segunda-feira, 30 de outubro de 2017






                     EIS  A  QUESTÃO





              Crer ou Não Crer é título do livro que o padre Fábio de Melo compartilha com o historiador ateu Leandro Karnal. Tem como subtítulo “conversa  sem rodeios”, um debate de ideias, ora conflitantes, ora concordantes, o que a editora Planeta acaba de publicar. O padre Fábio, apesar de dialogar com o mundo, inclusive como cantor, continua firme e forte em sua missão apostólica, o que faz questão de dizer. Ele aceita civilizadamente  dialogar com o ateu Karnal, que vivenciou uma fervorosa fé, até  abandoná-la, ao se tornar ateu de carteirinha. O padre com suas convicções faz contraponto com o ceticismo do historiador, ambos dedicados a falar a um público cativo. Os dois se identificam em especial por suas críticas ao farisaísmo.

Conversar, dialogar, virtude tão pouco utilizado hoje em dia, as cabeças férreas em seus radicalismos. Dois comunicadores midiáticos: um beirando a heresia religiosa, o outro desafiando a própria histórica. Vão ser lido em um país onde poucos leem, e os que abrirem suas páginas vão ter um encontro inusitado, o que pode até servir para alguma coisa, mas é pouco, muito pouco. Tempos atrás seria um absurdo, e mesmo agora é estranho que um religioso comece sua fala citando Adélia Prado, e dela fale mais de uma vez, e não se refira uma vez sequer a Santa Teresa d´Ávila, e sua poesia mística. Nada contra a poeta mineira que foi elogiada por Carlos Drumond de Andrade. A questão é se um padre em sermão, mesmo em livro, pode citar uma poesia que trata de calcinha no varal, entre outras coisas de igual teor, o que pouco, ou nada diz da fé, sua doutrina, seu carisma.

Fábio de Melo fala que “a própria hermenêutica que a religião faz dos textos sagrados precisam ser repensadas, uma vez que, para ele, assim como para o ateu, as urgências deixaram de ser religiosas  passam a ser humanas”. Por sua vez Karnal diz que Deus é o superego coletivo, e mais, que nós inventamos essências e “opiáceos” variados para suportar as dores doa vida. E sempre paradoxal, ele pergunta: “Como não ceder ao consolo da oração, da promessa e se entregar a um poder maior?” Ao que o padre Fábio de Melo responde, simplesmente: “Funciona.” Quanto às aparições de Nossa Senhora, o historiador credita à própria cabeça do interlocutor da santa, que seria “historicidade absoluta do que se crê ser a mensagem de cada instante”. E por achar que Deus saiu da cabeça do homem, sobre o fim de Deus, Karnal acredita que “Deus termina com o último homem e não antes... Só quando o último ser se apagar da face da terra é que teremos matado o último Deus.” Menos mal.

O papa Francisco já alertou que importa a qualidade e não a quantidade de fiéis. Ao se popularizar dessa forma midiática perde o catolicismo em essência. Seduzir o público por seduzir, não é uma boa coisa. Bem melhor faz o Padre Marcelo Rossi com suas missas, também na mídia, onde joga baldes da água benta nos fieis, mas não fere a doutrina católica, inclusive, já criticou Fábio de Melo, devido ao modo de se apresentar em público e algumas de suas ideias, beira a heresia. As pessoas que vão à igreja buscam uma fé que transmita confiança. Não que se possa duvidar da fé do padre Fábio de Melo, que desde criança, com a mãe, conviveu com a igreja e seus ritos.  Leandro Karnal, também religioso fanático na infância e juventude, ao lado do pai, mas virou ateu.

A doutrinação temerária seja de quem for, se não faz mal, também não faz tanto bem assim, no mínimo, leva as pessoas para o limbo. E é para lá que vão todos aqueles que se deixam seduzir pela mídia, quando não  experimentam seu próprio inferno. É a irresponsabilidade com que os veículos de comunicação tratam de assuntos, a merecerem  abordagem adequada, e não como é feito nas novelas da Globo, por exemplo.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário