segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018






           
               LIVRE PARA MUDAR
            




         A talentosa cineasta Greta Gerwig é diretora e também roteirista de Lady Bird,  filme que tem cinco indicações  ao Oscar de 2018: melhor filme, direção, roteiro original, atriz e atriz coadjuvante. A trama é leve apesar dos problemas abordados, o cotidiano de uma família  na  periférica Sacramento, Califórnia, a protagonista é vivida pela excelente Saoirse Ronan, uma garota que busca se afirmar como individualidade, ao lado de uma mãe ansiosa e exigente, papel da veterana Laurie Metcalf. O pai é uma pessoa rara, aquele homem calmo e atencioso, que podia ser ideal se não fosse a falta de ambição, assistindo complacente as brigas de mãe e filha, uma relação tanto calorosa quanto dolorosa. A intempestiva filha Christine rejeita seu nome, quer ser chamada Lady Bird,  estudante que precisa trabalhar para ajudar nas despesa em casa. O pai de cabelos encanecidos acaba de perder o emprego, enquanto a mãe desdobra-se em dois empregos.

O roteiro agradou a Academia, certamente por focar na família, que vive hoje  momentos difíceis, em especial a classe média,  a americana principalmente, com frequentes tiroteios nas escolas. Com um esnobismo falso e cafona, Lady Bird quer fugir da realidade, com a qual não sabe lidar pela pouca idade. Mesmo não sendo um roteiro tão original quanto o do filme A Forma da Água, acredito que mereceu essa e as outras quatro indicações. Mexer com os brios da sociedade de hoje, com a educação em crise, sem que  ninguém entenda o que está realmente acontecendo com a juventude, já de algum tempo causando apreensão. A maior parte  da trama acontece no colégio onde a garota estuda, e também se relaciona. O colégio é católico, com freiras sorridentes e um padre bonachão, responsáveis pela disciplina, sem a rigidez de tempos atrás nas instituições religiosas de ensino, mas que ainda tenta preservar as virtudes cristãs de respeito, solidariedade, humildade, amizade.

            Christine, ou Lady Bird implica com tudo dentro de casa, até com os cabelos naturalmente crespo da moça afrodescendente, que mora com sua família, seus pais anfitriões também de um rapaz asiático. Diz que a moça com aquele cabelo não vai arranjar emprego, enquanto capricha na tinta rosa das seus madeixas, para chamar atenção. Conquanto a boa educação escolar e familiar seja o maior trunfo que há para a pessoa se dar bem, de verdade, na vida, alçar o tão almejado voo com segurança. E após um ano de expectativa, Christine é selecionada para ocupar uma vaga na faculdade, que concorreu escondida da mãe. O fato acirra os ânimos, a mãe deixa de falar com a filha, magoada com o segredo guardado com a ajuda do pai. Problemas com as pessoas em casa existem, e ninguém está isento de ser um problema, quando acha que não deve dar satisfação das suas ações, e pode merecer restrições no seu jeito de pensa. Não querer que ninguém mande em sua cabeça, e desprezar os argumentos e a opinião de pessoas abalizadas, os pais, por exemplo, não torna a pessoa livre. Liberdade é pensar e agir de forma firme e razoável, com possibilidade de mudar de ideiaNão ser tacanho e inflexível. Mas também não viver na prisão da opinião alheia, pois quem se preocupa em agradar ou desagradar, não consegue nem uma coisa nem outra. 

            O filme em apreciação mostra as falhas na educação dos jovens na pequena e tacanha Sacramento, como em qualquer outro lugar no mundo atual, de trajetória confusa, de pais sem autoridade, que se estressam de tanto trabalhar, não apenas para sustentar a família, mas satisfazer as exigências dos filhos. Já na faculdade Christine vai a uma festa na casa de um colega, a farra correndo solta, quando então ela lembra de perguntar se o rapaz que bebe ao seu lado acredita em Deus, a resposta é não. E antes de ir pra a cama com o dito cujo, passa mal, indo parar no hospital. Ao sair do atendimento médico, está só, desamparada, quando avista a cúpula de uma igreja perto, bela e imponente construção, uma fortaleza, o que mostra seu exterior à universitária, que para lá se dirige. Dentro do recinto a paz que transmite, e lhe toca fundo na alma o coro harmonioso de crianças e jovens que ali se apresentam. De imediato sente necessidade de telefonar para casa, para expressar sua gratidão pelo cuidado e amor incondicional que os pais lhe dedicam. Despertada naquela alma a virtude da gratidão pelo bem recebido, e também o desejo de pedir perdão e perdoar as faltas de atenção e respeito. 

                   Christine, que queria ser Lady Bird em Sacramento,  é chamada na Faculdade pelo nome que os pais lhe deram ao nascer, verdade registrada em cartório, de acordo com sua biologia, marcada na alma pelos ensinamentos familiares e religiosos. A família e a fé cristãs, tão dignas heranças, que dão aos filhos o melhor de si. Instituições que tem resistido às intempéries, e não se sabe até quando. A garota avoada da pequena cidade onde viveu seus primeiros tempos escolares queria mais que tudo ser livre para voar, ou seja, ter o próprio pensamento, ser dona de sua vida. tudo bem, mas foi  preciso que se afastasse para adquirir a consciência do valor da herança que tinha,  sua de direito, e não podia perder. Por precárias que sejam, não tem o que substitua a família e a igreja, que ensinam o valor do amor, dão sustentação na dor, servem de farol, luz no fim do túnel, fortaleza contra o mal, em suma, são portos seguros para atracar nossa frágil embarcação após a tempestade. Por tudo isso merecem amor e respeito. São instituições confiáveis, que amparam, iluminam os caminhos, ainda mais em um mundo louco, tenebroso, em que se vive hoje. Fica a seguinte pergunta: "O que podemos fazer em benefício da família e da igreja?"  O filme talvez não ganhe Oscar, mas merece as indicações recebidas.


LADY BIRD

 
blogueira coach

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