quarta-feira, 1 de outubro de 2014



                       VIENA, FRANÇA E BRASÍLIA
          





          Iniciamos por Viena um passeio ao Velho Mundo: meu marido, eu, nosso filho e esposa. Quatro viageiros tomados pelo afã em ver de perto todos aqueles palácios, hoje museus; percorrer de ponta a ponta os belos jardins vienenses, que se perpetuam no tempo; andar por ruas tão bem arrumadas apesar da idade. E saber que desse cenário esplendoroso os Habsburgos comandaram por longo tempo toda a Europa é de causar espanto, no mínimo. Guerras não faltaram, duas grandes guerras, na história recente da humanidade, e não há prova melhor da fé e resistência do povo austríaco que a bela Catedral de Viena, salva dos bombardeios, quando tudo a sua volta desmoronou, a fé que sobrevive à destruição do próprio homem, que ergue civilizações, mas também não mede esforços para destruir o que cria de bom e de belo. Nem tudo, felizmente, e pudemos admirar a estátua em homenagem a Mozart, nesse berço dos mais extraordinários músicos de que se tem notícia que é a Áustria. Sem esquecer que ao pé do gênio da música clássica um porta voz da música baiana, como o argentino se dizia ser, tocou para nós seu tamborim, o que vinha fazendo pela Europa. Tais apresentações proibidas nas ruas de Viena, queixou-se o artista ambulante. Por fim, quão emocionante a visita que fizemos aos aposentos da bela rainha Isabel, conhecida mundialmente como Sissi, que todos pensam ter ela apenas conhecido o lado bom da vida, e saber, sim, da sua extrema vaidade, também do seu sofrimento, até ser morta por um fanático anarquista, que queria acabar a punhaladas com a nobreza existente no mundo, e não se intimidou diante de tanta encanto e beleza.    
       

          Seguimos para Munique de carro, desejo do nosso filho dirigir pelas estradas europeias. Uma parada em Salzburg, imperdível de se ver, e constatar o que acontece no interior das cidades europeias interessa tanto quanto o seu exterior, e que se saiba de antemão sobre os espetáculos e eventos, entre os quais o famoso festival de Salzburg, em setembro, ao qual Ângela Merckel sempre comparece ao lado do marido. E não haveríamos de chegar na capital cultural da Alemanha sem antes nos perder na estrada, o GPS que deixou de funcionar. Mas ao chegarmos eu pude dizer logo na entrada: “É a cara da riqueza!” O tempo logo ficou nublado e algo estranho pairou no ar, talvez a lembrança do passado nazista, que ainda faz sombra àqueles prédios do centro antigo, com uma praça em homenagem aos mortos no holocausto. Notório, todavia, o bem estar e progresso do povo alemão, a começar pelos táxis tão bem equipados, que promovem segurança e conforta a passageiros e motoristas, e como eles são honestos. Já os franceses!... Em viagem anterior, havia conhecido a encantadora cidade alemã de Heidelberg, especialmente famosa pela secular universidade, onde a filosofia reina soberana, e no século XX contou com a inteligência de Anna Arendt e Heidegger. Pretendia revê-la, mas ficou para outra vez
      

          Apenas dois dias na impecável cidade de Barcelona, capital da comunidade autônoma da Catalunha, local dos Jogos Olímpicos de 1992, e constatar as transformações que aconteceram na cidade para o evento tornando-a referência de modernidade urbana. Ocorreu-me então o pensamento que se eu fosse bem mais nova ia querer participar ali de algum intercâmbio cultural. Mas dizem que sempre é tempo...De Barcelona a Madri menos de três horas de viagem, nem sentimos o tempo passar no confortável trem-bala, transporte que seria ideal para a travessia entre Rio e S. Paulo, promessa da presidente Dilma Rousseff, que ela pode ou não concretizar, ameaçada que está de perder a reeleição para  Marina Silva, ou mesmo Aécio Neves, numa possível reviravolta... Em Madri parecia nossa  primeira vez, agora apreciando a cidade do sightseeing tour, com guia eletrônico na língua de cada turista, facilidade e luxo que não contamos anteriormente e faz as delícias dos que visitam a Europa, multidões vindas do mundo tudo. Quarenta anos depois, rever a bela capital da Espanha foi de uma felicidade indescritível, principalmente por estarmos, meu marido e eu, vivos e com saúde. No museu do Prado lembranças ainda vivas, apenas algumas mudanças que acontecem com o passar dos anos, lógico, mas lá estavam os mesmos e eternos Velasquez, Murillo, e tantos outros expoentes da pintura mundial.
       
