quinta-feira, 17 de setembro de 2020

 

 

 

conto

 

              NAQUELA NOITE


 

 

Aquele fim de festiva deu a Álvaro oportunidade de demonstrar aos amigos a ascendência que tinha sobre sua mulher. Se havia dúvida sobre quem dava as cartas podia acabar ali, pensou. Deixara Alzira sozinha na sala de TV, enquanto ele bebia com os homens. Comemorava seu aniversário, 40 anos. Os familiares já haviam partido. O irmão dele em seguidas vezes foi até a cunhada para que ela lhe desejasse felicidade, tinha acabado de ficar noivo. A eleita não pode comparecer, estava fazendo um estágio fora, falou. Meio bêbado, ainda assim mostrava-se um perfeito cavalheiro. 

Como no filme "Sabrina", eram dois irmãos, vizinho da jovem Alzira. O mais novo, atirado, seduziu-a primeiro, de modos nada ortodoxos, seu carro batido várias vezes, o namoro não foi adiante. O irmão mais velho estudava fora, e chega já formado engenheiro, que ela o via sempre sério, sobraçando  livros. Quando certa tarde a bicicleta de Alzira teve o pneu esvaziado em frente à praça, onde ela costumava pedalar, ele veio ao seu encontro para ajudar. Em breve estariam noivos, casados logo a seguir.

Enquanto ela lembrava do passado, ele pensava do gostoso sorriso encharcado de lágrimas da mulher, que o fez apaixonar-se, também seu meio sorriso. A feição da mulher quase a mesma de antes, pouco havia mudado, mas era notório seu cansaço nos últimos meses com a gravidez de risco dos trigêmeos, isso depois de alguns abortos espontâneos. Pela manhã lera o bilhete que acompanhara o presente da mulher, dizia: “Amo-te tanto. E nunca mais nos beijamos como antes... Guardo ainda o amor mais lindo que se possa ter.”

 Dia de festa naquela noite, mas é sabido que perfeitos são os dias calmos, os momentos de paz, que despertam nas pessoas a vontade de viver e amar. Também lindo é o tempo do perdão, que diz muito de um nobre coração. Era o que Alzira pensava olhando os últimos capítulos da novela, o enredo nos seus momentos cruciais, um problema atrás do outro, e os protagonistas a se desentenderem, iam fazer as pazes no final. Não era o que às vezes acontece na vida de cada um?

Com essa pergunta que fez a si mesma, Alzira tomou coragem, levantou-se, e acercou-se do marido no terraço, com um copo na mão. Chamou-o para ver as crianças, já deitadas para dormir, escutara choro. Desculpa para fazê-lo lembrar da mulher, da falta que  ele fazia para ela e os filhos, em todos os momentos. Que ele nunca esquecesse disso.

Alzira sabia o quanto ele a amava, e beijou-o com o ardor de antes.

 

 

 

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