segunda-feira, 8 de abril de 2013


                                        CONVERSA AFINADA
                      
Somos um Estado laico. Mas as ideias se entrecruzam e devem ser debatidas com todos os membros da sociedade, crentes ou não. Isso é democracia! A seguir o pensamento de duas grandes autoridades religiosas sobres assuntos polêmicos, como ateísmo, união homossexual, aborto, entre outros.      
                  
                              


  
          Antes de se tornar papa com o significativo nome de Francisco, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, manteve encontros sistemáticos com o rabino Abraham Skorka, quando então as duas maiores autoridades religiosas da Argentina trocaram ideias, dialogaram, sobre os assuntos que atualmente causam grande polêmica, como o ateísmo, celibato dos padres católicos, homossexualismo, aborto e divórcio. Avaliaram conjuntamente a liberdade moderna sob a luz das crenças que eles representam, o catolicismo e o judaísmo. A revista Veja publicou trechos dessas conversas, publicados no livro Sobre o Céu e a Terra, dos quais fiz um resumo.
         ATEÍSMO- Uma das questões mais graves para a igreja católica é o ateísmo que Jorge Bergoglio diz ser uma questão de honestidade, ou não, de quem se diz ateu, ou apenas agnóstico. Melhor observar as virtudes humanas dessas pessoas e não condená-las, afinal todo homem é imagem de Deus, seja crente ou não. O agnóstico mais coerente com essa condição, pois a fé merece que as pessoas sejam coerentes, duvidando em vez de serem categóricas. Quanto ao rabino Abraham Skorka, ele é mais duro com o ateu que acredita ser uma pessoa arrogante, assim como aquele que diz ter certeza da existência de Deus. Ter fé em Deus não obriga a que se deva provar que Ele exista, o que seria impossível, como é impossível assegurar que Deus não existe.    
   UNIÃO HOMOSSEXUAL- Para Skorka o casamento entre pessoas do mesmo sexo se enquadra numa figura jurídica nova, e não se trata de uma questão de crença mas de cultura. Em primeiro lugar ter consciência da disparidade que existe entre o casal homossexual e o heterossexual.  A lei judaica é clara, a relação sexual ideal para o ser humano é entre um homem e uma mulher, base do processo civilizatório, que tem base antropológica e a nova lei (o casamento homossexual aprovado na Argentina) não convence o rabino, que aconselha, todavia, o respeito à intimidade das pessoas. Para Brgoglio temos que falar muito claro nos valores, nos limite, nos mandamentos de Deus. Do ponto de vista sociológico e antropológico, não é uma boa coisa equiparar a união homossexual com aquele entre um homem e uma mulher que tem base na condição natural do ser humano.
ABORTO-  O direito à vida é o primeiro dos direitos humanos, do qual Bergoglio não abre mão. Abortar é matar quem não tem condição de se defender, e ponto final. Em nenhuma circunstância a igreja católica aceita o aborto. Skorka fala que, por mais que seja de início apenas uma célula, ela vai se desenvolver para que surja um ser humano, o que não pode ser interrompido sob pena de se faltar com o respeito pela vida. Mas no judaísmo é permitido à mãe abortar quando sua própria vida corre risco e em outras situações em que a lei permita.
CULPA- Sentir culpa é normal desde que haja uma transgressão e se precisa pedir perdão, não para suprir um sentimento religioso, o acontece com algumas pessoas, que precisam viver em culpa, são “culpogênicas”. Transformam o encontro com a misericórdia de Deus em algo como ir à tinturaria para tirar a mancha de uma roupa, degrada as coisas.  Skorka cita a mãe “culpogênica” na cultura hebraica. A essência da concepção judaico-cristã é acontecer uma mudança íntima após a transgressão, seguida do arrependimento. E não voltar a cometer o mesmo erro.

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