quinta-feira, 18 de junho de 2020


                




     QUATRO PAPAS DOS NOVOS  TEMPOS  –  2







Pio X tem como principal desígnio  fazer crescer nas almas  a vida espiritual. O sacramento da Eucaristia posto à disposição dos católicos, onde podiam encontrar ajuda e alimento. A renovação eucarística, que caracteriza tanto  o catolicismo dos nossos dias, continua a ser obra de Pio X, mas foi elevado aos altares por Pio XII. E em diversas ocasiões Pio X afirma a necessidade de um escol de leigos, destacando a urgência que tinha a Igreja de santos leigos. O tom era novo, e sua encíclica Il fermo proposito,  considerada  um texto premonitório, em que se anunciava  a Ação Católica, empreendimento capital de meados do século XX.  São Pio X foi elevado aos altares por Pio XII.

O próximo papara escolheu o nome de Bento XV, considerado uma síntese dos papas Pio X e Leão XIII. Diplomata como Leão XIII e ao mesmo tempo pastor de almas, generoso e preocupado como Pio X. Escolhe o nome, inspirado no equilíbrio de Bento IV, louvado por Voltaire, para dizer que seria um papa de espírito aberto; prudente e também audacioso. Ao mesmo tempo um dotto, um politico e um zelante tudo o que se esperava de um papa. Mas assim que os sinos de São Pedro festejam sua coroação os exércitos franceses e alemães entrechocam-se na terrível batalha no Marne. A Europa mergulha no caos da Primeira Grande Guerra, os católicos erguendo-se uns contra os outros. Falar de paz, propor a paz, trabalhar pela paz, essa a missão do papa. Foi censurado por isso. O Papado  acabou por ser excluído das negociações dos tratados de paz como o afastaram do organismo criado, a Sociedade das Nações. Os Estados conspiravam contra a verdadeira paz , o que veio a ser a paz de Versalhes.  Homem de vasta cultura, Bento XV publicou a encíclica Saeculo sexto exeunte (1921) por ocasião do sexto centenário de Dante, dirigida aos professores e alunos das Universidades e Institutos Católicos e um dos mais belos documentos pontifícios sobre o significado da cultura e  a relação entre as coisas divinas e as obras que enriquecem a mente.

Após a morte de Bento XV, o cardeal- arcebispo de Milão, Archille Ratti, no seu panegírico, assim se expressou: “Nunca o prestígio da Santa Sé foi tão grande como hoje.” Seria o futuro papa Pio XI, cujo aspecto psicológico da personalidade é de um espírito de decisão. A fé invencível numa causa servida pela paciência e constância, que os escolásticos chamam de “magnanimidade”. Diferente do seu antecessor, que era filho do marquês  Della Chiesa, o novo papa era filho de um diretor da fábrica têxtil Conti, um simples bibliotecário, por trinta anos professor de seminário maior e capelão de religiosas, funções que não lhe exigia heroísmo. Mas na greve em Milão(1893) mostra-se com toda simplicidade um herói. Os fascistas confundiam as organizações católicas com organizações políticas seculares, e criaram o “catecismo do Partido Nacional Fascista”, publicação inscritas no Index Librorum Proibitorum da Igreja. Mussolini lança em Milão a fórmula destinada a grande repercussão: “Tudo  no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado.” Esse estatismo devorador não podia ser admitido pela Igreja.

Pio XI manda inscrever no Index outro livro doutrinário fascista “Late a Cesar” (Dai a César). O mecânico Anton Drexler funda o Partido Nacional Socialista Operário, abrigo para o pintor de parede Adolf Hitler, que vai se tornar dono da Alemanha. E teria a Igreja que enfrentar por mais tempo ainda o duradouro regime comunista, que triunfara em 1917.  Nietzsche é um voz isolada, não se dirige às multidões, como o falará Karl Marx, que vai colocar em prática a anunciada “morte de Deus”. Audaciosas as teses do Manifesto comunista, do movimento revolucionário marxista, a partir do idealismo de Hegel. A ameaça totalitária é concreta, e a religião uma pedra no caminho dos revolucionários comunistas. É conhecida a célebre fase de Marx: “Religião é o ópio de povo.” Coube a Vladimir Ulianov, dito  Lênin, levar a cabo a doutrina comunista, que passou a se chamar marxismo-leninismo. Evidente o avanço da irreligião nos espíritos e um combate em defesa de Deus se fez necessário.

Na encíclica “Divini Redemptoris”, de condenação doutrinal do comunismo, Achille Ratti restitui à igreja o seu papel de consciência viva dos povos, guardiã dos valores da civilização.  Quadragésimo Anno é a encíclica em que Pio XI faz do apostolado dos leigos uma forma de fazer avançar a Igreja. Multiplicam-se os movimentos “especializados” dando novo vigor à Ação Católica, que havia de modificar a relação da Igreja com a sociedade. Célebre o proselitismo leigo dos jocistas e jacistas e outros, que assumem a forma de uma verdadeira instituição.  Os fiéis tinham uma tarefa  até então ao cargo exclusivo do clero, impulso dado por Pio XI na formação de jovens que deviam colaborar com a Igreja, manter o rebanho coeso no ideal da fé católica, diante das perspectivas de mudança após a Segunda Grande Guerra. O clima fraternal do apostolado leigo a penetrar  fundo nas massas, para atenuar as dissensões entre as classes.

Santo Avito, bispo de Vienne nos tempos bárbaros, proclamava  que “os leigos são a Igreja”. Verdade posta de lado pelo concílio de Trento para  responder aos ataques dos protestantes contra o clero,  a Igreja concentrando as forças nos seus padres.  Após a Segunda Guerra surge um laicado comprometido, de onde saem as elites católicas empreendedoras, tão cara ao futuro papa Pio XII. Os fieis leigos debruçam-se sobre a moral dos negócios, a moral social e a moral do dinheiro, um dos resultados mais felizes do progresso da Ação Católica. Dizia o pe. Cardijn fundador Joc (Juventude Operária Católica): “Lembrai-vos de que  nenhum regime, nenhuma legislação, pode salvar a sociedade se não houver um projeto de mudança dos homens.”  Pe. Felix Klein anota que “ às místicas racistas e comunistas, formas místicas de conquista.” Há urgência em impor uma nova mística, a fim de “reconstruir uma sociedade verdadeiramente cristã em que todos vivam para todos como membros do Corpo Místico de Cristo.” Comunismo, esquerdismo? Nunca, jamais, em tempo algum. Humanismo cristão, sempre. Contra o "liberalismo"bateram-se 

Leão XIII, Pio X, Bento XV e Pio XI, papas ferrenhos defensores da doutrina e moral cristã, contra o "liberalismo" dos novos tempos, visto por Vossas Santidades como causador de demasiados erros, graves desordens  e muita violência.


HISTÓRIA DA IGREJA -DANIEL-ROPS
DA ACADEMIA FRANCESA DE LETRAS



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