quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

                                           


                                                                


                            ENCONTRO DE MARIA COM SUAS AMIGAS


Reisado S. Luís - Ma

              
          Dia de Reis, Maria foi ao encontro das amigas Sônia e Selma, conforme haviam combinado, após passarem as festas de fim de ano com a família, todas três com filhos, genros, noras, netos. E, como boas católicas, elas não haviam esquecido o nascimento do menino Jesus, como tantos outros, que só tratam da comida á mesa para se regalarem à farta. Gente que parece pagã, onde a árvore é o centro das atenções, no lugar do Presépio. E já sentadas para o bronche, comentam sobre o local, que dá sinais de fim de festa, alguns restaurantes em férias coletivas dos funcionários, pouco são os fregueses, em ressaca dos festejos. Mas, como lhes fala o proprietário, ali não dá par parar, o atendimento sempre impecável.

                  Maria é dona de casa, deixou de trabalhar para cuidar da casa, mas está conectada com o mundo através da internet. Fez o mesmo concurso das duas colegas, e se tornaram amigas. Tem algo na ponta da língua para comentar nessa entrada de novo ano, após o ano anterior, nada saudável, devido ao covid19 que entra no terceiro ano de pandemia:

                —Não sei se vocês concordam comigo, mas nesse nosso tempo, vive-se com medo de tudo, muito embora na plenitude da tolerância, num retrocesso histórico, que pode diminuir cada vez mais as chances do progresso pessoal para todos. E os que mais sofrem são as minorias, as conquistas admissíveis apenas para uns poucos.

             Sônia, já aposentada, havia tirado o segundo lugar no concurso público, perdeu o primeiro para um quase gênio. Entra com tudo no assunto:

           — Penso que hoje não são poucos os que duvidam do progresso, como ele se apresenta. De minha parte, penso que a conquista pessoal é uma questão de civilidade, de acreditar nas instituições, de se ter a compreensão do mundo em que se vive e faz parte.

           Selma também aposentada, como boa católica, fala na compaixão, ou comunhão, como ela acha melhor que se diga.

          — importa a procura das pessoas mais participativas na sociedade, ou seja, que possam servir. Atuar da melhor forma para o bem comum, desde o servente até o alto funcionário com seus papeis específicos. Todos com possibilidade de avançar na escala social, o que vai depender de uma série de fatores. E há os que se deixam ficar onde estão, por opção, e são felizes assim. A felicidade é o que importa, acredito.

              Maria volta a falar:

             —A saber, nos altos escalões a felicidade não está garantida. Já fomos intolerantes em demasia, mas agora cada um faz o que quer, e não pode ser assim. Tem que controlar essa anarquia, e que se veja o mundo de modo abrangente, sem essa demagogia da tolerância a qualquer custo. E não haja discriminação, e sim humanidade, afinal somos do jeito que somos, passíveis de compaixão.

           Depois do breve diálogo, ideias em uníssono, as três amigas dedicam-se a comentar os dias de festa em suas casas, a família reunida, com algumas ausências, por algum motivo. E a saudade dos que partiram para sempre, o que também faz parte da vida de cada um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário