terça-feira, 5 de março de 2019


CONTO



            IDADES ÍMPARES E MÁGICAS
      



     Ela ia completar 18 anos por aqueles dias, a tarde chuvosa, na casa um silêncio assustador sem a mãe que saíra para buscar uma encomenda na costureira. Maria foi conversar com a empregada, e depois de afagar o gato, arrisco que só ele, entrou na sala. Esperou alguns minutos antes de abordar a tia, que estava sentada em frente à janela absorta em sua leitura. Falou como se fosse mestra no assunto:
    
       — Até os 7 anos é a infância, aos 13 anos começa o período da pré-adolescência, e já aos 17 estamos em plena juventude, três idades impares e mágicas, que marcam profundamente minha vida, e acho que a vida de quase todo mundo, e não tardo entrar nos 21, outro número ímpar, também mágico, sendo dever que a mulher se case para constituir uma família. É ou não é, minha tia, o que a senhora tem a dizer sobre isso?
     
       — Fui pega de surpresa com tua colocação, mas é certo, as idades que apontaste são realmente um marco na vida de cada pessoa, difícil  delimitar com segurança a juventude, que pode se estender até depois dos 30 anos, e tem gente que não sai da infância. Conheço quem envelheceu  mantendo a cabeça jovem, o que pode ser bom, ou simplesmente não levar a nada, a vida tem tempo e espaço para acontecer, temos que obedecer a cronologia.  
       
        A sobrinha de dona Maura verificou  ser um livro policial que a tia lia, indagou sobre o texto e a autora:        
       
        — Não tenho atração pelo gênero policial, que acabo de ganhar de uma amiga, e enche-me de curiosidade pela autora, a inglesa Agatha Christie, e em sua autobiografia soube que ela começou a escrever incentivada pela mãe, durante a convalescênça de uma doença. Como enfermeira na 2º Guerra passou a escrever nas horas vagas de seu trabalho como enfermeira, trabalhando na fabricação  de remédios, manipulava produtos venenosos, se não fossem bem pesados e utilizados adequadamente. E foi a causa da morte de alguns dos seus personagens, por envenenamento.
       
       — Gosto também de biografias, certos escritores são tão intrigantes quanto seus livros. Mentes comuns, ou mais que isso, de repente começam a escrever e não param mais, às vezes se saindo bem na empreitada no sentido do sucesso, que o prazer é certo. Mas a coisa não acontece por acaso, há um tempo de hibernação. Quero ser escritora, mas já sonhei em ser pianista e bailarina. Sei que precisa ter talento, com o qual a pessoa nasce, e ainda ter vocação, que se adquire com o tempo. No meu caso, estou para descobrir no que vou me sair melhor. Talvez me realize simplesmente como mãe, o que a tia acha?

       — Acredito que podes ser o que quiseres, talento nessa família não falta, só precisa haver determinação para realizar algo mais que viver o dia a dia, sem maiores perspectivas de sucesso profissional e social. Como diz o poeta “tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Como mulher, se queres ter sucesso profissional vai atrás, para não te sentires frustrada. Mas se é tua vocação, se tens a amorosidade para simplesmente cuidar da casa, dos filhos, a família só tem a agradecer.  Sem que esqueças que a sociedade precisa de talentos em todas as áreas. 

       A casa começou a se encher de gente, tia e sobrinha foram ao encontro dos demais familiares, certas de que ganharam muito com a conversa que tiveram. 
         
         A chuva havia passado e o sol entrava pela janela.  

         
       
  
         

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