quinta-feira, 26 de outubro de 2017




                                 REI LEAR 
                       - ABDICOU DO REINO E FICOU SEM NADA
                      
        

              Lear, rei da Bretanha, tem a intenção de libertar-se do dever de reinar para gozar os prazeres da vida, fazer o que quer, com isso resolve dividir seu reino entre as três filhas. Por sua natureza inculta, afeito à bajulação, o mérito para ele era ser atendido em suas demandas de atenção e afeto, defesa para sua insegurança. Antes de fazer a partilha pede que as filhas lhe dirijam algumas palavra, e quanto maior fosse o sentimento maior seria a generosidade. Goneril, a filha mais velha, não poupa palavras para exaltar seu amor pelo pai, e conclui: ”Eu vos amo além de todos os limites possíveis”. Palavras que endossa Regane, a outra filha, acrescentando mais algumas exaltações de amor ao pai.
               
            A mais nova, Cordélia, testemunha as demonstrações exageradas de amor das irmãs, e quando é interpelada, opta por nada dizer, apenas murmura: “Meu amor é maior que minha língua”. Atitude sincera, mas pode conter a semente do ressentimento, o que as outras interesseiras evitam demonstrar. Além do mais, “se a pessoa se calar, as pedras falarão.”(Lucas18,40). Um amor equivocado o de Lear, que se envaidece com as pródigas manifestações de Goneril e Regane, e resolve fazê-las suas únicas herdeiras. E fica ofendido com o silêncio de Cordélia, que experimenta a liberdade para calar, em vez de falar,  agindo assim, perde a oportunidade de expor o amor que sente pelo pai.  Por conta disso, Lear amaldiçoa essa filha e a expulsa de sua presença.   
              
           Quanta temeridade há em doar tudo o que se tem, abdicar dos seus direitos, seja em favor, ou em razão do que for. Uma tal prodigalidade tem sérias consequência, e logo após a doação começaram as intrigas, não faltando quem queira tirar proveito da situação. O velho rei não sendo mais o dono de nada é jogado para escanteio, maltratado. Goneril faz do intrigante Osvaldo, antigo bobo do rei,  companheiro para sua trama contra o pai. Em que reino for, o benemérito pode ser reduzido a pouco menos que nada. A outra filha, Regane, quando procurada não acolhe o pai, está de conluio com Goneril. Então, uma sequência de tramas e crimes acontecem.
              
          O rei Lea, por fim, é assassinado, enquanto procurava reviver a filha, Cordélia, a rejeitada, que havia sido enforcada, e que se tornara protetora do pai contra as maldades das irmãs. A pouca aptidão de um rei em reinar, e que abdica de seus direitos em favor de terceiros, sejam eles quem forem. Tramam os que recebem os bens e seus acólitos. Goneril e Regane fazem desmoronar o reino, que conquistaram com astúcia. Cordélia, por sua vez, não pôde desfrutar da estabilidade afetiva, numa relação entre pais e filhos onde reina a negligência e bajulação, em vez do afeto e atenção. É o que depreendo desse drama shakespeariano.
         
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