quinta-feira, 9 de maio de 2019






FELIZ DIA DAS MÃES!


conto
         
          
              
       BOLO DE NATA






Ela lembra bem quando casou, ainda bem jovem, não tão jovem como se casa hoje, ou seja, se inicia a vida sexual, sem a exigência do casamento. Não sabia de nada, nem cozinhar o básico. Não tardou a aprender, inclusive economizar, que não significava poupar dinheiro para render no banco, e sim para o casal viver com os recursos que possuía. A mulher não trabalhava  e o marido de Maria, bancário, bem diferente de banqueiro.

Nem sonhava Maria com a bolada de dinheiro da mega-sena acumulada, aposta que ainda não existia. Acalentava outros e melhores sonhos, enquanto fazia seu bolo de nata.  Com paciência e determinação ela colhia a nata do leite que consumiam em casa diariamente, o suficiente fazia um bolo doce e gostoso para a família. Pela nata é que se sabia a qualidade do leite. Os sonhos também colhidos como a nata, e reservados no coração, que os resultassem em bom alimento para satisfazer o apetite e digno de admiração.

Maria já tinha noção de como fazer um bolo, que via a mãe confeitar com arte os gostosos bolos que a avó fazia. A nata (ou a manteiga), o açúcar, a farinha, acrescidos do fermento para fazer crescer a massa, ingredientes misturados com a colher de pau, por mãos divinas, que faziam tão leves e gostosos bolos. Produção caseira, hoje uma raridade, os bolos e doces industrializados, que deliciam uma gente que não sabe mais fazer bolo, nem precisa  colher a nata. Todas as delícias diante dos olhos, pronto para o consumo.

Sedutores doces em grande quantidade enfeitam as prateleiras das confeitarias, muitos deles de sabor duvidoso, de bonita aparência, ou nem isso. Simplesmente fazem as pessoas serem consumidoras compulsivas. Um dos grandes males da humanidade é a compulsão. Acabamos sem apreciar o gosto que as boas coisas da vida têm. Criam-se novas receitas para seduzir e viciar, enquanto padece o coração da falta que o ideal e o inefável fazem. Os costumes moldados na pressa do aqui agora, que rouba  um  bom  tempo  de sonhar.

Hoje, contestam-se a nobreza e a excelência do ser humano, sua doçura e altruísmo sob suspeita. Não seríamos nada mais  que  criaturas  sôfregas por forrar o estômago e satisfazer os instintos elementares. Nada mais que bárbaros, que criam mecanismos para sair da barbárie, embora cada vez mais se afoguem nela, tudo justificado pela lei e pelos costumes. A  estrutura social não mais moldada pela filosofia e pela religião, cujos preceitos  buscam o ideal de vida para o homem  e para a civilização.

A batalha continua, que a massa está sendo mexida, e se não for usado o fermento do bom pensamento filosófico e da fé religiosa o bolo vai solar.     

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