segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 


                  O HOMEM QUE CONTEMPLA

                                                Fernando Pessoa

 

Vejo que as tempestades vêm aí

pelas árvores que, à medida que os dias se tornam mornos,

batem na minhas janelas assustadas

e ouço as distâncias  dizerem coisas

que não sei suportar sem um amigo,

que não sei amar sem uma irmã.

 

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,

atravessa  a floresta e o tempo

e tudo parece sem idade:

a paisagem, como um verso de saltério,

e pujança, ardor, eternidade.

 

Que pequeno é aquilo contra a qual lutamos,

como é imenso o que contra nós luta;

se nos deixássemos, como fazem as coisas,

assaltar assim pela grande tempestade —

chegaríamos longe e seríamos anônimos.

 

 

S. luís - Ma

 

 

 


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