segunda-feira, 2 de março de 2015





                  EMÍLIA E MONTEIRO LOBATO

 


           Emília, personagem criada por Monteiro Lobato, é uma boneca de pano, que teima em ser gente de verdade, mas não passa de uma tosca criação de Tia Nastácia, empregada de dona Benta no Sítio do Pica-Pau-Amarelo, a partir de uma saia velha, recheada de macela. Boneca a quem Narizinho quer muito bem e vive a conversar com ela, tão franca que assume sua pobreza e ainda dela se orgulha. O Brasil partia do regime monárquico para o republicano, com um povo inculto, sem expressão e sem voz, e que, de repente, por força de um tal doutor Caramujo, passa a falar sem parar e sem pensar no que fala, com sua “torneirinha de asneira”. A crítica do autor é, em especial, ao ufanismo nacional da época, tosco a mais não poder, com mania de grandeza e ares progressistas, que é só enganação. O progresso aqui dentro, como um animal que se arrasta na praia, como até hoje, os governos populistas, colocando pílulas placebos para o povo engolir, as atuais bolsas. Os brasileiros que patinam na ignorância e atraso, e por conta disso o país não se torna rico, como pode ser de verdade, por faltar conhecimento, cultura, principalmente, aos que nela mandam e desmandam.

     O conservador autor paulistano, Monteiro Lobato, era descendente de barão, fazendeiro,  editor e empresário, além de escritor famoso. Menos nacionalista que progressista, faz crítica feroz à República brasileira, que devia com urgência adotar uma cultura universal, e empenhar-se em fazer parte do mercado internacional. Hoje estamos mais universalistas e menos atrasados, conquanto muita coisa tenha que acontecer, no presente momento, tirar o poder sair das mãos do petismo, que governa os brasileiro da forma como governaria a boneca de pano. Ela se casa com o marquês de Rabicó, representante da pecuária brasileira,  casamento que não dá certo, lógico. Enquanto isso, o Visconde de Sabugosa representa  a nobreza falida da agricultura – os atuais pequenos produtores. Escritor compulsório por ordem de Emília, o boneco feito de sabugo  argui sua cliente sobre quem ela era, e recebe implicante resposta: “Sou a independência, ou morte”. A imaginação irrefreável de Emília atordoa, mas faz pensar. Sua ousadia em querer renovar símbolos religiosos e culturais de uma determinada época. Nada que ameace a esperança e a fé, pelo contrário. 

       Está aí um cenário perfeito para fazer pensar o Brasil atual. E é oportuno falar do criador de Emília uma vez que a Ministra da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, propõe que Monteiro Lobato seja banido das escolas. Teria ela razão? O bom senso diz que não, tratando-se de um dos maiores escritores brasileiros, que, no mínimo, faz as crianças gostarem de ler, como aconteceu com gerações e gerações de seus leitores, alguns que se tornaram grandes escritores, tal qual o criador de Emília, que fez representar a raça negra através de Tia Nastácia e a branca, por dona Benta com seus netos Narizinho e Pedrinho, herdeiros dessa tradição. Enquanto a boneca de pano seria uma audaciosa revolução política e cultural brasileira, que perdura até hoje.

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