sexta-feira, 25 de janeiro de 2013



              SALVE MARIA II


As crenças arcaicas se resumem no temor de que a vida esteja ameaçada por forças hostis, irracionais, e que devem ser sempre conjuradas, segundo o romeno Mircea Eliade, que nos faz percorrer os territórios das antigas crenças e mitos, capaz de elucidar muita coisa sobre a  Mãe divina, tão venerada pelos católicos. Ao longo dos tempos a busca pela transcendência deu-se de formas diferentes, que guardam semelhanças entre si. Nos mistérios de Mithra, a escada (clímax) cerimonial tinha sete degraus e cada degrau uma meta diferente. A ascensão estática do xamã ocorre através da ave simbólica, que é invocada para a subida com mais ligeireza.  Os heróis turcos-mongóis, em seus ritos, promoviam viagens aos céus, que se  assemelham aos ritos xamânicos, sendo Genges Khan um reputado xamã mongol, que sobe em seu corcel, animal que é sacrificado na chegada ao céu. Temos então a história bíblica da burrinha de Balaão que é obrigada a seguir em frente por seu dono, mas que resiste a tão perigosa subida para ambos. Reconhecer a fragilidade humana é sinal de mais sabedoria, o que ensina os hebreus em sua avançada cultura.
Jacó adormece sobre uma pedra e sonha com uma escada cujo topo atinge o céu, por onde os anjos do Senhor subiam e desciam. Subir aqueles degraus não era para qualquer um, requeria um espírito maduro, bem  preparado. O cristianismo conserva a tradição ao tratar das fases da perfeição mística como subida ao Monte Carmelo, do místico São João da Cruz, mas que avisava às noviças não ambicionarem atingir o cume da montanha, experiência que não era a coisa mais importante na religiosidade. A ascensão mística, que tem origem no Oriente, gozou de grande popularidade nos últimos séculos da Antiguidade. Tanto o orfismo quanto o pitagorismo contribuíram para sua difusão no mundo greco-romano. O transcender, ou evoluir da condição humana, em busca de um “devir”. O orfismo pretendia alcançar a ruptura do ciclo de reencarnações. No cristianismo a morte ritual como forma de neutralizar as forças inferiores, seguida da ressurreição divina.

Nas culturas mais antigas o culto à divindade feminina, adotado por várias crenças, tem ligação com o céu, ou mais especificamente, com a lua, pela correspondência entre a estrutura lunar e crescente. A primeira letra do alfabeto hebraico, Alef, significa touro, o símbolo da lua na sua primeira semana. Segundo um texto tântrico a deusa deve ser meditada a partir do primeiro dia da lua nova e durar toda a quinzena luminosa, uma inovação brâmane recente. O cerimonial tântrico dá importância capital à mulher e às divindades femininas. No catolicismo a crença em Nossa Senhora, tornou-se dogma de fé, com muitas aparições da figura feminina no esplendor da glória divina, uma imagem que foi concebida conforme uma visão de Catarina Labouré, no convento das Irmãs de Caridade,  em Paris, no século XIX. Na aparição a intitulada Nossa Senhora das Graças  deu instrução à noviça para que cunhasse uma medalha com a figura que ela via no altar à sua frente. Foram cunhadas duas mil moedas em 20-06-1832. Devoção que se ampliou no mundo todo.
Na revelação da divindade de Maria encontramos o  sagrado celestial numa estrutura impessoal, intemporal, a-histórica. A imagem da Virgem Maria aparece a Catarina de Laboure em cima do globo   terrestre,  tendo a seus pés o chifre=crescente, representação das crenças arcaicas e das fases sincréticas nas religiões mediterrâneas. Mundo tauroctônico-mágico-sexual, que a refinada  mística cristã e católica transfigurou. As aparições de Maria constituem fatos mágico-religiosos que dão “sinais” reveladores da “ação do sagrado” que se tornaram paradigmas no passado e ressurgem para os novos tempos da fé. Poderes anteriormente valorizados são esvaziados das suas forças elementares, ultrapassadas. A fé com nova face, no sentido de direcionar o ser humano para um novo caminho, revelado na imagem divina e consoladora de Maria, que transcende o universo sublunar. Em Maria o devir humano cíclico (lunar), associado à lua nas culturas antigas, arcaica, adquire existência superior, absoluta (humanidade plena). Saem das mãos de Nossa senhora das Graças raios divinos que iluminam, ou os fios que “tecem” o véu da fé, do amor, sobre as criaturas de Deus. As 12 estrelas sobre a imagem divina representam as tribos de Israel, povo messiânico, do qual Maria é descendente, de acordo com as escrituras sagradas da Bíblia e dos Evangelhos.
A evolução cristã e universal da religiosidade  se  completa na figura divina da Virgem Maria.  A seguir, a cronologia de algumas aparições:
Ano 39 - (depois da Assunção), na Espanha, Santiago Apóstolo viu aquela que seria intitulada Nossa Senhora do Pilar.
352 - o papa Libério, em Roma.
1208 - São Domingos de Gusmão e a instituição do Santo Rosário.
1251- São Simão Stock recebe o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.
1531- São Jean Diego, um indígena no México pinta a extraordinária a imagem de Nossa senhora de Guadalupe.
1717 – Um grupo de pescadores encontra no mar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que se tornou a Padroeira do Brasil.
1830 – Santa Catarina Labouré, em Paris na França, tem o encontro com Nossa Senhora das Graças.
1858 – na localidade de Lourdes, na França, Bernadete Soubirous, afirma ter visto uma figura feminina que se autodenominou de Imaculada Conceição.
1917 – Três pastorzinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco têm o encontro com Nossa Senhora, em Fátima Portugal.
1981 – Um grupo de jovens católicos recebe, periodicamente, a visita de Nossa Senhora, em Medjugorje, na Bósnia e Herzegovina.  

     

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