terça-feira, 1 de setembro de 2020


CONTO


                           DE BODAS E BATIZADOS






Assim que as quatro amigas se sentaram à mesa do Café houve sucessivos  comentários, as mesas afastadas e outras alterações feitas no local, como o álcool gel para ser usado pelos fregueses. Agosto é um mês terrível em Brasília, a natureza devastada pela seca, o ar quase irrespirável, inclusive pelas queimadas. Dava uma certa indisposição, o melhor a fazer é beber água.

O último encontro que tiveram foi numa recepção de casamento, seis meses antes. Os felizes nubentes, bem como as famílias envolvidas no enlace. Há sempre esperança no amor que une um casal, que sejam felizes ao compartilhar a vida. Casamento está sempre em pauta. Maria havia feito o convite para o encontro e falava para suas três amigas Rosinha e as irmãs Cleide e Cleonice.

—Minhas amigas, que bom voltarmos aos nossos encontros depois de seis meses de pandemia, agora de máscara, o mal ainda não debelado, falta a vacina. Ponho fé na de Oxford, e já disse que só tomo a vacina que a Rainha tomar, kkk. Cleide fala a seguir:

— Estive pesando no caminho para cá, que há pessoas em suas atitudes que parecem ter em mente contrariar o oponente. Intuito bobo, para dizer o mínimo, quando o normal é a lealdade, em primeiro lugar, para com os próprios sentimentos. Evitamos assim dissabores presentes e futuros. Vocês não acham?

Maria aborda um assunto sempre em pauta, o casamento:

— Há cerca de vinte e cinco anos casei com o Paulo, em momento de crise matrimonial dos meus pais, o que pode acontecer após alguns anos de união, o casal começa seus questionamentos. Parecia estratégia minha para fugir dos problemas familiares.

Cleonice acrescenta:

 —Há   maridos que saem de casa para vivenciar outro amor, ou experimentar uma aventura, o caso do meu pai. Alguns voltam, outros se vão para sempre, o que é muito triste, principalmente para os filhos, até mesmo uma tragédia.  Mas nada como um dia após o outro.

Rosinha lembrou-se de quando foi para as Bodas de Prata de uma tia querida em outra cidade, e ainda convidada para madrinha de Consagração da sua netinha:

— Tinha uma defasagem no meu currículo, de repente, duas vezes madrinha: do casamento da prima e ainda madrinha de Consagração da filha da outra prima. E ainda havia a oportunidade de trabalho na cidade grande. Por lá fiquei. Não me deixei levar pela maldade de quem disse que eu havia abandonado meus pais, e até querer morrer por isso. Ao contrário, seria uma atitude mesquinha sentir-me infeliz. Promessas que a vida nos faz e temos de aproveitar.

Já era tarde, quando ao pé da escada as amigas se despediram, todas iam voltar para suas casas, dar continuidade às restrições ao convívio. Maria havia percebido que seu coração não era a único deveras insatisfeito, todos feridos com a pandemia, se não era pela perda de algum parente, ou amigo, por outras perdas. Havia a sensação que a vida não seria a mesma dali por diante.  Cleide mostrara-se muito alegre, mas parecia haver um grande esforço de sua parte em afastar o ressentimento com o fim do seu negócio. Cleonice estava a se reinventar, afeita a restaurar os ânimos,  os docinhos com o café ajudaram.    



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