         Inacreditável Toledo, onde passamos apenas um dia, cidade que no passado foi considerada glória da Espanha e capital da civilização, imortalizada por Cervantes, também o local que El Greco escolheu para viver no final da vida e tema de muitas de suas pinturas. Na época importante centro cultural, conhecido por sua tolerância religiosa onde coexistiam na santa paz comunidades de judeus e mulçumanos. Localizada no topo da montanha, Toledo é cercado de ruelas íngreme, onde artesãos se dedicam ainda hoje a seu ofício, e compramos um Quixote esculpido em madeira para enfeitar a estante do escritório, também uma pulseira com detalhes em ouro, por pouco mais de cem euros. Tudo uma carestia para nosso real, e o turista tem que evitar despesas supérfluas, o quanto possível, sem deixar de satisfazer certos caprichos, a oportunidade pode ser única. Avistamos de longe a cidade nova que cresceu do outro lado do rio Tejo.      
      

          Enfim Paris, e uma frase que escutei na infância nunca saiu da memória, o tanto que me impressionou: “Paris é bela, meretriz devassa, que estrebucha e dança sobre a latina raça. Alemanha burguesa honesta!” Comparação entre França e Alemanha feita em plena Segunda Guerra, causa perplexidade a forma como foi feita, quando sabemos hoje das atrocidades nazistas, antes ignoradas. A antiga fantasia teutônica, a falsa glória, tão ambicionada, e que não mais existe, na moderna Alemanha que adota a democráticas liberdade e justiça, e muito trabalho, que o anglo-saxão não pensam mais em dominar ninguém, além de si mesmo. A latinidade é que sofre problemas financeiros, fácil de resolver quando há paz. Assim é que Paris nos encantou num belo fim de verão e começo de primavera, o sol a brilhar sobre aquilo tudo, os prédios em impressionante unidade de estilo e beleza. E sentir o esplendor do Rei Sol Luís XIV, que ainda brilha por lá, mesmo que os franceses nesse século XXI sofram com sua economia, assim como os espanhóis, os portugueses e quase toda a Europa do euro, pedindo reformas econômicas. Na década de setenta houve mudanças pós-ditaduras de direita, oportunidade que tiveram os socialistas de assumir o poder, e o tanto que decepcionaram. Com moderna União Europeia foi adotado o liberalismo econômico, quando aconteceu o espetacular progresso dos países pertencente ao bloco, atualmente em crise. Por ironia do destino, a maior fonte de renda passou a ser o turismo, ao qual os europeus concedem regalias, antes impossível, por exemplo, uma turista ser medicada por um solícito atendente de plantão na farmácia, o meu caso, coisa proibitiva no passado...
     

          A grande novidade para nós foi a bela pirâmide de cristal que serve de antessala para o Louvre, tendo eu escolhido por acaso iniciar a visita ao museu pela ala em que estavam dois quadros de Vermeer: “A Rendilheira” e “O Geógrafo”. Pintor das minhas pesquisas, e seus quadros tão pequenos em tamanho, mas contendo extraordinária arte. Os quadros disponíveis para serem fotografados pelos visitantes devido à moderna proteção. A Mona Lisa de Leonardo Da Vince em uma sala imensa repleta de curiosos, é um espetáculo à parte. Alta temporada, e gente de todos as raças, de todos os cantos do planeta estavam de férias em Paris. Nos Champs Èlysées as mulheres asiáticas em seus trajes de luxo, ou cobertas pela burca passeiam e compram, compram, inclusive roupas íntimas, fascinadas pelo luxo ocidental, o que dizem delas. A cultura é para todos, indiscriminadamente, e na pequena igreja San Julian Le Pauvre, ao lado da rica Nôtre Dame, assistimos um concerto de piano, mas no auge da performance do pianista, inesperadamente, um casal atravessa sem cerimônia o recinto, passa em frente ao artista interrompendo sua apresentação. É o caso de ter cuidado sobre o lugar onde se pisa, ou melhor, informar-se antes de adentrar  um recinto!... Em Saint Michell os turistas matam a fome de cultura, e a fome propriamente dita, nos muitos restaurantes existentes, ou compram panquecas nos puxadinhos para degustarem andando de um lado para outro, sem perder tempo e mais barato. Paris é tudo isso e muito, muito mais.
       
          Apenas dezoito dias na Europa, e estávamos de volta ao nosso Brasil. Chegar em casa é uma boa sensação, melhor ainda ao sentir que nossa bagagem está bem maior do que ao partirmos, e não devido a produtos de consumo. Trata-se de cultura. E já começamos a pensar em novos roteiros. Estados Unidos, ou Inglaterra e Bélgica? Quem sabe os dois? É nos dispormos a viajar, que o tempo urge.

  

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