terça-feira, 10 de dezembro de 2013



                                                A OLARIA DE SEU TOMÁS

            
                  




            Os filhos gêmeos de dona Catarina viam com curiosidade as ruínas de algumas casas abandonadas na cidade em que residiam, com mais de quatrocentos anos. Mas aquela casa do sonho do irmão mais velho, apenas minutos do outro, era diferente, uma espécie de cabana misteriosa, coberta de palha, uma voz a lhe dizer que ali estava guardado um grande segredo. Ao acordar, ainda em sua mente tão vívido o sonho da noite anterior, sonho arquetípico, merecia uma averiguação. Sabia de uma casinha, a poucos metros de uma pequena igreja da periferia, não muito longe, ia averiguar junto com o irmão, convidado a participar da aventura. Foram surpreendidos com a paz e tranquilidade do local, a casa coberta de telhas escurecidas pelo tempo, não de palha, e com uma chaminé que indicava fogo. “E onde há fogo há vida”, disseram uníssonos.  
          Não tiveram dificuldade em entrar, a porta sem fechadura, apenas encostada. Estranharam a ausência de pessoas e um forno que tomava um terço da grande sala, o fogo apagado, a lenha queimada pela metade. As cinzas por remover, que eles vasculharam em busca de algum esqueleto escondido, ou algo tenebroso, que revelasse o tal segredo. Nada, apenas uma boa quantidade de objetos de cerâmicas estavam empilhadas em vários locais da casa, todos de um vívido colorido. Passado o espanto, resolveram atirar os frágeis objetos contra o chão, até quebrarem tudo. Pensaram em atear fogo na casa, mas resolveram ir embora, satisfeitos com a bárbara quebradeira. Até que o remorso bateu, tão lindos aqueles cavalinhos, os sóis pendurados na parede, que pareciam olhar para eles, tudo destruído.
            Nenhum proveito podiam tirar do que fizeram, tarde atinaram com isso. No dia seguinte dois idosos bateram à porta da casa deles. Foram pedir ressarcimento dos prejuízos, tinham quebrado toda a olaria do seu Tomás, reclamou a mulher, dona Matilde, para os pais dos garotos. Naquele feriado haviam saído para visitar amigos fora da cidade, na aldeia vizinha, e agora não mais tinham as peças encomendadas para entregar aos seus donos. Os irmãos não tiveram outra alternativa senão confessar o crime. Contaram que foram apenas em busca de uma cabana com um segredo, conforme o sonho de um deles. “Vamos tentar reparar o erro de vocês”, disse o pai depois de repreender os filhos. Em seguida aconselhou os donos da velha olaria, que fizessem um empréstimo bancário e construíssem um prédio maior para melhorar a produção da cerâmica, ele ia ajudar, era gerente de banco. Assim foi feito. A nova construção mais alta e cheia de janelas, uma fábrica. Após uma tragédia, o sonho do trabalho, da produção, do progresso, que se realizava em condições mais favoráveis.
       Moral da história: Ir em busca de um segredo numa cabana misteriosa, pode levar a que se perca a noção da realidade. Mas acontecer da vida se renovar, mesmo à custa de perda e frustação. Mesmo que se destrua a olaria do seu Tomás, que prosperou em seu negócio, agora fabricando peças em grande escala, entre elas imagens religiosas, conforme ideia da mãe dos gêmeos. Essa cabana existe, sim, e tem o sentido de transformação, de renovação. 


                               

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