terça-feira, 3 de dezembro de 2013



       
            
                         MARIA DA TEMPESTADE

                          homenagem a João Mohana 
           
         
            Quando João Mohana (1925-1995) publicou o livro Maria da Tempestade, na década de cinquenta, foi um escândalo. Maranhense de Bacabal, o padre Mohana também era recém-formado em psiquiatria, que ele dizia ter cursado por desejo do pai libanês, mas sua vocação maior era o sacerdócio, a mãe fervorosa católica. Acontecia dos jovens ingressarem cedo no seminário, e se tornarem padres, com uma formação religiosa e cultural da melhor qualidade. A história é sobre uma jovem que, além da paixão pelo fenômeno da natureza, se apaixona por um rapaz, que tinha belos olhos verdes, mas foi rejeitado pela família tradicional dela. Acredito que o livro traz uma metáfora sobre a insipiente ciência, a tragédia da racionalidade, diante da milenar fé católica. A famosa psiquiatra Nise da Silveira, colega de faculdade do autor, poderia de algum modo tê-lo inspirado, o livro premiado pela Academia brasileira de Letras. Maria da Tempestade foi um dos primeiros romances de João Mohana, que se tornou palestrante e conselheiro espiritual de grande popularidade, com muitos livros publicados sobre aconselhamento familiar.
             

             Maria da tempestade luta por ter sua própria vida, e sofre os desencontros e a tragédia de um grande amor, fora dos padrões tradicionais da época. E foi num dia de tempestade que a personagem da história vê seu filho nascer morto por falta de assistência familiar e médica, ao lado de uma velha viciada em drogas, num palacete abandonado de São Luís. Ela tinha fugido de casa ao constatar que estava grávida do homem, a quem se entregara sem reservas. Que exemplo se pode tirar dessa história? Questionava uma aluna mais velha para as freiras, achando que o livro devia ser proibido, o que aguçava nossa curiosidade juvenil. Quando eu cursava o quarto ano primário, as feiras disseram que, naquela sala (ao lado do coro da Igreja), eu era uma lagoa, sempre calma, enquanto minha colega Alice, parecia uma pororoca. Até o quarto ano, eu era uma criança meio desligada, tanto que poderia até ser diagnosticada como autista, de acordo com a moderna psicologia. No Santa Teresa as freiras incentivavam as alunas a serem estudiosas, comportadas, pessoas de boa vontade para com o próximo, conforme os Evangelhos. No quinto ano me tornei uma menina sempre pronta a participar das atividades do colégio. Por ocasião das Missões entrava de corpo e alma no movimento. Primeiro ano ginasial e me destaquei, dez em todas as matérias e o primeiro lugar, o modo solene como madre Arruda ditou as notas me soaram como notas musicais. Foi quando li o livro Maria da Tempestade que muito me impressionou, assim como Os Desastres de Sofia. O que a Maria do padre Mohana tem em comum com a Sofia da Condessa de Sèguir? Vou refletir sobre o assunto.

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