quarta-feira, 29 de março de 2017



                        UM NOVO TEMPO




A imperial S. Luís do Maranhão envelhecia com dignidade no tempo da minha juventude. Já naquela época a bela cidade ludovicense era de há muito espreitada pela decadência, mas resistia. Saúvas nos quintais e cupins atacando o rico madeirame das velhas casa, grudadas umas às outras, o que facilitava a circulação de afoitos roedores. Pousada na pedra uma coruja espia e pia. As habitações seculares eram moradias dos afortunados descendentes dos barões, também de ricos comerciantes e investidores de origem europeia, o caso do meu bisavô. Na década de 50 a velha cidade maranhense tentou a moderniza-se. Lembro da minha rua das Hortas, no centro de S. Luís, local privilegiado, as antigas moradias dando lugar a lindas casas de dois andares, chamadas bangalôs, com jardim em frente e quintal arborizado, circundados por lindas praças, que também sofrem com voragem do tempo.

            Passados alguns anos, lá estou eu em uma de minhas constantes visitas, descendo e subindo ladeiras, vendo em cada esquina a feiura que tomou conta da cidade, seu casario quase completamente arruinado. Apenas uns poucos imóveis salvos, do que parece um bombardeio, aqui e ali escombros, e apenas alguns imóveis restaurados abrigam museus, e uns poucos serviços públicos. A capital do Maranhão é considerada Patrimônio Mundial desde 1997. Mas para conservar os antigos prédios custa caro, sem o devido retorno financeiro para seus donos, que deixam o imóvel tombado, tombar de verdade. Por decreto salvaram minha cidade natal das marretadas de que fala Josué Montello no seu livro Cais da Sagração de 1971, em que o velho marinheiro Severino, ao observar com tristeza a decadência do belo casario da sua S. Luís, se pergunta: “Antes que as marretadas batam em cheio nas suas paredes para destruí-las, que destino terão esses sobrados em agonia?”  O escritor maranhense citado por José Francisco Botelho em seu artigo na Veja, que aborda o assunto da atual decadência urbana. Acredito que pode não haver salvação para a ruína natural e contínua de uma cidade, sem os recursos necessários para preservar a antiga, e erguer uma nova urbanização.  


A decadência acontece em todo o país, bairros, antes aprazíveis, tornaram-se morbidamente feios, feiura que se expande quarteirão a quarteirão, encurralando as cidades por inteiro. "Ordem e progresso" diz a nossa bandeira. Passo a passo o progresso avança, mas a falta de ordem tende a afogar o processo de modernização. As megalópoles modernas, verdadeiramente infernais em seu crescimento desordenado, monstros a nos assombrar o presente e colocar em risco o futuro. Lutava-se por um novo amanhã e em S. Luís veio a primeira ponte para o raiar dessa aurora, o que acontecia do outro lado da cidade, com os  edifícios de apartamentos perto das praias, para dar mais segurança e comodidade às famílias. Ocorre que a decadência é célere, e em pouco tempo a poluição visual e ambiental toma conta de tudo. Os logradouros públicos mal conservados, e as belas praias sempre impróprias para o banho. Mais por descaso e incompetência do que por falta de verbas, pois quando o dinheiro aparece some nos bolsos dos políticos e servidores roedores dos dinheiro público. 






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