terça-feira, 26 de março de 2019





CONTO
                   

                            TEMPO, TEMPO, TEMPO!



       

É preciso falar de amor, da felicidade que proporciona, desses amores que fazem o coração transbordar de alegria, que enche a alma de satisfação. Há cobranças nesse sentindo, assunto que Edelvais  estava tendo a ideia de abordar em seu próximo texto, foi então que pensou na sobrinha Clotilde, universitária de psicologia, que chegou logo a seguir, atraída pela força do pensamento da tia. Apreciavam trocar ideias uma com a outra. Nesse dia o diálogo foi o que segue:
       
— Tia Edelvais, como a senhora costuma fazer, estive pensando na sedutora Eva que se deixou levar pela conversa da serpente e levou Adão à desobediência, o casal acabando expulso do Paraíso. Virgem Maria, a nova Eva, recebeu de José compreensão para seu estado de gravidez. Situações que se equiparam, não é mesmo tia? Dizem respeito ao exercício do amor e também da fé mística. E eis que a modernidade faz surgir uma nova mulher, na realidade, anterior às crenças, fera na tocaia para avançar na presa.
      
Era a deixa para uma troca de ideias, que a tia não se fez de rogada:
     
— Um segredo, o amor vem de Deus e Ele nos fala: “Estou aqui”. Tudo no universo diz algo, e ainda mais, fala de amor. A vida é amor. Movimentos e encantamentos da natureza para serem depurados com o amor pelo ser humano. Ora é dia, ora é noite, e tem a chuva que cai para molhar o chão ressecado e refresca a tarde quente. Tem as nuvens no céu azul anil e tem o sol em seu esplendor de luz até que se ponha, dando lugar ao espetáculo das estrelas, e por aí vai. 
      
— Sim, tia Edelvais, se estamos aqui temos que aproveitar, mesmo sem entender as razões, e tudo que existe tem uma razão de ser, não é diferente do amor que sentimos. Como disse o sábio Pascal e virou lema, o coração tem razões que a própria razão desconhece. O amor move o mundo, também o ódio, que é seu oposto. A natureza parece indiferente, ou condescendente, ao ser racional envolvendo esse pródigo planeta, de nome Terra, que usa e abusa da hospitalidade. Mas pode acontecer uma radical reação aos abusos.
      
— Clotilde, é como se tivéssemos um rico armazém abarrotado de produtos para serem por nós consumidos, a todo momento sendo o estoque reposto, para manter o nível ideal, e nunca nos faltar nada. Mas que não falte amor nos corações humanos, às vezes tão desumano. Nunca se esgote o amor, a fé. Seja eterno o nosso tempo, tempo, tempo de amar. Até mesmo se estique o tempo, que sempre dá tempo de ser feliz.  
       
A tia Edelvais tinha acabado de falar, quando a sobrinha recebeu um telefonema do marido avisando que ia sair mais cedo do trabalho e vinha apanhá-la para pegarem um “cineminha”. Era um filme de amor como ela gostava, só que ele não lembrava o nome. Clotilde resolveu aproveitar para dar um aviso carinhoso àquele homem especial:
      
— Querido, não percamos tempo!


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