sexta-feira, 17 de maio de 2019






MINICONTO          

             
 CONVERSA NO CAFEZINHO








Avó e neta estavam no shopping tomando um cafezinho depois das compras, o que costumavam fazer no último sábado de cada mês. Conversavam sobre a chuva que ainda caia forte na cidade, época de já ter ido embora dando lugar à secura, típica de Brasília. Mudando de assunto a neta comentou sobre a falta de amor entre as pessoas.  A avó aproveitou para falar-lhe:

— Na geração passada jamais desejamos ser amados, como se deseja hoje em dia, as pessoas queriam mais ser respeitadas, que amadas. No fim contou-se com o devido respeito, e o amor não faltou. Quanto mais amor queremos, menos recebemos, essa a verdade. O desejo é muito grande hoje de amar e ser amado, talvez pela falta desse sentimento tão essencial à vida.

— Vó, parece que não mais existe amor entre as pessoas, muito menos respeito. Em certas ocasiões e lugares, até mesmo nas redes sociais, criado para as pessoas se comunicarem, mas a impressão que alguns querem dar é de ser um lugar onde se sabe mais da vida do outro que o titular. Um modo estranho de ser, mas é assim mesmo hoje em dia.  

             E a avó:

          — Sim, tem gente que parece não fazer outra coisa a não ser vasculhar a vida alheia, sente orgulho de saber tudo sobre todos e conhecer todo mundo, chega a ser ridículo, quando não maldade mesmo. Desacatam, humilham, sem a mínima noção de respeito.

Depois dessas palavras a neta de dona Marta lembrou de algum tempo atrás, quando era presença obrigatória em todos os lugares badalados, sempre querendo estar rodeada de gente, agora o que mais queria era ficar quieta no seu canto. Tinha acabado um longo relacionamento, sem casamento oficial, e descobriu que amava estar consigo mesma. A avó, sua confidente, retrucou:

— Não é bom se esconder, nem querer aparecer demais, um segredo para se viver melhor, e evitar ansiedade, um mal destes novos tempos.

— Não estou fugindo do amor, nem estou ansiosa para amar, vou deixar acontecer no devido tempo e com a pessoa certa. Tive um bom relacionamento com Filipe e espero que o amor aconteça novamente, darei tempo ao tempo, que ele é um mestre.

— Acredite, minha querida Luana, a vida retribui o amor aos que amam, e percebo o quanto é dura as lições que dá aos que não sabem amar. Amar não é passatempo, é coisa séria.

Terminado a conversa no cafezinho, neta e avó despedira-se, com afetuoso abraço. Haviam cumprido uma missão de amor.


  

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