sábado, 23 de junho de 2018






                       VONTADE  E VERDADE



A PIETÁ DE MICHELANGELO 


        o costume de deixar a porta da casa aberta ficou no passado, hoje há necessidade de trancas, fechaduras, e assim evitar uma possível invasão, os  criminosos à espreita. A velha tradição permanece nas igrejas católicas, sempre de portas abertas, com disposição e coragem para acolher as pessoas em suas necessidades espirituais, e também em defesa dos direitos humanos. Mas o tempo atual, dito laico, quer ser mais acolhedor e humano. Laico que alguns confundem com ateu.

No livro “Quem Diria Que Viver Ia Dar Nisso” de Martha Medeiros, no capítulo “Portas Abertas”, a autora apontou como sendo uma "atitude laica"  o que fizeram os parisienses ao abrirem as portas dos seus lares para as pessoas que se viram em perigo  nas ruas de Paris, após o atentado na casa de shows, o Bataclan, em 2014. Acolher, na verdade, é uma atitude não apenas laica, mas cristã por excelência, e o mais certo é a iniciativa de tomar partido das famílias na prática religiosa do amor ao próximo.  A generosidade e solidariedade que faz parte da doutrina cristã. Religião que religa a Deus, consequentemente, ao próximo. Mas a escritora que se diz laica e nada simpática à religião, no capítulo “Dentro do Seu Corpo” é categórica na defesa do aborto, e não é surpresa que também se queixe da realidade atual em que “todos parecem meio piradas”. O ateísmo dá nisso.

Desde sempre, a igreja de Cristo ensina o amor, a compaixão, o respeito, em suma, o sentimento de humanidade, ou de religiosidade, dos que acolhem os que precisam. A escritora carioca é, pois, incoerente ao elogiar os que acolhem estranhos em casa, mas defende o aborto, ou seja, o direito da mãe abortar o filho que gerou, e ainda com a justifica de ela ter “chegado antes” do nascituro. Entende-se então que as portas laicas estão abertas para o prazer, mas fechadas para os filhos, que atrapalham os planos da mães. Além de outros absurdos como propor uma vontade que pode tudo, maligna vontade. Triste ver mulheres festejarem nas ruas da Argentina a lei que legaliza o aborto no país. Mas a vontade que diz respeito “ao bom e velho amor ao próximo” é a vontade cristã, católica, religiosa e laica (juntas) que é contra o aborto.

Ninguém é totalmente dono do seu corpo, e nem sempre as pessoas estão isentas de culpa. Há o livre arbítrio dado ao homem para que promova sua liberdade e consequente  responsabilidade pelos atos cometidos. A fé católica e seu núcleo laico promovem o respeito pela vida, desde a fecundação, quando se sabe que a negligência e a delinquência matam igualmente. A alegada vontade não é dona da verdade. O “querer e o não querer” devem obediência às leis, à consciência cristã, ou teremos o caos total. E temos, sim, muito que lastimar que pleno século XXI o terrorismo islâmico morra e mate em nome da fé. De igual modo o aborto que constrange a sociedade e entristece as próprias mães, quando há meios de evitar a gravidez. Perene a vontade religiosa e civilizada de acolher e respeitar a vida, acima de tudo.  

            "A Arte Salva" é outro capítulo do livro de Martha Medeiros, citado acima, que suscita a reflexão, se a arte pode ser considerada uma religião, como diz a escritora. e chega a afirmar que não se precisa de Deus quando se pode contar com maestros, bailarinas, compositores e por aí vai. Mas tudo que a escritora aponta como virtudes da arte são específicas da religiosidade. É certo que a arte pode fazer muita coisa, mas não é tão virtuosa assim, e se por um lado pode recuperar a inocência da infância, também tem ao mesmo tempo o poder de tirar o pouco de inocência que há. A arte faz para a mente o mesmo que a ciência  faz, o que é bem diferente da fé que salva, com sua especial psicologia. Mesmo que a criatividade da arte tenha poder de encantar, emocionar, não pode curar, nem a isso se propõe, como consegue fazer a fé, que transforma, e faz transcender a uma existência para além da realidade do dia a dia. Se precisamos de algo para extrair o melhor de nós é a religião católica, que tem arte católica como auxiliar na transcendência. A extraordinária arte católica, com suas pinturas e imagens, que os protestantes  veem como uma espécie de paganismo, idolatria, quanta pobreza no dogma protestante!  

Devo acrescentar que Martha Medeiros é uma escritora que tem o domínio da palavra escrita, é de fácil leitura, e alguns textos do seu último livro publicado, trata de assuntos polêmicos da atualidade, e pedem reflexão. Mas "Oitenta Anos", é aquilo mesmo que ela fala, dou testemunho, assino embaixo.
   

  

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