terça-feira, 8 de julho de 2014



                                             "MEU CORAÇÃO DE CARNE E SANGUE"
            

               



        Todos nós temos alguma coisa, ou várias, que deveríamos ter feito na vida e não fizemos. Uma, em especial, me deixa triste, não ter dado condições à minha avó voltar para sua casa na Rua das Hortas. A filha mais velha, minha mãe, casara muito cedo e morava no interior, o que fez com que a certa altura eu fosse morar com essa avó, junto com meu irmão mais velho. Íamos em busca de melhor estudo na capital, e como não lembrar da alegria que tive ao encontrar tantas coleguinhas do jardim de infância no Grupo Escolar Alberto Pinheiro?  Do curso primário até o segundo grau fiz no Colégio Santa Teresa, onde recebi a melhor formação que alguém possa ter, minha eterna gratidão. Foram anos tranquilos, com pais substitutos, meus tios antes de se casarem, e nem senti o tempo passar, tanta coisa que acontecia, o caso da Segunda Guerra, presente em nossas vidas, embora não diretamente, mas junto com a Grande Guerra de 1914, mudaria radical e definitivamente a face da civilização. Do primeiro conflito surgiu o comunismo para infernizar o capitalismo norte-americano, URSS e EUA, as duas grandes potências do século XX, inimigas, cercados de anarquistas e outros bichos.
               
              O período que antecedeu às duas guerras mundiais era de progresso nunca visto e de paz, o que as pessoas pensavam duraria para sempre, e de repente tudo mudou. Havia o interesse de cada nação, e quanto eles são conflitantes, nem sempre entra em jogo a conversa, a diplomacia, boa vontade,  ao término das contendas tudo está bem diferente, para o bem e para o mal. Nas famílias, acontece quase o mesmo, o orgulho, o egoísmo, mesmo guerra declarada. Os filhos se tornam adultos e vão ter sua própria vida, defender seus interesses. Todos partem e os pais se veem só, às vezes sem recursos. Minha avó perdeu parte de suas rendas e teve que viver longe de sua casa, que ficou abandonada até ser vendida pelos herdeiros. Teria pensado em retornar? Como disse, tenho mágoa de mim mesma, por não ter feito algo para que minha avó permanecesse na casa, que herdara dos pais, para onde se mudou assim que ficou viúva, uma casa menor que a anterior, onde ela mantinha o seu jardim sempre florido. Uma pessoa dedicada às coisas do lar, caprichosa em tudo que fazia, inclusive, na educação dos netos, que bateram um dia à sua porta. A gente pensa que não pode fazer nada, mas pode, sim, o que vai depender de que se faça o que deve ser feito.
               
            Uma reflexão que faço há algum tempo, e agora me reforça o sentimento ao assistir no Telecine o filme de ontem à noite, “Volta Para Casa”. A protagonista aceita uma oferta de emprego na cidade grande, deixando para trás pessoas que resistem em se mudar, a mãe dona de um pequeno negócio, e o noivo construindo uma pousada para turistas. Pouco tempo depois, em visita à cidade, um acidente e perde a memória, o que faz com repense a vida que leva longe do seu lugar de origem, e acaba por lhe dar oportunidade de solucionar o problema da cidade, juntamente com o da sua família, que iam perder a tranquilidade e o meio de vida para a expansão imobiliária, justamente da firma onde é grande executiva. Entende que o sucesso não significa relegar o passado, a consciência que se deve ter quanto ao progresso, às vezes, duvidosos, mas que pode dar melhores condições na solução dos problemas, sem destruir o que existe, principalmente em se tratando da verdadeira felicidade, que é a família. Acontece também no filme, “Um Homem de Família”, com Nicolas Cage, onde um certo dia um alto executivo retorna em sonho para refazer o passado, quando então se vê já casado e feliz na cidade pequena, de onde partira  para uma vida solitária, esquecido do real sentido da vida.  

     

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