sexta-feira, 20 de dezembro de 2019






                                   FELIZ NATAL!



              
As crianças estavam na maior expectativa com a visita do Papai Noel. O Natal  naquele ano seria comemorado na casa da tia de Maria, que acabara de dar a luz pela primeira vez, e vieram dois, um casal. A sobrinha perguntou-lhe, se era mais fácil ser feliz. Recebeu uma historinha como presente natalino. Aqui vai contada, palavra por palavra:

“Na juventude, fui vítima da varíola, ainda não erradicada no país. Alguns dias de cama, e quando me vi livre daquela terrível doença, com marcas no corpo, achei que devia ir ao encontro da felicidade. Era domingo, saí de casa, e depois de algum tempo seguindo na mesma direção, cheguei ao meu destino. Ao entrar na igreja tive a sensação de vivenciar algo inteiramente novo, que em minha vida mudara, e eu era quase uma criança. Rezei, conforme prometi à madrinha que havia aconselhado que assim o fizesse. Dei continuidade à minha "aventura" dirigindo-me para a bela praça à frente, as pessoas indo de um lado para outro, entre canteiros de rosas e imponentes palmeiras. 
"A paisagem estava coberta por coloração luminosa de um dia quente de verão.  Alguns passos, e avistei um garoto esparramado no banco, os olhos fechados, ele sentiu minha presença, resmungou, e se virou para o lado oposto. Logo a seguir encontrei uma moça vestida com elegância, estava perto da Fonte Luminosa, parecia ansiosa a espera de alguém, tomou um susto quando percebeu alguém sentar ao seu lado, afastou-se para a ponta do banco. Cumprimentei-a: “Oi, tudo bem?” Ela olhou-me irritada e disse: “Sai daí, pirralha!” 
"Fui para o outro lado da praça, em frente ao mar,  cheguei perto de um homem maltrapilho, ele gritou para eu procurar pessoas mais legais para conversar. Andei alguns metros saltando as pedras, desviando das poças d`água, havia chovido. Perto do coreto pombos devoravam os farelos de pão trazido pela velhinha, que ficou por ali, e logo percebi que aguardava a música do fim da tarde na praça. O sol estava sumindo no horizonte, e alguns músicos dentro do coreto posicionavam-se para tocar, afinavam seus instrumentos. As pessoas começaram a se mexer.  O rapaz que estava deitado no banco veio ao encontro do som. A moça tristonha tinha aberto um lindo sorriso vindo nessa mesma direção. Pensei no encontro dos dois. O mendigo acenou para mim, e mais gente ia chegando. Deixei o local pensando em todas aquelas pessoas, cada uma com sua história.
"A meio caminho de casa ocorreu-me uma ideia, que me fez diminuir o passo, e dizer para mim mesma: Tem gente com dom para a música, tocam seus instrumentos com prazer, mas eu gosto mesmo é de ler, e acabo de pensar num montão de temas para os contos que vou escrever. Daí que vou concorrer ao prêmio literário, que estão anunciando. Com o dinheiro vou presentear as pessoas que cuidaram tão bem de mim durante minha doença. Posso desenvolver um talento maravilhoso, mesmo não sendo facil cair no gosto dos leitores. Mas não queria parecer mercenária quando contasse meus planos para minha madrinha de ganhar dinheiro. Foi assim, Maria, que comecei a escrever. Ganhei apenas a publicação do conto na época, mas a literatura passou a ser minha atividade favorita. Fez com que eu tirasse minha maior nota no meu primeiro concurso para funcionária pública.
"Mais alguns passos e já podia vislumbrar a árvore de Natal na sala de casa. A alegria habitual, a sensação de caminhar com confiança, ter o porto seguro do lar, da igreja, da escola, do trabalho, da diversão. A felicidade pode ser tudo isso, Maria! As marcas da varíola tenho até hoje. Mas o sofrimento pode ser um aprendizado, mudamos com a dor que nos faz ver as coisas de forma diferente de antes, e nos tornar melhores. Feliz Natal para você, querida sobrinha!”




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