sábado, 4 de julho de 2020






   ECUMENISMO — 2






O papa Pio IX convoca o Concílio Vaticano através da bula Aeterni Patris, em 29 de junho de 1868, acrescentado a esse documento uma carta endereçada a “todos os bispos das Igrejas de rito oriental, que não se encontram em união com a Sé apostólica”. Outra carta foi endereçada aos protestantes e anglicanos, convidando-os assistir o Concílio. Os bispos ortodoxos silenciaram. Quanto aos protestantes da Reforma, é certa a boa vontade da Igreja anglicana para o diálogo. Mas nenhum “separado” compareceu ao Concílio.

Época de grandes conflitos entre a Igreja católica e os estados  unificados e nacionalistas europeus. Os estados pontifícios reduzidos à colina do Vaticano. Época de ataques cerrados das anticlericais ideologias liberais e socialistas à instituição católica. A laicização crescente no mundo, mas o pior inimigo é o ateísmo. 

A Igreja católica sempre com aquele desejo de convivência pacífica com a modernidade, e no especial desejo de conciliação entre os cristãos. Eis que estava viva no Evangelho a promessa de Cristo:  Haverá um só rebanho e um só pastor.  

O Concílio Vaticano (1869-1870) acontecia trezentos anos após o de Trento (1545-1563). O vigésimo Concílio ecumênico, direcionado para os temas difíceis sobre o racionalismo, liberalismo, materialismo, o galicanismo. É decretada a infalibilidade pontifícia, especialmente relevante para a orientação dos fiéis. Turvos tempos, e o sucessor de Pedro com autoridade para deliberar sobre a moral cristã, também para conciliar e esclarecer as relações entre fé e razão. Concílio de curta duração, que encerrou os trabalhos por força da ocupação de Roma por Garibaldi.

O diplomata Gioachino Pecci, eleito sucessor de Pio IX, tinha o coração oprimido pela desunião entre os cristãos, acrescida da angústia com as injustiças sociais. Como papa Leão XIII promulgou sua famosa encíclica Rerum Novarum, que trata corajosamente do assunto angustiante do momento, a justiça social. Igual preocupação tem com a desunião entre as Igrejas.

 É óbvio que a promulgação da infalibilidade pontifícia resultante do Concílio Vaticano em nada favoreceu o “regresso” dos ortodoxos e protestantes. Mas fez com que recuasse os galicanistas, tendo os bispos católicos de esperar o Concílio Vaticano II, convocado por São João XXIII, para verem reforçado seu papel eclesiástico.

Precursor do ecumenismo e um grande mestre da espiritualidade russa, Vladimir Soloviev (1858-1900), nascido cristão ortodoxo de tendência “eslavófila”,  entendia a Igreja como universal: “Ela é o próprio gênero humano unido no amor. Na Igreja cada um dos crentes deve estar unido a todos os outros pelo amor”. Foi condenado e excomungado pela Igreja ortodoxa. Alma despedaçada. 

Na atualidade católicos, ortodoxos e  protestantes unidos nesse ideal de fraternidade entre as crenças. Os anglicanos os mais perto da Igreja apostólica romana, tanto assim que a rainha Elizabeth II deliberou por conta própria fazer uma visita ao Vaticano, encontrar-se com o papa ecumênico São João Paulo II.

O ecumenismo contra a intolerância religiosa, para que aconteça o diálogo interreligioso. Em primeiro lugar redescobrir o cristianismo. Para o extraordinário teólogo dinamarquês Soren Kiekergaard a fé é “a realidade espiritual”, que não se “rebaixa ao nível sentimental, mas que nasce do sentimento trágico da vida”. 

Hoje uma trágica pandemia assola a humanidade, tolhida do que é básico para sua  vida, o direito à saúde e de ir e vir. Mas vai passar com a obediências aos princípios básicos de saúde e o auxílio da ciência - essa que é a mais poderosa arma contra o inimigo à nossa saúde física.
 




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