sexta-feira, 25 de maio de 2018



CONTO

                         
                 TEMPO DE FESTA 

                 DO SANTO CASAMENTEIRO








Uma semana antes do casamento, após fazer os últimos arranjos na mobília da casa onde ia morar, a tia falou para a menina, que dela se aproximou:
  
-  Eu preciso estar só!

Palavras meio enigmáticas, e um motivo forte devia haver para serem ditas por uma pessoa tão afeita à comunicação. Maira deixaria para depois a novidade, que ia participar da quadrilha na festa de Santo Antônio do colégio. E ficou intrigada com a noiva, que ela não estivesse feliz da vida. A tia sempre controlada,  e parecia que algo lhe havia "fugido do controle". Se não era a mãe, nem a avó, era a tia que falava: “Não faz o menor sentido deixar as coisas correrem soltas”. A menina repensava na aflição da tia: O que lhe “escapara das rédeas”?

O dia todo a tia Ilza ficou voltada para seu mundo interior. A menina  elucubrando “os motivos mais absurdos”, mas ficou calada, nem sempre sua imaginação era premiada com elogios. No dia seguinte, assim como nos demais,  nada de diferente aconteceu na família, e a menina, felizmente “esquecida que só ela”, tratou de seguir a vida e não mais pensou naquele “assunto de adulto”, e criança tinha que respeitar, “para seu próprio bem”.  
         
       Aproximava-se o dia do casamento, que "já devia ter acontecido", alguém comentou, mas a explicação é que “só agora o noivo teve condições de arcar com as responsabilidades de mulher e filhos”, o que Maira escutou da outra tia e madrinha Sofia. As provas do meio de ano já estavam “em cima”, conclusão do ensino primário, e que fosse com louvor, para assim gabaritada, “seguir em frente, que atrás vinha gente”. Ainda bem que, para aliviar a tensão, chegavam as festas juninas do colégio e o casamento da tia.

No dia das bodas o choro da noiva fez Maira pensar se havia alguma ligação com aquela tarde em que ela chegou em casa pedindo que a deixassem só. A explicação que lhe deram é que a tia chorava porque o anel ficara largo no seu dedo. Em confiança a tia Ilza esteve só com o noivo, que a teria estuprada, boa peça ele não era, e os abusos fizeram com que acontecesse um metoo  entre parentes e conhecidos. Casamento realizado, com algumas santas palavras proferidas pelo pelo padre Policarpo, focadas na procriação. Momento especial a união matrimonial,  e sobre o amor a psicologia moderna diz  ser "uma emoção positiva de sintonia biológica e comportamental - positividade vigorosa entre duas pessoas que se amplifica como uma sinfonia". Mas não estavam os noivos no sofá de um analista, como deviam, nem na sala de concertos, e sim frente ao altar, erguido na casa dos pais da noiva. 

              Fora o incidente, anterior às bodas, tudo o mais foi como de praxe, até a recém-casada ser carregada pelo marido para entrar na nova casa. "Porque a tia Ilza está sendo carregada, ela não podia subir os degraus do sua nova residência com próprios pés?" A madrinha ralhou com Maira: 

                 - Fica quieta, menina!...



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