sábado, 20 de fevereiro de 2021

 

 

À SOMBRA DE GUIMARÃES ROSA

                  

                                                     NOTÓRIO AMOR

 


 

 

Absurdo possível um silencioso coração suspirar de amor, mal o baile começara, no distante maio da década de 60. Remígia amadurecia na casa rosa da estreita rua dos Prazeres, a vida no conforto das doces horas, o asfalto já cobrindo as antigas pedras de S. Luís. E sob influência da desconsolada espera, ela entrou em regozijo. Antes as coisas se negavam, agora pareciam confirmar o que sentia.  

O que Remígia sentiu terminada a festa seria amor de verdade? Tivera um namorado só, um rapaz de conversa entranhada de velha. Esse outro em atitudes despudoradas de novas. E tomada por um sentir de todo abrangente, ela foi em frente. E como condenar uma moça que se sente segura de si para aceitar o pedido de casamento, mesmo com um estranho? E assim foi, ou ia ser. A família concorde, o que se há de fazer? Confirmado o pacto de amor, que se daria mediante sacramento, mistério grandioso.  

Um modo de medo, quem sabe suspeição do que por derradeiro possa vir a acontecer em certos casos. De toda feita aflora o júbilo pelas bodas. Obscuridades existem, não tem como negar, e por um mínimo de esclarecimento da narrativa amorosa sondar as consciências, rever os sentimentos a fundo, ou até mesmo ler nas estrelas. Naquele lugar sem desigualdade, mesmo assim, cismavam todos com aqueles que se amam  além da conta.

Se é direito humano dispor de tudo, e ter grande vontade, que se faça conforme o raciocínio, além do que move a fantasia, ou lhe aquece o sangue nas veias. Mas ser dono do seu querer é o que todos almejam. Sem esquecer os óbvios do bom senso, que não é dado a todo humano possuir. Remígia ia correr lá para longe com um desconhecido, o espaço do entendimento da enamorada muito pouco, quase nulo

Acontece que ainda não era dessa vez que Remígia ia casar. Após uma semana, ou mais, o noivo desapareceu sem mais dar notícia, com certeza era casado, lá no quinto dos infernos, pensou a noiva, conformada de ficar para tia, já tinha cinco sobrinhos dos irmãos maus velhos. Mas um terceiro pretendente haveria de logo surgir em sua vida, dessa feita sem fala antiga nem modos novos, tudo dentro dos conformes - notório amor.

Aos modernos moços, tão queridos, até mesmo adulados de hoje, o que tenho, por fim, a dizer, é que não fujam da felicidade, mas aguardem. Preservada a fé entre homem e mulher, clara evidência. E que os novos casais não percam nunca a mútua fé, esperança e caridade. Amém!

 

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