quinta-feira, 4 de janeiro de 2018



                
                     E A VIDA CONTINUA



    


Crianças costumam virar o rosto em sinal de desagrado, meio de expressão quando ainda não há o domínio da fala. Gente grande também faz assim, em vez de falar, de protestar, em condição de fazê-lo, opta por desviar o olhar, ou a atenção do foco. Pode ser simples birra, uma espécie de retorno à infância, que acomete os idosos, e nada mais. A velhice que, todavia, significa mais que anos de idade.

 Hoje chega-se fácil aos noventa, e vem o problema de adaptação, até aos tais selfs...  Fica-se cercado por rostos jovens, ou menos velhos, gente de sorriso fácil, afinal estão na flor da idade, ou na maioridade, e só querem ficar bem na foto, e a gente venha a se sentir uma espécie rara. A idade deixa suas marcas, mas saber que toda fase da vida tem sua importância, e graça.
     
A partir dos setenta adquire-se enfado e muita coisa do cotidiano, que tem seus encantos, isso para quem sabe ofertar bons momentos para si, que pode ser na cozinha, na biblioteca, na jardinagem, ou no que for, apesar das limitações da idade.  E se não gostar da fuzarca, é melhor esconder seu desagrado. Mas tem, sim, quem goste de festejar, e qualquer coisa servir de desculpa para chamar o pessoal, que a idade não apaga a chama. E porque não formar um conjunto musical, tantos idosos com seus instrumentos musicais esquecidos em algum canto da casa? Boa ideia a da imagem acima, não?
   
Os que estão na "melhoridade" preferem as vozes familiares, quando não, o silêncio. Passeios no shopping pode salvar o dia da mesmice, ou, ao contrário, levar o idoso a ter horas de total monotonia, quando se prefere estar em sua casa, onde não falta o que fazer. Cada caso é um caso, como cada pessoa é única em seus gostos. Dizem que rezar é coisa de velho, suas preces e cantorias dirigidas ao alto, menos que no passado, e do que mais precisa o mundo atualmente. Também que se caminhe com regularidade, principalmente indo em direção à igreja ou a algum santuário.

 Chegar hoje aos oitenta e noventa com saúde não é difícil, e ainda sentir saudade dos últimos “enta”( setenta, oitenta) que ficaram para trás, quando se chegar aos cem anos. Estejamos, pois, preparado para deixar vir os anos, e aproveitar bem cada dia, cada hora, cada minuto. A cadeira-de-rodas vai ser um conforto a mais, restando agradecer a Deus por desfrutar o tempo que se tem ao dispor. E para quem gosta de gente em volta, depender de cuidadores não será a pior coisa do mundo. Mas para quem tem autonomia em sua vida, pode não ser tão fácil aceitar a dependência.  Estou pensando em mim daqui a dez, ou vinte anos.   

     

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