quinta-feira, 4 de julho de 2019


MINICONTO



   MELHOR TÊ-LOS, OU NÃO?


       




As três amigas eram vistas sempre juntas, desde o tempo em que estudaram para o concurso, passaram nos primeiros lugares, e sempre marcavam encontros para conversarem. Tinham orgulho do trabalho conquistado numa acirrada disputa, que só aumentou daí para frente, o que elas sempre comentam, pela dificuldade dos filhos ingressarem no mercado de trabalho, em especial, no tão cobiçado serviço público. A política sempre dá o que falar, no momento é a Reforma da Previdência que tramita no Congresso em regime de urgência, mas que sozinha não vai resolver o problema econômico e social do país, já comentaram sobre o assunto. Mas, nesta segunda, depois do feriado da Páscoa, vão falar sobre ter ou não filhos. Maria lança uma pergunta no ar, extraída da revista daquela semana: 

       -“É viável ter filhos?” 

             Depois de um breve silêncio, Enira se manifesta: 

            -Os moços de hoje evitam ter filhos, a alegação são os problemas atuais que os cercam, a devastação do meio ambiente, como tudo o mais que pode afetar de forma dramática a humanidade doravante. A população mundial em meados do século pode chegar aos dez bilhões. E em qual estado de educação e cultura? Diante da resposta desfavorável, boa parte da geração atual - apta para a procriação - perderam a vontade de ter filhos. Não que aconteça em escala mundial. 

          Católica praticante, Madalena, aproveita para argumentar a favor da geração de filhos, para ela, quanto mais melhor: 

               -Famílias sem filhos? Inconcebível, para as pessoas que têm fé em Deus e acredita no ser humano detentor da centelha divina. Um erro contra a natureza fazer sexo apenas por prazer. É o que respondo quando me chegam com a dúvida se é justo procriar nesse nosso mundo, que vai de ruim a pior. Bem verdade que os problemas se avolumam, mas compete aos cristãos não desistirem de lutar para o bem da humanidade, com sua fé, sua cultura.

                Maria é defensora da natureza, trata de tomar posição sempre que tem oportunidade: 

                 -Falta respeito para com a natureza, fonte de vida. O ser humano, que depende tanto dessa matriz, não respeita nem sua própria vida, que tentam rebaixar. Daí que é preciso, mesmo, ter coragem para pôr filhos no mundo.

-Ou seria covardia não querer enfrentar esse estado ruim de coisas? 

Enira está revoltada, respira forte, devido à asma, e prossegue:

-Seguir os ditames da natureza e o que manda  a fé, ou seja, procriar, mesmo sabendo de antemão que os filhos vão se defrontar com tanta coisa ruim, que há por aí? É muito sério o descaso para com a vida e seus valores. Melhor não arriscar.

          Nem elas iam arriscar mais tempo na rua, a escuridão fazendo sumir a vermelhidão com que o pôr do sol anuncia a noite em Brasília. 

O debate não teria fim - mas era a hora das mulheres voltarem para casa, antes que ficasse tarde. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário