitas, quando eu preferia ficar lendo, mas na época uma pessoa de bem devia ser sociável, e as visitas faziam parte do protocolo. Mãe é mãe, sempre atenta aos seus rebentos, para amá-los e livrá-los de todo mal. Sinto-me segura, mesmo sem irmãos, primos, tios e sobrinhos, sendo meus pais também filhos únicos. Duas gerações formadas dessa forma, contraponto do que era exigido tempos atrás, que as famílias fossem numerosas. Sinto falta, em compensação, me vejo como irmã, prima e sobrinha de todo mundo, não como uma pessoa egoísta, certamente por essa mãe agregadora de almas. E vocês, minhas amigas são como irmãs para mim, graças a Deus. 

Não era conveniente ficarem mais tempo no shopping, que estava com o horário de funcionamento reduzido, das onze às dezessete horas. Despedem-se, sem os costumeiros beijinhos.

 


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