terça-feira, 12 de março de 2019






                               ESCREVER E COZINHAR

               
A escritora Agatha Christie na cozinha



        O que é bom tem que satisfazer os sentidos e alegrar a alma, e diz respeito às escolhas que se faz. Entenda-se que não se pode tudo, e se considere o talento e a vocação que a pessoa tenha para exercer uma atividade. Por exemplo, dedicar-se a escrever, ou cozinhar, ou as duas coisas juntas, o prazer de alternar ora uma, ora outra , o meu caso. Em princípio, para a satisfação pessoal. Mas o certo é que o artista visa atingir um alvo, que é o consumidor do produto.

                 Na cozinha o desejo é que o prato do salgado seja degustado com satisfação, e o doce  atinja o ponto certo, para ser saboreado com prazer, os fregueses agradecidos. Ao escrever que o frescor das ideias seja o mais importante, o cérebro com maturação necessária para agregar valor ao produto, que vai ser consumido, seja por muita gente, ou apenas um único leitor, a própria pessoa. Não falte criatividade, e para tudo haja tempo, até mesmo que se dê tempo ao tempo. A pressa, como se sabe, é inimiga da perfeição. 

               Ao preparar um prato a intenção, em primeiro lugar, é saciar a fome de quem vai comer a iguaria,  mesmo um simples picadinho, mas que seja saboroso. Às vezes não era bem assim que a cozinheira imaginou fazer, ou a escritora quis dizer. Pior quando entendem tudo errado, cada cabeça é uma sentença. As palavras às vezes enganam. O texto foi pulicado, ou o prato já está na mesa, se o alvo não foi atingido, só resta apelar para a virtude da paciência. O freguês tem sempre razão, não pode ser diferente. 

            Há um gosto de vitória quando a intenção e o esforço empregados tem a devida correspondência ao que foi realizado, o que nem sempre acontece. Com tudo na vida. Expressar-se guarda em seu bojo um grande perigo, mexer com o gosto dos outros. Não raras vezes o escritor refaz a frase, concerta o texto, o mesmo acontece com o pintor que mistura as tintas com maestria em busca da perfeição. Criando, mas sobretudo aprendendo, é como a vida se aprimora. As dores fazem parte do aprendizado.   




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