quarta-feira, 28 de março de 2018






FELIZ PÁSCOA


               
                                     

             A LITURGIA DO GOSTO



IGREJA DE PEDRO E PAULO EM VILNIUS





A Igreja católica com suas igrejas e sua arte sacra é inigualável em bom gosto. Mas como as pessoas adquirem o gosto que têm? Experiências culturais, assim como expectativas mentais, têm muito a ver com as escolhas, os gostos de cada um. Em princípio, saber o que se é, e o que se quer, ter noção dos valores a serem respeitados. Todo cuidado é pouco para não corromper o gosto, pois tem o problema da liberdade, que pode alterar os conceitos de beleza e gosto. Injunções de ordem prática e ideológicas levam ao desinteresse puro e simples do gosto, e o quanto é triste a perda da capacidade de observar e julgar, assim como de admira e se encantar.

Não uma santa indiferença, como falou são Francisco, mas o que temos hoje é uma cruel divergência, que ofende quem tem bom gosto com a pecha de ultrapassado, as massas com sua limitações, não têm como observar as sutilezas. Pessoas explosivas possuem uma interioridade recheada de elementos nocivos, não medem esforço para ofender o outro. A lapidação de um diamante dura para toda a vida, diferente do maleável barro, até mesmo do corrosível ferro. A corrosão que contamina e destrói, e é o que acontece nessa massificação pós-moderna, que resvala no vale tudo. Sem dar sinal de bom gosto, ou de bom senso, criam-se falsos conceitos.  Os bons propósitos, tidos como coisas do passado, desvirtuados pela falsidade, pela mentira, quando então, tudo de bom que se possa querer perde-se no emaranhado de desacertos até chegar às tensões sociais. E o quanto custa à sociedade arcar com o alto preço da corrupção, o que é tão cruel, e de um  extremo mau gosto.

A esperança nos amores era o que havia de melhor. E quão adverso é mirar numa promessa de felicidade a resultar numa realidade adversa. A realidade dura para as mulheres, também para os homens, esse nosso mundo destituído de moral e afeto.  Ah, as mulheres, quanto sofrem, e exemplos não faltam na literatura, causando impacto suas dolorosas trajetórias sentimentais. Personagens vítimas das infrações cometidas, caso das peripécias da personagem feminina em Madame Bovary  de Flaubert. A alma humana em seus desacertos, quando o sexo se faz presente de uma forma natural e ao mesmo tempo cruel para o gênero feminino, seu erotismo fonte de infelicidade.

O cotidiano mesquinho não favorece os altos voos filosóficos; nem os maiores arroubos feministas são merecedores da atenção devida. Faz gosto apreciar o modo como a austera Jane Austin, por ser mulher, tratar dos assuntos sentimentais,  o controle que determina as trajetórias de suas personagens, menos problemáticas. Mulheres em suas muitas aventuras e poucas desventuras, o que era de maior relevo. Não há como exercer total controle sobre os seres humanos, mas confiar no bom senso das pessoas. O gosto peculiar de cada um, com possibilidade de haver reconciliação e paz.

É mister na atualidade juntar nossos pedaços, catar nossos cacos de humanidade, que o futuro, como já se sabe, está carregado de possibilidades.  Vale a pena limpar o ar, para o retorno do oxigênio que torna a vida mais saudável. Importante a contribuição do gosto para o fator humano, para a produção intelectual, para a cultura, e que a ideia de bom gosto e perfeição possa pisar em solo fértil. Há uma liturgia do gosto, que deve ser obedecida para não acontecer que o mau gosto atual substitua o bom gosto de tempos atrás. Gosto se discute, se defende, sim!     

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