sexta-feira, 17 de julho de 2020






conto

               MUNDO PÓS PANDEMIA



NA ESCOLA E NO TRABALHO


Após quatro meses de distanciamento social, ocorre o momento dos primeiros encontros, sem aglomerações, a pandemia perdeu a força, mas ainda requer cuidados. Cafeterias, bares, restaurantes reiniciam suas atividades, com regras para evitar contaminação. E se há o que festejar é terem as três amigas escapado de morrer vítima do covid-19. Grandes as expectativas futuras, pouco alvissareiras, mas a vida continua. É ter fé.

Três amigas se encontram. Maria perdeu o emprego; Aurora teve sua carga horária de trabalho e salário reduzidos; Rosa Maria lastima o fim da sua casa de eventos. Depois de  simples  acenos, sentam-se nas cadeiras do café, com a distância recomendada pelas autoridades de saúde, sem esquecerem as máscaras, ainda indispensáveis.

O saudoso cafezinho fumegava nas xícaras, e a bióloga Maria é quem primeiro fala:

—Estamos aqui vivas, graças ao nosso bom Deus. O mundo em crise com essa invasão pandêmica do novo coronavírus, um ataque que acontece de tempos em tempos. E, como sempre, encontra a humanidade despreparada para enfrentar o inimigo mortal, que costuma emigrar do irracional para o humano, basta que haja oportunidade, por exemplo, um mercado apinhado de animais vivos para serem comercializados, inclusive morcegos.  

Rosa Maria, sempre risonha, seu humor agora percebido apenas pelo olhar devido a máscara. Pede a palavra:

— Nossa condição de racionais à prova mais uma vez. Não podemos relaxar, as pandemias serão cada vez mais frequentes, dizem os entendidos, os cientistas. Você, Maria, uma dessas pessoas entendidas no assunto. Os que lidam com o comércio, como eu, afetados, embora  não diretamente pelo vírus, como tantas pessoas, que infelizmente faleceram. Encontramo-nos numa crise braba, difícil de superar, mas não impossível. E não se perca as esperanças, que Deus está vendo tudo.

Mesmo tendo que fechar seu comércio de vinte anos, Rosa Maria é ainda moça e vai poder recomeçar, mesmo do zero, como havia falado anteriormente.

Aurora é funcionária pública, para falar às amigas recorre a filosofia, fruto de suas leituras:

— Não é fácil viver nesse planeta habitado por seres de espécies diferentes, até mesmo antagônicos, que primam por invadir o espaço uns dos outros. E sabemos que há limites a observar. Os humanos, com suas especiais necessidades, precisam  de costumes e instituições que estejam fundadas na razão e também em algo além da razão, sob pena de fracasso total. Temos que usar nossa própria razão com eficácia.  E se podemos contar com nossa capacidade mental e racional, é mais importante ainda partilhar.

Maria volta a falar:

— Conserva esse insight, que o objetivo da vida é implantar no mente e na alma de cada pessoa  as virtudes  necessárias para viver bem individualmente e no exercício coletivo. Com a pandemia do covid-19, dolorosas restrições surgiram, o caso das regras de distanciamento entre as pessoas para evitar contaminação. Antes todos contaminados apenas pela amizade, pelo afeto. Um invisível vírus chega e acaba com esse nosso costume, difícil de acreditar e aceitar. No momento temos de aproveitar e degustar esse delicioso café, ainda bem que os campos cultivados vão bem, obrigado, a mãe natureza que pode nos alimentar, sendo preservada nossa saúde física e financeira, com a  graça a Deus.

Palavras que acendem uma luz mais viva ainda no olhar de Rosa Maria, que responde:

— Os racionais nem sempre reconhecem seus direitos e o direito dos demais seres. As pessoas em desesperança. A alternativa humana para ter uma vida melhor fica-se sabendo que deve ser alicerçada na razão e na fé em Deus. A ciência que nos pode livrar de um vírus maligno, com a descoberta de uma vacina, e a religião que nos ensina, sim, a obedecer   as  leis naturais, suportar os sofrimentos e acreditar na ressurreição divina, também na nossa. O ressurgir dos mortos por conta da fé que anima as almas, ajuda a restabelecer as energias do corpo e nos dá força espiritual.

É a vez de Aurora expressar-se mais uma vez:

—Nesses primeiros encontros após o confinamento, em que a pandemia perde força, é hora de reiniciarmos nossas atividades. A humanidade um tanto desesperançada, ciente que a alternativa não é o igualitarismo romântico, nem a subjetividades sombrias. Mirar numa vida, como pode e tem de ser. Mirar na vida em particular e na humanidade como um todo.

A fé inquebrantável de Rosa Maria faz com que se manifeste com maior intensidade e  consciência:

—O cristianismo não significa somente crença na encarnação e na ressurreição, mas   também nas suas cerimônias, na poesia, na música,  todas as manifestações da arte e da técnica. Que extraordinária as transmissões religiosas virtuais. A religião cristã que congrega milhões de estranhos a  se reconhecerem como indivíduos e cooperarem  para o bem comum,  formar uma família, assim como  uma sociedade mais justa. É a fé que anima as almas e restabelece as energias do corpo. Os novos reacionários,  atuais conservadores, lutam, não pelo  direito dos reis, como no passado, mas para que se conserve os direito de todos.  

Um encontro pós pandemia, como muitos outros, a vida continua.

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