sábado, 8 de fevereiro de 2014




                     
             CINQUENTA ANOS DEPOIS


       



     Em meados do século XX chegamos a João Pessoa com uma filha de dois anos, a família incompleta, faltavam dois membros. Compramos uma casa na cidade, onde nasceu nosso segundo filho.  O lugar com importância para a felicidade, que acreditávamos nos acompanhar onde quer que estivéssemos. De repente, fomos surpreendidos pela ditadura militar, início de tempos confusos para o Brasil, assim como para todos os cidadãos desse país. A confusão generalizada no mundo, dividido entre comunistas e capitalistas, a terrível “guerra fria” entre Estados Unidos e União Soviética. Lembro do dia e hora em que soube da morte do presidente  americano, fato que comuniquei a minha vizinha, que não sabia quem era a pessoa da qual eu lastimava tão trágica morte. Não demorou, veio outra surpresa, os militares tomaram o poder, sinal de que que as coisas não estavam nada boas para os brasileiros, o desenvolvimento nacional travado por conta de políticas incompetentes, como sempre, e alguns brasileiros acreditando no comunista, para eles a salvação. Um grave equívoco, que nos fez passar por momentos difíceis, e cruéis para os engajados nos movimentos sociais, nem sempre com ideias comunistas. Os militares no poder foi uma dura provação que teve de acontecer. Mudamos para S. Luís, minha cidade natal, onde nasceu nossa filha caçula, a família estava completa. Daí começava um novo itinerário para o casal, que passou alguns anos no Rio e veio para Brasília em 1971, onde mora até hoje.  
       Cinquenta anos depois retornamos em férias à capital da Paraíba, agora transformada numa metrópole, como tantas outras do norte e nordeste brasileiro. Prédios altos que despontam dando prova do seu desenvolvimento, com largas avenidas e shoppings espalhados pela cidade. Mas nem tudo são flores, a violência, por exemplo, a gente tem logo notícia dela, que se tome cuidado, os turistas sendo alvo preferido dos bandidos, as pessoas sem segurança para andar livremente. A segurança e a saúde que continuam devendo muito aos cidadãos pessoenses, reclama o taxista. Quanto á saúde lembrei que há cinquenta anos, já em processo de parto, eu tive de percorrer vários hospitais para conseguir uma vaga. A saúde parece que não melhorou o tanto que devia, mas o trânsito quanta diferença! Do taxi vemos uma batida, carros em grande quantidade, que se atropelarem, e poucos os sinais de trânsito. “É o terceiro que eu vejo hoje” diz o taxista inconformado. Nas praias os cartazes avisam que estão livres para o banho, mas fui vítima de algum bichinho peçonhento, e restou-me uma infecção na perna.
     Quem no passado podia suspeitar que havia em João Pessoa um dos mais belos Pôr do Sol, além do mais, assisti-lo ao som do bolero de Ravel? O evento acontece na distante Praia do Jacaré, desde quando um saxofonista escutando todas as tarde o som vindo da casa vizinha ao seu bar, resolveu encampar a ideia. Um momento extraordinário. Por fim, fui ver o local onde moramos por algum tempo, numa rua de casas ajardinadas, seus arredores, antes tão tranquilos, agora em intenso e desordenado movimento. As moradias transferidas em sua maioria para apartamentos na orla marítima, os chamados espigões, na crença das famílias gozarem de maior segurança e o conforto, uma verdadeira explosão imobiliária. Formam-se  engenheiros na capital da Paraíba, numa das melhores faculdades de engenharia do país, à  serviço do progresso da construção civil. É para onde nosso neto, do filho paraibano, pretende se transferir como estudante de engenharia. Além do passeio, fomos sondar o ambiente, do qual tiramos algumas boas impressões, principalmente, pelo povo acolhedor e educado, inclusive os taxistas, noutras localidades tão pouco amigáveis. A prova é que de volta à Brasília tivemos a desagradável experiência com um taxista, que em desabalada correria atravessava as mal traçadas vias entre os canteiros de obras, da retardada preparação para a Copa e as Olimpíadas. 

                           
   

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