quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

 

 

                                         DIÁLOGO

 

 


 

Sentada diante de sua mesa para escrever seu texto no computador, Maria costuma usar a tática de se dividir em duas, ou mais, e formar diálogos. Afinal é bom um escutar o outro, e o esforço da comunicação seja proveitoso para o leitor. Os seres humanos são individualidades, quando sadiamente discordam, buscam a concórdia para viver em harmonia com seus semelhantes, mesmo porque ninguém tem obrigação de pensar igual a todo mundo.

Divergir não significa discutir, agredir, nem mudar radicalmente de ideia. A imaginação da blogueira não provoca apenas dissertações, sublimes,  eruditas, mas coisas banais, do senso comum. Às vezes a sensação é de chegar alguém ao seu lado a soprar-lhe algo, que não havia passado por sua cabeça. Fazer com que lembre feitos esquecidos, ou que ficou escondido no inconsciente, e vem à tona. Para que confirme, ou até rejeite o próprio ponto de vista. Pode até haver um confronto, e o resultado ser revelador, no mínimo. O bom é que de uma boa conversa surja a luz. Tomara.

Dessa feita, escuta é uma voz jovem que lhe faz a seguinte abordagem:

— O que estás fazendo a “cavucar” o passado? Olha à frente, o que passou é poeira. Vê o povo brasileiro, como tem evoluído. Não mais afeito a dar golpes para conseguir as coisas, “golpe de mestre”, como se dizia. Já acredita no desenvolvimento da pátria, crê mais em si mesmo, tem fé no próprio futuro.   

Eis que outra voz mais velha parece contestar:

—Temos que viver o presente, mas há um passado a considerar, sem deixar de pensar no que vem pela frente.  Ainda faz parte da nossa cultura o “golpe”, uma infeliz tática, desenvolvida pela mente subdesenvolvida. E chegamos  a essa corrupção endêmica. Certo que o povo está menos ignorante. Agora se arvora a contestar a civilização cristã, que acusa de causadora dos males existentes.  Os “sábios” da atualidade pregam o ateísmo, e piora tudo.

A primeira continua:

—Ficamos meio sem rumo desde que os dons da alma e da fé em Deus perderam sua qualidade metafísica, para se transformar em coisa palpável, ou seja, uma fórmula mágica para ter à mão para obter resultados práticos e objetivos, como acontece com o protestantismo. E por falar em magia, é certo que o povo tende  para uma religiosidade mística, bom para os chantagistas, que atuam sem pejo por aí, iludindo os incautos. Já a religiosidade sadia preza a fé, atém aos dogmas, e trata como blasfêmias certas experiências, inclusive com drogas, ao gosto de pessoas desencaminhadas.

A outra voz se exalta:

—O cristão de boa cepa, o católico praticante, evita mexer com o outro mundo, ou com o inconsciente, e fazer aflorar o mal, ou o diabo, o grande impostor, que quer tomar o lugar de Deus. E há os que confundem Santa Maria com Pachamama, ou qualquer outra entidade, mas é bom separar as coisas, para não retroceder no tempo e no espaço.

Por fim, Maria escuta a voz da razão, que lhe avisa já ter um diálogo pronto para digitar.  

 

 

 

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