quarta-feira, 26 de maio de 2021

 

 

                                SEMPRE AMIGOS

 


 

 

 

 Tarde de sábado, os amigos têm encontro marcado no bar da esquina, o mar em frente, hoje são três, número que depende da disponibilidade de cada um. Trocam conhecimento, informam-se mutuamente sobre o que acontece no país e mundo afora. Dois já estão sentados, a televisão frente a mesa, mais tarde vão juntos assistir ao jogo, fim de campeonato. Os copos estão cheios da especial cervejinha, que começam a degustar. Após sorver um terço da bebida, Antônio comenta com Antônio sobre um artigo da revista Veja:

Esta semana o artigo de Fernando Schüler trata trata que vivemos a “era da obsessão política”, entre outras obsessões, e aconselha que se “cultive um saudável ceticismo em relação às próprias ideias”. No livro A vantagem do pessimismo, Roger Scruton, escritor inglês, cita Schopenhauer, na sua apologia ao pessimismo para dar equilíbrio à condução das questões humanas, que resulta em distanciamento,  renúncia. Sendo assim, melhor seguir o apóstolo Paulo, que recomenda as virtudes da fé, esperança e caridade (amor).  E você, meu querido filósofo cristão, o que diz sobre isso?

Alberto responde ao amigo economista:

— O ceticismo tende a enterrar convicções, quando  a negação toma conta das cabeças pensantes, também invade as mentes menos favorecidas, levadas pelos modismos. Penso que antes de tudo se faça a distinção entre o cético e o crítico, ambos colocados em pé de igualdade. A mente racional, sem ser cética, mas crítica, busca o  respaldo espiritual para a pessoa não ficar à deriva, perdida nesse mar de ideias, em que se vive na atualidade. Fala-se que a tecnologia vai avançar tanto que a natureza humana será transcendida. A espécie “transhumana”  produto de suas próprias decisões, com poderes jamais suspeitados. A vida  fugaz e transitória para quem, em seu delírio, acredita ter poder sobre tudo.

Tiago acaba de chegar, já ciente do assunto, dá seu aparte:

— A sociedade atual com tendência para a descrença, e ao exagero, seja qual for o ângulo de atuação. As mudanças que acontecem de forma exponencial, nos deixam desorientados. Oscilamos entre o egoísmo e o altruísmo. Os seguidores de Richard  Dawkins acreditam na sua ideia da “máquina da sobrevivência” posta a serviço dos nossos genes, simples animais que somos. Mas está claro que instinto de qualquer animal que protege sua cria, não se iguala ao altruísmo humano. A motivação, calcada na responsabilidade moral, social, cultural é que leva ao altruísmo. E quando o altruísmo supera o egoísmo, os conflitos são resolvidos pela força,  intimidação, em vez da negociação, do compromisso  e  respeito às leis.  Triste o que assistimos entre judeus e palestinos. Um novo pavor, produto da violência dos ataques terroristas do Hamas palestino contra os israelenses, que revidam matando indiscriminadamente culpados e inocentes. 

Antônio volta a falar:

—O nosso mundo atual em estado de transformação, sem os acordos necessários à convivência pacífica. Scruton explica que as pessoas transformadas em avatares, espreitam uns aos outros no vazio árido do ciberespaço, como se pode acompanhar no Facebook,  Instagram e muito mais. Oscilamos ora para um lado, ora para outro, as ditas esquerda e direita, com tendência para o assédio, ou a agressão pura e simples. Aonde tudo isso nos levará?

Alberto responde:

— A religião cristã agredida, assediada  nos meios de comunicação, onde são comuns as ofensas, coisa que não falta nas redes sociais. Nessa nossa infindável diversidade na adversidade o mal se sobrepõe  ao bem. Seríamos frutos de uma seleção, que teria biologicamente dado certo, mas aqui estamos nós numa seleção  adversa de ideias e ideais. Nossa privilegiada mente, às vezes, tão insana. As pessoas iguais e tão diferentes. Falta-nos perseverar na boa consciência, elaborar e cumprir os acordos necessários para a boa convivência humana. Só há  uma saída, racionalizar nossas ações, observar nossos limites, no que tange ao apetite.   Não adianta, por exemplo, os judeus interceptarem os mísseis palestinos com raios de aço, o que é fantástico, se não houver acordo calcado no bom senso de ambas as partes. Sabemos que quando a insensatez triunfa, ela o faz sempre em nome da razão. O homem não para de aperfeiçoar suas máquinas, chegou à Inteligência Artificial, mas o que tem mesmo, no mínimo, é manter-se sob controle.

Tiago toma a palavra:

— Fala-se de uma sociedade aberta, secular e plural, que não deixa de ser humana, por enquanto, diga-se. Ainda temos humanidade, mas ainda alto o grau de maldade a que chegamos, de soberba,  indulgência e tolerância. A tecnologia quer transformar em robôs os seres humanos. Dá o pão, ás vezes, duro de roer, oferece o vinho, nem sempre de boa qualidade. Por nossa alma as máquinas pouco fazem, e hoje sofremos instabilidade afetiva como nunca. A oportunista engenharia genética pode aumentar o poder e escopo do indivíduo, mas é negligente com o que realmente pede a natureza humana em sua essência. Alargam–se as fronteiras das conquistas temerárias, que resultam em grandes males, inclusive, essas lutas fratricidas.

Vai começar o jogo. Alberto conclui a conversa:

— A postura de negação faz com que se busque ultrapassar nossos limites.  Individualmente, temos que entender a distinção entre realidade e temeridade, renegar a retórica adversa que, no mínimo, acaba com nossa paciência. Não adianta essa superioridade intelectual, que promove avanços tecnológicos nunca dantes imaginados, quando se periga descer ladeira abaixo, levando o homem de roldão. Temos  todos uma mente a cultivar, desejos a satisfazer,  principalmente, uma alma a confortar. Que cada um faça a sua parte: se cuide, se ame, viva sua vida, tudo  como deve ser. Com Deus no comando.  

As atenções dos três e demais presentes voltam-se agora para os craques no gramado do Maracanã, sem a torcida, devido à pandemia do Covid19 que já dura mais de ano.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário